Pérolas do filho do Sertão Pernambucano Zé Manoel estreia temporada de shows do álbum "Coral" amanhã, no Teatro do Parque, com participação especial de Isadora Mello

Allan Lopes

Publicação: 06/02/2025 03:00

O cantor, compositor e pianista Zé Manoel já não precisa percorrer os 700 km que separam Petrolina do Recife, mas mantém esse trajeto vivo na alma e na música, mesmo morando em São Paulo. Filho do Sertão, viu sua arte ser acolhida pela capital pernambucana, e agora retribui com pérolas que o posicionam ao lado dos grandes nomes da MPB. Não por acaso, ele escolheu o Teatro do Parque para dar início à temporada de shows deste ano. Amanhã, a partir das 19h30, ele apresenta Coral, seu mais recente álbum, lançado em setembro. Além de contar com a presença de Isadora Mello, Zé Manoel também evoca seus ancestrais, numa noite de reverência à herança da negritude brasileira.

Embora tenha vivido no Recife durante dez anos, o artista teve poucas chances de pisar no palco do Parque antes da reforma que o deixou fechado por uma década. Sua primeira oportunidade foi no ano passado, em um show do projeto Clube da Esquina, ao lado de Amaro Freitas.  

Desta vez, com as agendas alinhadas, o antigo desejo finalmente será atendido. “A vontade de me apresentar neste lugar tão emblemático vem não só por sua importância e beleza, ainda mais ressaltada após a reforma, mas também porque é um teatro de fácil acesso e fundamental para a cidade”, salienta.

A ocasião é duplamente celebrada, pois também marca a largada da turnê de Coral — pelo menos para Zé Manoel, que considerou sua estreia em São Paulo, na semana do lançamento do álbum, quase como um ensaio. “Sinto que a turnê começa, de fato, agora no Recife. Com o tempo, o show vai amadurecendo, mas já estamos com um formato bem fechado, com músicos incríveis”, afirma.

A aclamação nacional de Coral segue inabalada. Reconhecido como um dos 50 melhores de 2024 pela Associação Paulista de Críticos de Arte, o álbum acaba de ganhar uma edição especial em vinil 180 gramas transparente, disponível para venda no site da Rocinante Três Selos.

O trabalho percorre temas de amor, despedida e religiosidade afro-brasileira, com arranjos inspirados na música negra americana, sem deixar de lado as influências da cultura pernambucana e as questões da comunidade indígena.

Apesar de seu foco em faixas inéditas, Coral expande sua veia autoral para incorporar adaptações como Siriri, uma releitura de Siriri Sirirá (1962), sucesso das rádios nordestinas na voz de Marinês (1935-2007), a Rainha do Xaxado. A canção, que marcou a infância do artista, serve como ponte para resgatar memórias afetivas e contar a trajetória de sua família miscigenada, além de refletir sobre a construção de sua identidade como jovem negro. “O reconhecimento como pessoa negra, indígena ou afro-indígena, especialmente de Pernambuco, não acontece de forma automática”, aponta Zé.

Com raízes no movimento manguebeat e nas figuras históricas de Marinês, Luiz Gonzaga e Dominguinhos, Zé Manoel também se volta para o contemporâneo, alinhando sua música e temática próximas a de artistas como Liniker, Amaro Freitas e Luedji Luna.

“Sinto um desejo cada vez maior de ser essa ponte entre tempos, de dialogar com a nova geração sem perder de vista a reverência às referências e às ancestralidades negra, indígena e sertaneja”, acentua.

O repertório do show ainda será composto por faixas de Delírio de um Romance a Céu Aberto e Do Meu Coração Nu, discos que precederam o lançamento atual, além de músicas emblemáticas de outros projetos solo.