Uma autora, 100 legados Na data que marca o centenário de Janete Clair, o Viver recapitula a história, a obra e a influência da maior novelista brasileira

ANDRÉ GUERRA

Publicação: 25/04/2025 03:00

Janete Clair começou a escrever radionovelas incentivada pelo marido, o também autor Dias Gomes (ARQUIVO DP)
Janete Clair começou a escrever radionovelas incentivada pelo marido, o também autor Dias Gomes

Há 100 anos, nascia um dos mais célebres nomes da teledramaturgia, que escreveu capítulos que cravaram no imaginário da ficção e deixaram um impacto que reverbera até os dias de hoje. Jenete Stoco Emmer, conhecida por todos como Janete Clair, nasceu no município de Conquista, interior de Minas Gerais, filha de um comerciante libanês com uma costureira ítalo-portuguesa. Uma carreira que começou no rádio em São Paulo, pouco a pouco a transformou na grande referência criativa da telenovela brasileira.

Artista de múltiplas habilidades desde muito jovem e cheia de ousadia para incorporar seus vários talentos aos trabalhos que surgiam, Janete já causava forte impressão na Rádio Club Hertz e, logo depois, na Rádio Tupi. Foi nesse universo que ela conheceu o dramaturgo baiano que se revelaria a paixão de toda a sua vida, Dias Gomes, também um cânone da ficção brasileira e autor de O Pagador de Promessas, O Bem-Amado e Saramandaia. Com ele, teve quatro filhos: Alfredo, Guilherme, Denise e Marcos (o último faleceu com apenas três anos por problemas no coração).

Cronista do país e afeita às doses mais intensas de romantismo e emoção, Janete mudou para sempre a forma de se escrever novela. Sua estreia na televisão como autora principal ocorreu em 1963, com Nuvem de Fogo, exibida pela TV Rio, mas seus primeiros grandes sucessos foram O Acusador, em 1964, e Paixão Proibida, de 1967, ambas para a TV Tupi.

 (FOTOS: ARQUIVO DP)
Na Globo, Janete Clair rapidamente virou nome de prestígio. A reformulação da trama de Anastácia, a Mulher sem Destino, estrelada por Leila Diniz também em 1967, fez a novela recuperar o público que estava em queda. Com mais de 100 personagens e um enredo sem rumo, até então escrito por Emiliano Queiroz, ela provocou um terremoto que deixou apenas quatro personagens vivos. E entrou para a história.

Ao longo dos anos 1970, Janete criou narrativas que se tornariam clássicos reverenciados por gerações. Entre essas obras estão Fogo sobre Terra (1974), Pecado Capital (1975), O Astro (1977) e Coração Alado (1980). Em termos de audiência, no entanto, Irmãos Coragem (1970) e Selva de Pedra (1972) se tornaram fenômenos históricos, com a primeira ficando à frente até mesmo da transmissão da final da Copa do Mundo que rendeu o tricampeonato ao Brasil e a segunda atingindo o pico de 100 pontos na cena em que a personagem de Regina Duarte, Rosana Reis, é desmascarada.

Em 1983, aos 58 anos, a autora faleceu vítima de um câncer de intestino, deixando incompleta a novela Eu Prometo (finalizada pela então colaboradora Glória Perez). Chamada de “usineira de sonhos” pelo poeta Carlos Drummond de Andrade, Janete desbravou um cenário dominado por homens e abriu caminho para que o telespectador brasileiro tenha hoje, nos três horários, novelas escritas por mulheres: Garota do Momento, de Alessandra Poggi, Volta por Cima, de Cláudia Souto (prestes a ser substituída por Dona de Mim, de Rosane Svartman), e o remake de Vale Tudo, por Manuela Dias.

Ecoando em cada texto e influenciando cada nova história, o nome de Janete Clair é um só, mas se divide para além do tempo.