Buscas entram em nova fase Processo para localizar as 160 pessoas desaparecidas em Brumadinho será de forma mais mecanizada a partir de hoje. Já são 165 mortos

Publicação: 11/02/2019 03:00

Passadas pouco mais de duas semanas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, que já contabiliza 165 mortos, o perfil das buscas pelos desaparecidos começa a mudar, ficando mais dependente de máquinas pesadas para escavar em áreas muito profundas. Segundo o último balanço da Defesa Civil, divulgado ontem, 160 pessoas ainda estão desaparecidas. Mas agora encontrar corpos ou segmentos vai ficando mais difícil. O capitão do Corpo de Bombeiros de Minas Leonard de Castro Farah explica que os primeiros corpos a serem achados estavam mais na superfície, o que permitia encontrá-los visualmente, “mas agora é preciso escavar, tirar tudo o que tem embaixo e procurar”, diz.

A área da mancha inundada tem cerca de 3,96 km2 e 10 km lineares, mas alguns corpos foram achados além da mancha, no Rio Paraopeba. Segundo Farah, os trabalhos foram divididos em diversos quadrantes de 40 mil m2, o equivalente a quatro campos de futebol. E cada quadrante foi dividido por quatro, ou seja, as buscas de cada equipe se concentram de cada vez em uma área de um campo de futebol. “Na primeira fase, as buscas foram mais superficiais, de pessoas e corpos resgatados que estavam na superfície. A nova fase agora é de fazer escavação, levando em conta várias questões: onde será colocado o rejeito retirado, se  ele está fluidificado (com água) ou não. Se está, não dá para tirar com máquina”, diz o capitão.

A atuação das máquinas está concentrada no local onde ficava a usina intensiva de tratamento de minério (ITM), nos setores próximos ao refeitório e ao clube e nos remansos que se formaram com a passagem da onda de rejeitos. “Mas na área da comunidade Parque da Cachoeira ainda está com muita água no terreno, e no leito do rio de lama que foi criado. Por isso ainda não estamos entrando lá. Estamos drenando essa água para que fique mais fácil fazer buscar”, diz.

Um dos objetivos da nova fase é restabelecer os acessos da cidade, retirando a lama para a mineradora destiná-la a outro lugar. “Isso exige um plano de manejo de rejeito, que envolve várias etapas: fazemos a escavação, um militar confere o local para ver se não tem nenhum corpo ali, um caminhão basculante leva para outro lugar, espalha todo o rejeito, militares novamente conferem se não ficou nada ali, levam os cães para certificarem”

O trabalho, porém, está longe de ser todo mecanizado. “Quando encontramos alguma máquina sob a lama, por exemplo, é preciso parar. Porque se tem máquina, a chance de encontrar um corpo dentro é grande. Então deixamos de usar maquinário porque não queremos danificar um possível corpo.”

AUTORIZAÇÃO
Cerca de um mês antes da tragédia em Brumadinho, a Vale obteve autorização do governo de Minas Gerais para um projeto de expansão das minas do Complexo Paraopeba: a do Córrego do Feijão, onde ocorreu o rompimento, e de Jangada. O licenciamento aprovado em 11 de dezembro pela Secretaria do Meio Ambiente (Semad) previa uso de explosivos, retroescavadeiras para remoção mecânica de rejeitos e caminhões de grande porte para transportar materiais. O plano de obras, no entanto, contrariava recomendações de segurança do relatório da consultora Tüv Süd. A informação foi divulgada ontem pelo portal G1. Segundo a análise da companhia alemã, havia uma série de problemas no sistema de drenagens, que comprometeria a segurança. O laudo recomendou proibir explosões nas redondezas da mina, evitar o tráfego de veículos e equipamentos pesados e impedir a elevação do nível da água na estrutura.