Competência portuguesa, com certeza Presença de atores e atrizes lusitanos na teledramaturgia brasileira é algo cada vez mais recorrente, tanto pela aceitação do público quanto pela grande popularidade dessas produções no país europeu

Fernanda Guerra
fernanda.guerra@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 17/02/2018 03:00

Há pouco mais de 40 anos, Gabriela, cravo e canela (Globo - 1977) foi a primeira novela brasileira exibida em Portugal. Desde então, os folhetins nacionais se tornaram referência entre os portugueses, e a teledramaturgia do país é encarada como um objetivo para talentos da terra lusitana que visam uma carreira internacional. O intercâmbio dramatúrgico entre os dois países está cada vez mais recorrente, já que o formato de telenovelas é um elemento em comum entre eles. Novelas globais que estão no ar contam com a presença de artistas do país europeu, como José Fidalgo e Ricardo Pereira, em Deus salve o rei, e Pedro Carvalho, em O outro lado do paraíso.

Estreante na televisão brasileira, Fidalgo, de 38 anos, atrai as atenções do público e da mídia. Primeiro, ele participa de uma produção ousada. A trama, escrita por Daniel Adjafre e dirigida por Fabrício Mamberti, é a primeira novela medieval da emissora, que tem seriados internacionais como claras referências e a maior equipe de computação gráfica de um produto da empresa. Além disso, ele atua como o vilão Constantino e é par romântico da personagem de Bruna Marquezine, também antagonista da produção. “Aqui você está trabalhando para um produto que será visto por um contingente maior de pessoas. Em Portugal, a gente trabalha para um universo de 1 milhão. Por isso, trabalhar nesta estrutura é um privilégio”, comenta Fidalgo, em entrevista ao Viver.

Além de incorporar personagens portugueses, os estrangeiros encaram o desafio de encenar papéis de brasileiros. A adequação do sotaque exige dedicação, mas a intimidade com o idioma facilita o processo. “Eu tenho uma professora de fonética. A grande batalha tem sido com ela. Nós, portugueses, estamos habituados há anos, já que consumimos muito produtos brasileiros”, explica o ator. Ele afirma que atuar em uma novela brasileira é um sonho e um grande passo para investir na carreira internacional. “Constantino é vilão, mas é um cara íntegro no que diz respeito à honra da luta. Se esse cara tiver que morrer, ele morre de frente, morre de pé”, comenta. O artista também celebra a boa parceria com Bruna, uma das principais atrizes da atual geração. “Eu a conheci agora. Ela é uma atriz com imenso talento e está muito disponível para que essa novela seja um sucesso”, complementa o ator.

Diferentemente de Fidalgo, o colega de elenco Ricardo Pereira, de 38, já é conhecido do público brasileiro. Ele é um dos poucos que conseguiram consolidar a carreira como ator no Brasil. A estreia na TV brasileira foi na novela Como uma onda (2004), como o protagonista Daniel Cascaes. Além de produções globais, o português participou de produções de emissoras concorrentes, como Prova de amor (2005), da Record, e Floribella (2007), da Band.

No país, Pereira cravou um espaço na história da teledramaturgia brasileira na novela Liberdade, liberdade: atuou na primeira cena de sexo entre dois homens ao lado do ator Caio Blat. Para ele, a produção simboliza uma “luta contra a intolerância”. Em Deus salve o rei, o lisboeta interpreta o personagem Virgílio, comerciante de tecidos e namorado de Amália (Marina Ruy Barbosa), plebeia que se apaixona por Afonso (Romulo Estrela).

Aos 32 anos, Pedro Carvalho encara a segunda novela brasileira da carreira. Ele interpreta Amaro em O outro lado do paraíso. Na trama de Walcyr Carrasco, o personagem se envolve em um triângulo amoroso com Estela (Juliana Caldas) e Juvenal (Anderson Di Rizzi). “Amaro mostra que o amor não escolhe idade, sexo, cor, altura... Amamos com o coração, com a alma e eu penso e sinto assim”, conta o ator, ao site oficial da emissora, Gshow. A estreia na dramaturgia brasileira foi como protagonista de Escrava mãe, da Record, trama cujos acontecimentos antecedem a história de Escrava Isaura.

Em mais de cinco décadas de teledramaturgia, a presença de atores lusitanos em produções brasileiras está longe de ser fato novo. Tony Correia iniciou a carreira de ator no Brasil, logo alçado ao título de galã português na década de 1970, quando atuou em O casarão (1976) e Locomotivas (1977). Ao longo de 15 anos, morou em Paris e ficou afastado da televisão desde então. Voltou ao Brasil e retomou a carreira como ator nos anos 2000, em tramas como Celebridade (2003), reprisada no Vale a pena ver de novo, e Belíssima (2005). Recentemente, ele também atuou na novela Novo mundo e está escalado para o elenco da próxima das 18h, Orgulho e paixão.

Brasileiros em Portugal
O Brasil também exporta talentos. Em dezembro do ano passado, Thiago Rodrigues (Páginas da vida, Malhação) anunciou o desligamento com a Globo, após 15 anos e a mudança para Portugal, onde deve continuar com a carreira. Ele segue o mesmo caminho de atores como Silvia Pfeifer, Joana Balaguer e Miguel Thiré. O brasileiro Bruno Cabrerizo, atualmente em Tempo de amar, também se projetou em Portugal.

Pra ficar de olho

Paulo Rocha

Assim como Ricardo Pereira, Paulo Rocha, de 40 anos, também conseguiu consolidar a carreira como ator no país. Ao longo de seis anos no Brasil, atuou em produções como Fina estampa (2011), Guerra dos sexos (2012), Império (2015) e Totalmente demais (2016), além de Novo mundo. Fora da TV aberta, ele também participou da série Os homens são de Marte e é pra lá que eu vou (GNT), estrelada por Mônica Martelli. Ele deve integrar o elenco da minissérie Se eu fechar os olhos agora.

Giullia Buscacio

Aos 20 anos, a atriz Giullia Buscacio tem se consolidado na teledramaturgia brasileira. Na trajetória no país, ela já atuou em novelas como Balacobaco (2012), I love Paraisopólis (2015), Velho Chico (2016) e Novo mundo (2016). Embora tenha nascido em Portugal, ela viveu pouco tempo no país. Filha do ex-atacante Julinho, ela morou na Coreia do Sul, e só depois fixou residência no Brasil. A trajetória na televisão começou na Record, na série A lei do crime.

Intercâmbio

Novo mundo (2016)

Estrelada por Caio Castro, Letícia Colin, Isabelle Drummond e Chay Suede, a novela de Vinicius Coimbra narrava acontecimentos baseados em fatos reais ou ficcionais que antecederam a separação do Brasil e Portugal. Além de Tony Correia, o elenco contou com outros portugueses, como Ricardo Pereira, Maria João Bastos, Giullia Buscacio, Paulo Rocha e Joana Solnado.

Ouro verde (2017)

Exibida entre janeiro e outubro do ano passado, a novela portuguesa Ouro verde contou com Silvia Pfeifer entre os protagonistas. A trama era estrelada pelo lisboeta Diogo Morgado (A Bíblia), na pele de um empresário brasileiro. Zezé Motta, Gracindo Júnior, Adriano Toloza, Bruno Cabrerizo e Úrsula Corona entre os talentos brasileiros.