O drama de um touro 'paz e amor' Longa-metragem de animação em cartaz nos cinemas narra a história de um animal manso que é levado por engano para participar de touradas

BRENO PESSOA
breno.pessoa@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 11/01/2018 03:00

O touro Ferdinando, animação em cartaz nos cinemas a partir de hoje, pode soar um título familiar para muita gente. Não é por acaso: o filme, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha, é uma adaptação cinematográfica do livro de mesmo nome escrito por Munro Leaf e ilustrado por Robert Lawson, ambos norte-americanos, publicado em 1938.

Tal como no livro infantil, recentemente republicado no Brasil (Intrínseca, 72 páginas, R$ 39,90), a história do desenho animado se concentra em um touro bastante manso que gosta de passar o tempo apreciando a paisagem ao redor e admirando o perfume das flores. Lançada à época da guerra civil espanhola, a publicação foi proibida de circular no país, assim como na Alemanha de Hitler, por conta do subtexto pacifista da história, evidenciado quando Ferdinando se recusa a participar de uma tourada.

Desde pequeno criado livre no ambiente de uma fazenda na Espanha, o touro escapa do local na tentativa de estar perto de seus tutores durante um festival na cidade. A presença do bicho assusta os transeuntes e provoca uma confusão, que acaba resultando na apreensão do animal. Levado a um criadouro destinado a preparar touros para touradas, Ferdinando é colocado em um ambiente opressivo, bem diferente do seu lar.

Os demais touros do local encaram o treinamento para as touradas como a única forma possível de sobrevivência: os animais que não demonstram agressividade o bastante são destinados ao abate. Também acreditam ser possível vencer os toureiros e, finalmente, terem uma vida de glória. Individualistas e competitivos, os bichos do criadouro tentam convencer Ferdinando a mudar de ideia e assumir uma postura mais violenta.

Responsável por A era do gelo 2 (2006), A era do gelo 3 (2009) e as duas animações da franquia Rio (2011 e 2014), além de Robôs (2005), Saldanha conduz com segurança O touro Ferdinando e transita bem entre o humor ingênuo do personagem principal e os momentos que exigem maior delicadeza. Se no livro a questão do pacifismo era mais evidente dado o contexto da época, a animação perpassa outro tópico bastante atual, a exploração de animais.

Segundo estimativas de entidades de defesa dos direitos dos animais, mais de 200 mil touros são mortos, por ano, em touradas e outros eventos. Já proibida em algumas cidades da Espanha, a prática segue sendo realizada e defendida por alguns setores como manifestação cultural. De forma sutil, o filme assinala que o destino final de um animal que vai para a tourada é tão trágico quanto os do que vão para o abate.

No entanto, em alguns momentos fica a sensação de que esse drama é a suavizado ou encurtado para evitar que o filme saia demais do tom predominantemente ameno. Não são transições abruptas a partir de piadas, ou algo do tipo, apenas seria bem-vindo algum aprofundamento. De qualquer forma, é um personagem cativante e uma mensagem sem dúvida valiosa.