Oliveira Lima na era digital UFPE firma parceria com a Biblioteca Oliveira Lima, sediada em Washington, para disponibilizar 60 mil obras impressas na internet

Allan Lopes

Publicação: 18/12/2023 03:00

A atuação na diplomacia condicionou o historiador e jornalista Manoel de Oliveira Lima a estar ausente do Brasil por mais de quatro décadas. Natural de Recife, ele fez um pedido para ser enterrado onde viesse a falecer, o que foi respeitado. No seu jazigo em Washington, EUA, onde Oliveira Lima passou os últimos anos de vida, encontra-se a inscrição “aqui jaz um amigo dos livros”, conforme solicitado em testamento. O vínculo afetivo mantido com a literatura se expande a pouco mais de quatro quilômetros dali, na Universidade Católica da América, que ostenta o maior acervo do autor, totalizando mais de 60 mil obras impressas.

Em parceria com o Laboratório Liber, unidade de pesquisa e tecnologia ligada à Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a instituição americana está prestes a digitalizar e disponibilizar amplo acesso à vasta coleção da Biblioteca Oliveira Lima (em inglês, Oliveira Lima Library - OLL) - ou “catedral dos estudos brasileiros”, título atribuído pelo sociólogo Gilberto Freyre devido aos milhares de itens inestimáveis abrigados no local. Porém, a biblioteca tem enfrentado dificuldades na catalogação do acervo há algum tempo, uma vez que a maioria das obras está em língua portuguesa.

Para solucionar o impasse, a UFPE e a OLL firmaram convênio que viabiliza um programa de extensão internacional voltado aos estudantes de Biblioteconomia e bibliotecários. “Espera-se o desenvolvimento de uma biblioteca digital que espelhe a própria biblioteca Oliveira Lima, que seja acessível e interoperável com uma rede que integra as mais importantes bibliotecas do mundo especializadas na preservação da memória”, ressalta Marcos Galindo, historiador e professor do Departamento de Ciência da Informação. Ele acompanhou a comitiva pernambucana que visitou Washington em novembro, composta pelo prefeito de Vitória de Santo Antão, Paulo Roberto; a deputada federal Iza Arruda; a empresária vitoriense Maria Cristina Morais; e a professora Cláudia Vicente. Na ocasião, o projeto foi apresentado à embaixadora brasileira Maria Luiza Viotti.

Iza Arruda articulou a criação de uma emenda parlamentar, na forma de bolsas de estudo, com o objetivo de garantir o suporte financeiro dos estudantes em Washington durante dois anos. Segundo Galindo, a deputada foi cativada pela trajetória de Flora Oliveira Lima. A esposa de Manoel passou a primeira fase da sua vida no engenho Cachoeirinha, em Vitória de Santo Antão - que também é o local de nascimento de Arruda. “É um lugar sempre evocado nas suas memórias afetivas e (Flora) conquistou a atenção e a admiração da deputada”.

O acervo reúne materiais raros e importantes para a pesquisa em história, literatura, jornalismo, diplomacia, política, direito, escravidão, religião, arte e cultura e, em breve, estudantes, profissionais e pesquisadores terão livre acesso no conforto de casa. “Este é o sentido do projeto: a democratização do conhecimento represado da OLL e a transformação da sua condição de depósito para a de fonte”, afirma o professor.

Em meio à falência de livrarias e desmonte das bibliotecas no país, Galindo nega uma suposta elitização da leitura no país. O historiador destaca que a internet é uma ferramenta chave para difundir conhecimento. “Não se pode negar o fato de que o fechamento de livrarias e de milhares de bibliotecas públicas seja um fenômeno social marcante do nosso tempo, mas, tampouco, pode-se negar que a democratização do acesso ao conhecimento seja uma realidade contemporânea”.