Resistência no forró Celebrando 30 anos de carreira neste ano, o cantor e compositor Rogério Rangel se mantém fiel às raízes do pé de serra e resiste às tendências do mercado da música

Allan Lopes
allan.lopes@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 04/05/2023 03:00

Enquanto a influência do forró estilizado aumenta a cada ano, as tradições do São João perseveram. Com 30 anos na música, o cantor e compositor Rogério Rangel é um dos representantes mais longevos do forró pé de serra em Pernambuco. Ele confronta as tendências do mercado com a mesma identidade artística do início da carreira, inspirada na figura de Luiz Gonzaga e na cultura nordestina como um todo.

Rogério é nascido no Recife, onde embalou as noites de diversos bares e bailes ainda adolescente. Apaixonado pela música, cantou as próprias composições desde o início e, atualmente, acumula 30 anos de carreira. Vira Mundo foi o primeiro CD gravado, em 2002, em que construiu sua identidade artística com músicas autorais. O forrozeiro tem participação em álbuns de diversos artistas da MPB, como Maciel Melo, Petrúcio Amorim, Luiz Bandeira e Nádia Maia - além de já ter feito shows com Luiz Gonzaga, Alceu Valença e Elba Ramalho.

Em 2007, no álbum De Beira Mar ao Pé de Serra, o artista contou com colaborações de

Dominguinhos, Flávio José, Geraldinho Lins, Santanna e Petrúcio Amorim para explorar o lado cultural da música urbana e deixar sua marca no forró pé de serra. Respeito ao Januário foi lançado cinco anos depois em homenagem ao Gonzagão, uma referência para Rogério em muitas das suas composições que dialogam com o baião e o xote. “Acredito que é importante valorizar e preservar a cultura do Nordeste e do forró, e a música é uma das formas mais poderosas de fazer isso”, ressaltou ao Viver.

Durante a reclusão provocada pela pandemia, ele se dedicou ao seu último álbum autoral, ‘Tempo de Forró’, lançado em 2021. Como o título sugere, o eixo central do disco é o ciclo junino - na agenda de Rogério desde abril, quando fez a primeira apresentação baseada em Tempo de Forró.  “A expectativa (para o São João) está alta. Estamos trabalhando para levar muita alegria ao nosso público”, destaca. Ele tem shows previstos para Recife, Olinda, Igarassu, Jaboatão dos Guararapes e Caruaru - sem datas confirmadas.

Um dos remanescentes da ala tradicional do forró, ele aponta um suposto privilégio do mercado musical para a música contemporânea em detrimento das tradições do ritmo. “Aconteceram muitas mudanças no mercado nos últimos anos, e uma delas foi a chegada do forró estilizado que atualmente preenche a programação de vários eventos. A música, como tantas outras coisas, tem novidades. Acredito que há espaço para todos os estilos dentro desse gênero musical tão rico e diverso”.

Rogério foi um dos homenageados pela agremiação Homem da Meia-Noite, no Carnaval de 2020. Ele fez a abertura do Carnaval de Olinda e shows no Recife, Tamandaré e em outras cidades do estado durante o período carnavalesco. No São João, acumula passagens em diversas cidades de Pernambuco, além da capital, como Jaboatão, Camaragibe, Olinda, Caruaru, entre outras.

Ligado à cultura popular, o cantor falou da emoção de reviver a época junina.  “Cantar no São João é sempre uma emoção muito grande para mim. É uma época do ano muito especial, que representa a cultura e as tradições do Nordeste e do forró. E depois de um período tão difícil para todos nós, devido à pandemia, poder voltar a subir no palco e sentir a energia do público é algo que não tem preço”, afirma.

Rogério também enfatizou a representatividade da festa junina para a sua identidade enquanto cantor nordestino de forró. “Como artista do forró, o São João tem um significado ainda mais especial, porque é um momento em que podemos levar a nossa música para um público ainda mais amplo e celebrar juntos essa grande festa. Cada apresentação é uma emoção diferente, e as lembranças de cada uma delas ficam para sempre em minha memória”, disse.