Luz, câmera e esperança Por trás das filmagens da franquia "Recife Assombrado", o diretor pernambucano Adriano Portela coordena projeto sociocultural que atende comunidades periféricas

Allan Lopes

Publicação: 06/05/2024 03:00

Cobogó é o componente inserido em paredes visando aprimorar a circulação de ar e a entrada de luz em ambientes fechados. Essa mesma ideia é aplicada pelo cineasta Adriano Portela, autor da franquia Recife Assombrado, na escola Cobogó das Artes, onde os sonhos de moradores de comunidades periféricas do Recife são iluminados por meio de quase todas as formas de expressão artística: Teatro, dança, cinema e música. Em maio, o projeto lança o Curso de Teatro Avançado, e a intenção de Portela é ampliar o acesso para o maior número possível de atrizes e atores e, dessa forma, superar um obstáculo que costuma incomodar as artes: a dificuldade financeira.

Previsto para começar no próximo sábado (11/05), o Curso de Teatro Avançado da Cobogó das Artes contará com bolsas de estudo para estudantes interessados em continuar as aulas. “A intenção das bolsas é possibilitar aos alunos que concluíram o curso de iniciantes, mas sem condição financeira de continuar a formação, possam cursar”. Atores ou atrizes desvinculados de grupos de teatro também serão beneficiados. “As bolsas também podem auxiliar artistas já formados, mas que sem trabalho acabam tendo pouco dinheiro, o que faz com que eles fiquem sem um grupo de teatro”, conta o diretor. A duração é de dois anos, sendo o primeiro voltado para a teoria e a prática, e o segundo para produção e montagem de um espetáculo teatral.

Estabelecida no bairro de Areias, em 2017, a escola inicialmente atendia em áreas marginalizadas do Recife. Atualmente, a instituição acolhe alunos de diversas regiões da Região Metropolitana, incluindo Paulista, Itamaracá, e, Camaragibe. No entendimento de Portela, a responsabilidade social deve ser amplamente difundida através das manifestações artísticas. “A arte literalmente pode salvar vidas e é isso que a Cobogó tem proporcionado às pessoas que estão à margem. Ouvimos relatos de casos delicados, que não acho apropriado aqui citar, onde a arte surge sempre como um efeito de positividade para o problema”.

Outro objetivo de Portela é promover a empregabilidade dos profissionais do teatro, não se restringindo apenas ao curso. “Temos vários alunos que dão aulas de teatro na casa e recebem pelo trabalho realizado. Muitas pessoas entram na Cobogó e trabalham durante o próprio processo”, diz o cineasta. Conforme indicado por Adriano Portela, o próximo passo envolve a isenção de mensalidades para todos os alunos. Ele convoca os investidores a apoiarem essa iniciativa “A ideia é que o projeto um dia possa ser 100% social. Para isso, preciso de investidores. ”

O diretor observa situações de alunos que, ao terem contato com o teatro na cidade, despertam interesse pelas artes e se formam na Cobogó. Posteriormente, compartilham seu talento de volta com a comunidade. “Um dos nossos alunos, que foi nosso bolsista, se interessou pelo teatro depois de assistir a uma peça sobre o combate ao uso do álcool, apresentada por um grupo que passa pelas escolas públicas do Recife. Ele se formou conosco, e hoje trabalha com esse mesmo grupo”, orgulha-se.

Recife Assombrado
Portela se esforça para promover a cultura local não apenas nos palcos, mas também nas telonas. As gravações de Recife Assombrado 2 – A Maldição de Branca Dias, filme de terror e suspense cheio de referências às lendas urbanas da capital pernambucana, encerraram recentemente. A sequência conta com Vitória Strada (Salve-se Quem Puder) e traz o retorno de Daniel Rocha (Terra e Paixão), protagonista do primeiro longa. O restante do elenco é composto por ex-alunos e professores da escola: Madu Melo, Anthony Delarte, Luna Menescal, Washington Machado, Gley Paes, Laerte Augusto e Márcio Araújo.

“Para a continuação, vamos trazer uma espécie de geografia do medo, mapeando os locais mais assustadores da região e suas curiosidades. Será um thriller para deixar os espectadores apreensivos e com medo de sair do escurinho da sala de cinema para pegar o “busão” de volta para casa. Não estamos apenas contando histórias dos personagens, mas do Recife como um todo”, conta o diretor pernambucano.