Cultura popular perde Zé do Mestre Falecido na última segunda, artesão e vaqueiro dominou a arte da confecção das peças que compõem a tradicional vestimenta sertaneja

Allan Lopes

Publicação: 26/03/2025 03:00

Zé do Mestre nasceu em 1932, na zona rural de Salgueiro (REPRODUÇÃO)
Zé do Mestre nasceu em 1932, na zona rural de Salgueiro
Um dos maiores nomes da cultura sertaneja, o mestre artesão e vaqueiro José Luiz Barbosa, conhecido popularmente como Zé do Mestre, faleceu aos 92 anos na última segunda, no Recife, por conta de complicações pós-cirúrgicas. Ele havia se submetido a um implante de marcapasso.

Zé do Mestre nasceu em 29 de outubro de 1932, na Fazenda Cacimbinha, situada na zona rural de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco. Ao longo da vida, dedicou-se à arte do couro, tornando-se uma referência nacional na confecção das 27 peças de roupas e acessórios típicos que compõem a vestimenta clássica do homem sertanejo, que inclui gibão, guarda-peito, perneiras, luvas, arreios e chicote.

O primeiro terno de couro saído de suas mãos ainda criança, aos nove anos, sob a tutela do primo e futuro sogro Línio Barbosa, já anunciava o refinamento técnico que faria de Zé do Mestre uma referência absoluta deste tipo de arte. Herdeiro de um legado familiar, aprendeu o ofício com o pai, Luiz Eugênio Barbosa, o Mestre Luiz, e foi o único entre os 15 irmãos a dominar com maestria a transformação da matéria-prima em peças que vestiram gerações de vaqueiros.

Zé do Mestre foi casado com Antônia de Brito Barbosa, a Dona Toinha, que, além de companheira de vida, também compartilhava o dia a dia nas bancadas de trabalho. Juntos, formaram uma família numerosa com dez filhos, dentre eles Irineu do Mestre, que herdou não somente o sobrenome artístico, mas também o talento.

O artesão ainda teve suas confecções adquiridas por personalidades como Luiz Gonzaga, o Papa João Paulo II, o Rei Juan Carlos da Espanha, presidentes e governadores, além de compor acervos de colecionadores e museus, como o Missionário Etnológico, no Vaticano.

Seu trabalho destacou-se especialmente na Missa do Vaqueiro de Serrita, onde centenas de sertanejos se apresentam anualmente com suas criações para homenagear Raimundo Jacó. No evento, considerado o maior encontro de vaqueiros do mundo, as peças de Zé do Mestre se tornaram verdadeiros símbolos culturais.

Em homenagem ao artesão, a prefeitura de Salgueiro decretou luto oficial de três dias.