Argentina e Brasil unidos pela memória Drama inspirado nas mulheres argentinas que lutam para encontrar seus netos, "À Procura de Martina", dirigido por Márcia Faria, estreia amanhã

Allan Lopes

Publicação: 04/06/2025 03:00

Mercedes Morán encabeça o elenco do filme, que traz ainda Carla Ribas e Luciana Paes (LEO BITTENCOURT/DIVULGAÇÃO)
Mercedes Morán encabeça o elenco do filme, que traz ainda Carla Ribas e Luciana Paes

Mais de quatro décadas após o fim da ditadura argentina, segue viva a busca por cerca de 500 crianças que foram arrancadas de suas famílias pelos agentes do regime. É dessa ferida aberta que nasce a história das Avós da Praça de Maio, associação fundada em 1977 que agora inspira À Procura de Martina. O longa, dirigido por Márcia Faria, entra em cartaz amanhã nos cinemas.

A trama acompanha Martina (Mercedes Morán), argentina que corre contra o tempo para encontrar o neto, enquanto ainda apresenta alguma autonomia diante do diagnóstico recente de Alzheimer. Ao descobrir que ele pode estar no Brasil, ela embarca em uma jornada em que passado e presente se misturam, transformando a busca em uma luta contra o esquecimento.

“Essa mulher que cruza a fronteira para chegar a um país que carrega o estigma tão verdadeiro de ser um lugar sem memória acabou se tornando, para mim, uma metáfora muito potente. É uma forma de refletir, não só no plano individual como coletivamente, sobre os processos de remexer no passado e de justiça”, explica Márcia Faria, em conversa exclusiva com o Viver.

No elenco brasileiro, estão as atrizes Luciana Paes e Carla Ribas, esta última consagrada pelo filme A Casa de Alice, de 2007, e que também está presente em Aquarius e Ainda Estou Aqui.  Lançado pouco tempo depois do premiado longa de Walter Salles, À Procura de Martina reforça a potência de narrativas centradas no olhar e na vivência de mulheres em contextos de opressão. “Tanto as avós argentinas quanto Eunice Paiva são pessoas tragadas por uma realidade autoritária, política, brutal, que dilacera o núcleo familiar”, pontua Carla, durante a entrevista. “Diante disso, o movimento delas é justamente o oposto da violência: é o de tentar reconstruir esse afeto que foi destruído por uma força externa e sombria”.

Para Luciana, a existência desses filmes não se limita ao campo simbólico. “Tem uma reverberação prática, documental. É sobre saber o nome do torturador e ter gente na porta do prédio dele segurando uma faixa que diz: ‘Nós não esquecemos’. O fato de essas obras existirem mostra o quanto essa ferida ainda está aberta”, defende a atriz.