ENTREVISTA » 'Acredito em como o humor é revolucionário' Denise Fraga // Atriz

Publicação: 23/05/2018 09:00

Por que fazer teatro?
O teatro é uma grande tribuna para você dizer o que quer através de um autor. O grande barato de fazer é me apropriar das palavras de um autor para dizer o que quero. Foi assim com todas. Essa vontade de dar voz a pessoas. Através da reação da plateia, ouço aquele murmúrio, eles dizem: ‘Obrigada por dar palavras aquilo que sinto e não sei dizer’. Estamos cada vez lendo menos. Com essas ‘porrinhas’ de celulares na mão, lemos pequenas frases o dia inteiro. Isso faz com que o teatro fique ainda mais precioso. Ele prende a atenção das pessoas por duas horas e percebemos que estamos todos vivos.

Considera o humor um gatilho para a reflexão de assuntos delicados?

Dürrenmatt diz que comédia é a expressão do desespero. Acredito nisso, sim, e em como o humor é revolucionário. Faz com que você se enxergue de fora. Ele cria potência na comunicação e garante que a mensagem está sendo assimilada. Ninguém ri daquilo que não entende. Ele requisita inteligência.Tenho visto isso acontecer com essas peças que divertem e levam a pensar. Gosto daquela risada “pior que é”, ela é seca e dá uma morrida no final quando a gente age e reconhece ser daquele jeito.

A história trata de assuntos comuns aos dias de hoje e provoca diversas reflexões. O que mais te tocou no texto?

O real incômodo é que nem tudo pode ser justificado pelo dinheiro. Foi um movimento meu, me angustia muito justificar tudo por dinheiro. Em nome do nosso emprego, do nosso chefe, temos que pagar o leite das crianças e alguma concessão vamos fazer. A pessoa acha que não pode deixar de aceitar a promoção, muitas vezes acho que é importante saber que ganhar menos é ganhar mais. Saber disso para entrar em contato consigo mesmo, olhar no espelho e se reconhecer.

Esse ‘deixar de ganhar’ foi algo que ocorreu com você, que abriu mão dos projetos na TV para fazer teatro?
Adoro fazer televisão. Tenho feito teatro há alguns anos e nos últimos convites já estava comprometida com a turnê. Somos 19 pessoas viajando. Se uma cidade não der certo pode ser um tiro n’água. Tivemos patrocínio, pois sem isso ninguém conseguiria fazer, mas não cobre todo o custo. Tem que topar ganhar menos. Somos elenco de 13 atores, ganho menos, mas ganho tantas outras riquezas. E fico muito feliz assim. Tenho uma história muito bonita na TV e a felicidade de fazer projetos pessoais como Retrato Falado, A mulher do prefeito, O Auto da Compadecida. Esse é meu comprometimento com o que estou vivendo e é muito importante para mim. Me comprometo em ser instrumento de comunicação.

Hoje em dia os artistas precisam ser engajados?

Eu acredito nas revoluções individuais e nas revoluções diárias. Eu acho que todo médico, jornalista ou advogado precisa. Ser engajado é estar preocupado com o coletivo. Sou humanista, não sou de esquerda ou de direita. Quero um mundo melhor e não me coloque rótulos para não minimizar meu discurso.