Sinfonia de traumas e esperança
Pela primeira vez no Recife, orquestra canadense Payadora Tango Essemble resgata legado das vítimas do Holocausto em forma de música
Allan Lopes
allan.lopes@diariodepernambuco
Publicação: 24/10/2023 03:00
As dores e cicatrizes de mulheres sobreviventes do Holocausto foram convertidas em sinfonias que serão interpretadas hoje, na Academia Pernambucana de Letras (APL), a partir das 20h. Em concerto inédito no Recife, a orquestra canadense Payadora Tango Essemble, acompanhada da cantora lírica Lenka Lichtenberg, apresenta “Lágrimas Silenciosas - O último tango yiddish” - uma realização do Conselho Canadense de Artes, com apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico (Iphan) e da Federação Israelita de Pernambuco (Fipe). A apresentação tem entrada é gratuita.
“Lágrimas Silenciosas - O último tango yiddish” é inspirado em poemas, testemunhos e escritos de mulheres da Polônia que foram vítimas de violência sexual, esterilização forçada e experimentação humana durante o Holocausto. Algumas canções têm origem no projeto de poesia coletiva conduzido por Paula David, uma assistente social que trabalhava em um asilo no Canadá, onde auxiliou sobreviventes a enfrentar seus traumas por meio da poesia coletiva. Outras foram compostas por Molly Applebaum, que passou parte da sua adolescência enterrada numa pequena caixa de madeira em meio à guerra na Polônia.
“O trabalho da dra. David, assim como os testemunhos das vítimas desse terrível crime, revela que as pessoas continuam a sofrer de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) décadas após o fim dos conflitos. Queremos aumentar a conscientização para evitar que isso aconteça novamente”, aponta o jornalista, produtor da orquestra e narrador do espetáculo Daniel Rosenberg. Ele entrevistou sobreviventes do Holocausto e contribuiu na criação das músicas a partir dos relatos.
A primeira comunidade judaica organizada na história do Brasil se estabeleceu no Recife, durante o período da ocupação holandesa, entre 1630 e 1654. Além disso, a Sinagoga Kahal-Zur Israel, localizada na Rua do Bom Jesus, é considerada a mais antiga das Américas. “Recife acolheu refugiados judeus em um momento que poucos lugares no mundo o fizeram. Espero que todos possamos aprender com esse exemplo sobre a importância de acolher refugiados e aqueles que não têm um lugar seguro para ir”, diz o jornalista canadense.
O grupo é composto por virtuoses da música clássica com passagem nas principais orquestras e conjuntos canadenses: Lenka Lichtenberg (voz e piano), Rebekah Wolkstein (compositora e violinista), Drew Jurecka (diretor musical e acordeão argentino) e Joseph Phillips (contrabaixo). As músicas incorporam melodias do tango polonês dos anos 1930, com letras no idioma yiddish, uma língua adotada pelas comunidades judaicas que esteve à beira da extinção após a Segunda Guerra Mundial. “É uma mistura cultural muito interessante”, comenta Jacques Ribemboim, escritor e membro da APL.
Lenka Lichtenberg compartilhou a experiência de gravar os vocais para a música “A Victim of Dr. Mengele”. Segundo ela, a mais desafiadora em 24 anos de carreira. “Ao longo de toda a minha vida sendo vocalista, nunca cantei, nem ouvi, letras tão explicitamente violentas. Levei semanas para encontrar a abordagem certa, o tom adequado para cantar e não ser excessivamente dramático, mas ao mesmo tempo transmitir uma voz honesta de dor, angústia e raiva”, desabafou.
A realização da turnê coincide com a guerra entre Israel e Hamas, outro triste episódio que será lembrado pelos judeus. “Para muitas pessoas, o que está ocorrendo em Israel e Gaza está reavivando memórias traumáticas. De forma trágica, parece que o mundo não aprende com os equívocos do passado, incluindo os perigos do racismo e da xenofobia, que conduzem a ciclos de violência terrível e genocídio”, lamenta Rosenberg. Por outro lado, Jacques acrescenta: “O espetáculo reflete a dor e esperança ao mesmo tempo”.
“Lágrimas Silenciosas - O último tango yiddish” é inspirado em poemas, testemunhos e escritos de mulheres da Polônia que foram vítimas de violência sexual, esterilização forçada e experimentação humana durante o Holocausto. Algumas canções têm origem no projeto de poesia coletiva conduzido por Paula David, uma assistente social que trabalhava em um asilo no Canadá, onde auxiliou sobreviventes a enfrentar seus traumas por meio da poesia coletiva. Outras foram compostas por Molly Applebaum, que passou parte da sua adolescência enterrada numa pequena caixa de madeira em meio à guerra na Polônia.
“O trabalho da dra. David, assim como os testemunhos das vítimas desse terrível crime, revela que as pessoas continuam a sofrer de Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) décadas após o fim dos conflitos. Queremos aumentar a conscientização para evitar que isso aconteça novamente”, aponta o jornalista, produtor da orquestra e narrador do espetáculo Daniel Rosenberg. Ele entrevistou sobreviventes do Holocausto e contribuiu na criação das músicas a partir dos relatos.
A primeira comunidade judaica organizada na história do Brasil se estabeleceu no Recife, durante o período da ocupação holandesa, entre 1630 e 1654. Além disso, a Sinagoga Kahal-Zur Israel, localizada na Rua do Bom Jesus, é considerada a mais antiga das Américas. “Recife acolheu refugiados judeus em um momento que poucos lugares no mundo o fizeram. Espero que todos possamos aprender com esse exemplo sobre a importância de acolher refugiados e aqueles que não têm um lugar seguro para ir”, diz o jornalista canadense.
O grupo é composto por virtuoses da música clássica com passagem nas principais orquestras e conjuntos canadenses: Lenka Lichtenberg (voz e piano), Rebekah Wolkstein (compositora e violinista), Drew Jurecka (diretor musical e acordeão argentino) e Joseph Phillips (contrabaixo). As músicas incorporam melodias do tango polonês dos anos 1930, com letras no idioma yiddish, uma língua adotada pelas comunidades judaicas que esteve à beira da extinção após a Segunda Guerra Mundial. “É uma mistura cultural muito interessante”, comenta Jacques Ribemboim, escritor e membro da APL.
Lenka Lichtenberg compartilhou a experiência de gravar os vocais para a música “A Victim of Dr. Mengele”. Segundo ela, a mais desafiadora em 24 anos de carreira. “Ao longo de toda a minha vida sendo vocalista, nunca cantei, nem ouvi, letras tão explicitamente violentas. Levei semanas para encontrar a abordagem certa, o tom adequado para cantar e não ser excessivamente dramático, mas ao mesmo tempo transmitir uma voz honesta de dor, angústia e raiva”, desabafou.
A realização da turnê coincide com a guerra entre Israel e Hamas, outro triste episódio que será lembrado pelos judeus. “Para muitas pessoas, o que está ocorrendo em Israel e Gaza está reavivando memórias traumáticas. De forma trágica, parece que o mundo não aprende com os equívocos do passado, incluindo os perigos do racismo e da xenofobia, que conduzem a ciclos de violência terrível e genocídio”, lamenta Rosenberg. Por outro lado, Jacques acrescenta: “O espetáculo reflete a dor e esperança ao mesmo tempo”.