Terça do Vinil vira Patrimônio Cultural Imaterial A tradicional festa do Recife, que tem à frente o DJ 440, tornou-se referência não apenas pelo apreço ao som do vinil, mas por ocupar espaços históricos

PEDRO CUNHA
Especial para o Viver

Publicação: 30/04/2025 03:00

Para Juniani Marzani, o reconhecimento gera um misto de emoção, gratidão e orgulho (R.CARNEIROS/DIVULGAÇÃO)
Para Juniani Marzani, o reconhecimento gera um misto de emoção, gratidão e orgulho

Há rituais que, de tão enraizados na vida de uma cidade, parecem ter nascido junto com ela. A Terça do Vinil é um desses casos. Ao longo de quase duas décadas, o evento se incorporou de maneira orgânica ao tecido cultural do Recife, misturando música, memória e resistência em noites dedicadas à celebração do vinil e da discotecagem como arte. E essa história acaba de ganhar um novo capítulo: a Terça do Vinil foi oficialmente declarada Patrimônio Cultural Imaterial do Recife, conforme publicação no Diário Oficial, sancionando a lei proposta pela vereadora Cida Pedrosa (PCdoB).

À frente do projeto está Juniani Marzani, o DJ 440, um dos nomes mais respeitados da cena, que se tornou referência por promover uma escuta atenta, analógica e afetiva. "Ter a Terça do Vinil reconhecida como patrimônio é, para mim, um misto de emoção, gratidão e orgulho. É como receber um abraço coletivo da cidade", afirma o artista.

A Terça do Vinil é o primeiro e principal selo de festas criado por ele. Com 19 anos de existência e mais de 900 edições realizadas, o projeto se consolidou como um movimento itinerante de ocupação de espaços históricos e de fomento à cultura brasileira, com passagens pelo Cais do Sertão, Torre Malakoff, Forte do Brum, Teatro de Santa Isabel, entre outros locais simbólicos da cidade.

O que começou como um encontro despretensioso entre amantes do vinil se transformou em um manifesto cultural. Ao longo desses anos, a festa apresentou ao público clássicos da MPB, revisitados sob novas perspectivas, e incorporou uma ampla pesquisa sonora de beats contemporâneos tropicais. "Nunca foi sobre modinha ou tendência. Sempre foi sobre afeto, música e troca real", reforça Juniani.

Para ele, o reconhecimento da Terça do Vinil como patrimônio é também um chamado para novos compromissos. "A ideia é cuidar para que essa chama continue acesa, mas também dar novos passos, como criar ações educativas, oficinas, parcerias com escolas, museus e centros culturais", almeja o DJ. "Essa aclamação abre portas, e a gente quer atravessar cada uma delas com respeito à memória, mas também de olho no futuro".