Com uma ajudazinha dos amigos
Único Beatle que ainda não era biografado, Ringo Starr ganha livro não autorizado sobre sua trajetória antes e depois de ser um dos fab four
BRENO PESSOA
breno.pessoa@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 25/09/2018 03:00
Um dos mais conhecidos músicos do mundo é também, não raro, um dos mais negligenciados e, até mesmo, criticado. Ringo: a história do baterista mais famoso do mundo antes e depois dos Beatles (Planeta, 512 páginas, R$ 79,90), de Michael Seth Starr, corrige algumas injustiças a respeito do artista britânico, principalmente a inexistência, até pouco atrás, de uma biografia completa a respeito dele.
A despeito do sobrenome, o autor do livro não tem parentesco com o célebre baterista, cujo “Starr”, aliás, faz parte do nome artístico de Ringo, que nasceu Richard Starkey. Quando criança, o hoje colunista do New York Post Michael Starr, 56, gostava de dizer para os colegas de escola que era sobrinho do Beatle. É dessa época o contato inicial com a obra do quarteto de Liverpool. “Uma das minhas primeiras lembranças é ter visto o desenho animado dos Beatles, que foi ao ar aqui nos Estados Unidos por volta do fim dos anos 1960”, conta, em entrevista por e-mail.
“Também lembro que minha irmã mais velha tinha uma cópia de Abbey Road (penúltimo álbum lançado pela banda, em 1969) e ficava me perguntando quem era aquele tal de Richard Starkey, creditado como compositor de Octopus’s garden”, recorda, sobre uma das raras faixas da discografia da banda que não é de autoria da dupla Lennon/McCartney ou de Harrison. A única outra composição creditada ao baterista é Don’t pass me by (The Beatles, 1988). Além desta, ele é também coautor de What goes on (Rubber soul, 1965) e de Flying (Magical mystery tour, 1967).
Fora a discreta contribuição como letrista, alguns críticos questionam os talentos de Ringo como instrumentista, por vezes tido como simplista. Há até a piada, falsamente creditada a John Lennon, de que Ringo não era sequer o melhor baterista dos Beatles, em referência a Paul McCartney, que assumiu as baquetas em algumas faixas da banda, como Back in the USSR e Dear Prudence.
A respeito da polêmica sobre as supostas limitações de Ringo, o biógrafo convidou quatro grandes representantes da bateria no rock para comentarem a questão no epílogo do livro. Phil Collins, John Densmore (The Doors), Max Weinberg (da E Street Band, que acompanha Bruce Springsteen) e Kenny Aronoff (que já trabalhou com nomes como Johnny Cash e Ray Charles) mostram unanimidade ao reconhecer o talento do beatle.
“Cada baterista é único, e Ringo parecia ainda mais único por quem ele é. E ele também era um canhoto tocando como destro, e tinha umas viradas diferentes. É um artista. As batidas dele eram simples, mas muito exatas”, afirma Aronoff. Já para Weinberg, “a forma de Ringo tocar bateria era muito diferente. Antes dele, nunca tinha se ouvido uma bateria tão chamativa”.
Mais intuitivo do que virtuoso, Ringo aprendeu a tocar sozinho, tendo começado a se interessar pelo instrumento em 1954, aos 13 anos, durante o período que estava internado em um hospital pediátrico em decorrência de uma grave tuberculose. Como os pacientes perdiam anos escolares inteiros, a unidade oferecia algumas aulas para os pacientes, inclusive de música, o que despertou a paixão do jovem Richard.
Depois de receber alta do hospital onde ficou por dois anos internado, o adolescente chegou a montar uma bateria com latas de biscoito e, somente em 1957 que a situação mudou, quando ganhou de um amigo uma bateria completa de verdade. “Eu não conseguia tocar uma única nota na época”, o baterista chegou a declarar.
A obstinação, no entanto, rendeu bons frutos e, em alguns anos, era tido como o melhor baterista de Liverpool, o que rendeu o convite, em 1962, para se juntar aos Beatles. Ringo entrou no lugar de Pete Best, expulso do grupo por sugestão do produtor musical George Martin, que não o considerava bom o suficiente para as gravações em estúdio.
“Seu estilo de bateria se encaixou perfeitamente com McCartney, Lennon e Harrison para criar aquele som único dos Beatles”, defende o biógrafo de Ringo, acrescentando como fundamental também para a banda a personalidade amável e o senso de humor do baterista. “Isso realmente ajudou, particularmente quando as coisas ficaram feias pouco antes de os Beatles se separarem e imediatamente depois disso”, afirma. O “tal” Richard Starkey, a propósito, não respondeu qualquer tentativa de contato do autor, tornando o livro uma biografia não autorizada.
3 perguntas - Michael Starr // biógrafo
O que levou você a escrever sobre Ringo?
Eu sentia que, sendo um membro da banda mais famosa do planeta e o baterista mais famoso do mundo, ele foi largamente ignorado, sem ninguém contando a história de sua vida, desde o nascimento em Liverpool até os dias atuais. Existem muitos livros sobre Paul McCartney e John Lennon, e alguns sobre George Harrison, mas ninguém havia feito um exame profundo da biografia de Ringo.
Algum palpite sobre ter demorado tanto a sair uma biografia completa sobre ele?
Ainda me pergunto por que demorou tanto tempo. Ringo completou 75 anos quando meu livro foi publicado, em 2015. Ele diz ter recebido propostas vultosas para escrever sua própria história, mas que nunca teve interesse. Suponho que ninguém pensou que sua história de vida merecesse um livro completo. Obviamente, eu discordo.
Entre milhares de livros relacionados aos Beatles, quais são os novos fatos desta biografia?
Há depoimentos interessantes de pessoas que nunca haviam sido entrevistadas antes, incluindo o amigo de infância Davey Patterson, que conta algumas histórias sobre crescer com Richy Starkey em Liverpool e os amigos da Henry Hunt and Sons, marcenaria onde Ringo trabalhou depois de abandonar a escola. No que diz respeito à história dos Beatles como grupo, os fãs mais fervorosos não devem encontrar novidades, mas há muitas informações para pessoas que, talvez, não estejam familiarizadas com os detalhes da ascensão da banda e o papel fundamental que Ringo desempenhou nisso.
A despeito do sobrenome, o autor do livro não tem parentesco com o célebre baterista, cujo “Starr”, aliás, faz parte do nome artístico de Ringo, que nasceu Richard Starkey. Quando criança, o hoje colunista do New York Post Michael Starr, 56, gostava de dizer para os colegas de escola que era sobrinho do Beatle. É dessa época o contato inicial com a obra do quarteto de Liverpool. “Uma das minhas primeiras lembranças é ter visto o desenho animado dos Beatles, que foi ao ar aqui nos Estados Unidos por volta do fim dos anos 1960”, conta, em entrevista por e-mail.
“Também lembro que minha irmã mais velha tinha uma cópia de Abbey Road (penúltimo álbum lançado pela banda, em 1969) e ficava me perguntando quem era aquele tal de Richard Starkey, creditado como compositor de Octopus’s garden”, recorda, sobre uma das raras faixas da discografia da banda que não é de autoria da dupla Lennon/McCartney ou de Harrison. A única outra composição creditada ao baterista é Don’t pass me by (The Beatles, 1988). Além desta, ele é também coautor de What goes on (Rubber soul, 1965) e de Flying (Magical mystery tour, 1967).
Fora a discreta contribuição como letrista, alguns críticos questionam os talentos de Ringo como instrumentista, por vezes tido como simplista. Há até a piada, falsamente creditada a John Lennon, de que Ringo não era sequer o melhor baterista dos Beatles, em referência a Paul McCartney, que assumiu as baquetas em algumas faixas da banda, como Back in the USSR e Dear Prudence.
A respeito da polêmica sobre as supostas limitações de Ringo, o biógrafo convidou quatro grandes representantes da bateria no rock para comentarem a questão no epílogo do livro. Phil Collins, John Densmore (The Doors), Max Weinberg (da E Street Band, que acompanha Bruce Springsteen) e Kenny Aronoff (que já trabalhou com nomes como Johnny Cash e Ray Charles) mostram unanimidade ao reconhecer o talento do beatle.
“Cada baterista é único, e Ringo parecia ainda mais único por quem ele é. E ele também era um canhoto tocando como destro, e tinha umas viradas diferentes. É um artista. As batidas dele eram simples, mas muito exatas”, afirma Aronoff. Já para Weinberg, “a forma de Ringo tocar bateria era muito diferente. Antes dele, nunca tinha se ouvido uma bateria tão chamativa”.
Mais intuitivo do que virtuoso, Ringo aprendeu a tocar sozinho, tendo começado a se interessar pelo instrumento em 1954, aos 13 anos, durante o período que estava internado em um hospital pediátrico em decorrência de uma grave tuberculose. Como os pacientes perdiam anos escolares inteiros, a unidade oferecia algumas aulas para os pacientes, inclusive de música, o que despertou a paixão do jovem Richard.
Depois de receber alta do hospital onde ficou por dois anos internado, o adolescente chegou a montar uma bateria com latas de biscoito e, somente em 1957 que a situação mudou, quando ganhou de um amigo uma bateria completa de verdade. “Eu não conseguia tocar uma única nota na época”, o baterista chegou a declarar.
A obstinação, no entanto, rendeu bons frutos e, em alguns anos, era tido como o melhor baterista de Liverpool, o que rendeu o convite, em 1962, para se juntar aos Beatles. Ringo entrou no lugar de Pete Best, expulso do grupo por sugestão do produtor musical George Martin, que não o considerava bom o suficiente para as gravações em estúdio.
“Seu estilo de bateria se encaixou perfeitamente com McCartney, Lennon e Harrison para criar aquele som único dos Beatles”, defende o biógrafo de Ringo, acrescentando como fundamental também para a banda a personalidade amável e o senso de humor do baterista. “Isso realmente ajudou, particularmente quando as coisas ficaram feias pouco antes de os Beatles se separarem e imediatamente depois disso”, afirma. O “tal” Richard Starkey, a propósito, não respondeu qualquer tentativa de contato do autor, tornando o livro uma biografia não autorizada.
3 perguntas - Michael Starr // biógrafo
O que levou você a escrever sobre Ringo?
Eu sentia que, sendo um membro da banda mais famosa do planeta e o baterista mais famoso do mundo, ele foi largamente ignorado, sem ninguém contando a história de sua vida, desde o nascimento em Liverpool até os dias atuais. Existem muitos livros sobre Paul McCartney e John Lennon, e alguns sobre George Harrison, mas ninguém havia feito um exame profundo da biografia de Ringo.
Algum palpite sobre ter demorado tanto a sair uma biografia completa sobre ele?
Ainda me pergunto por que demorou tanto tempo. Ringo completou 75 anos quando meu livro foi publicado, em 2015. Ele diz ter recebido propostas vultosas para escrever sua própria história, mas que nunca teve interesse. Suponho que ninguém pensou que sua história de vida merecesse um livro completo. Obviamente, eu discordo.
Entre milhares de livros relacionados aos Beatles, quais são os novos fatos desta biografia?
Há depoimentos interessantes de pessoas que nunca haviam sido entrevistadas antes, incluindo o amigo de infância Davey Patterson, que conta algumas histórias sobre crescer com Richy Starkey em Liverpool e os amigos da Henry Hunt and Sons, marcenaria onde Ringo trabalhou depois de abandonar a escola. No que diz respeito à história dos Beatles como grupo, os fãs mais fervorosos não devem encontrar novidades, mas há muitas informações para pessoas que, talvez, não estejam familiarizadas com os detalhes da ascensão da banda e o papel fundamental que Ringo desempenhou nisso.