FILME » Sentimentos perturbadores

BRENO PESSOA
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Publicação: 26/04/2018 03:00

Medo e paranoia são temas recorrentes apenas na filmografia de Lúcia Murat: os sentimentos fizeram parte da trajetória da cineasta, que foi presa e torturada durante a ditadura militar no Brasil. Inevitavelmente associadas à diretora, as questões estão presentes também em seu nome filme, Praça Paris, em exibição a partir de hoje nas salas do Cinemas da Fundação, no Derby e em Casa Forte. O título conquistou os prêmios de Melhor Atriz (Grace Passô) e Melhor Direção no Festival do Rio de 2017 e recebeu o Prêmio Dom Quixote de Melhor Filme no Festival de Havana.

A realizadora se diz em busca de um entendimento sobre as raízes da violência no outro. “A humanidade está no humano, mas a perversidade também”, diz Murat. Em Praça Paris, a temática ganha outra camada a ser explorada, o racismo. A história, escrita em parceria com o romancista Raphael Montes (Dias perfeitos), é focada na relação entre Glória (Grace Passô) e sua psicanalista Camila (Joana de Verona).

Ascensorista na UERJ, Glória é atendida em um programa oferecido pela instituição. Violentada pelo pai na infância e com a vida bastante cerceada pelo irmão, Jonas (Alex Brasil), uma liderança do morro, ela ainda enfrenta, rotineiramente, os inúmeros conflitos entre policiais e traficantes. As sessões acabam por provocar na psicóloga uma série de inquietações, temores e até reações preconceituosas.

A premissa do filme veio de um caso similar ouvido pela diretora mais de uma década atrás. “Eu disse que daria um super thriller”, recorda, dizendo que retomou a ideia após os sinais de fracasso das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) cariocas.

Tensa, a relação entre paciente e terapeuta é pontuada por diálogos muitas vezes desconfortáveis, que ajudam a construir uma atmosfera inquietante. O uso de registros reais de violência e as locações reforçam o senso de realismo.