Vozes que o tempo só afinou
Um dos maiores grupos vocais da música brasileira, Boca Livre mostra repertório do novo álbum e clássicos da carreira no Teatro RioMar
Allan Lopes
Publicação: 04/06/2025 03:00
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Donos de uma das harmonias vocais mais perfeitas da música brasileira, o Boca Livre demonstra em Rasgamund (2023) que a sintonia construída desde 1978 não apenas resiste ao tempo, mas se renova. No primeiro trabalho após o reencontro do icônico quarteto, a cumplicidade histórica ganha novas camadas, e a prova definitiva está no palco. Nesta sexta-feira, às 21h, no Teatro RioMar, o grupo se apresenta com um repertório que entrelaça as canções do novo álbum e os seus maiores clássicos, em uma noite imperdível para os amantes da boa música.
O show Rasgamund opera em duas frentes. Primeiro, consolida a química imbatível de Zé Renato (violão e voz), Maurício Maestro (baixo, arranjos e voz), David Tygel (viola e voz) e Lourenço Baeta (violão, flauta e voz). Depois, canções do Los Hermanos e de Tim Bernardes são reinventadas como tivessem sempre pertencido ao repertório do grupo. “É muito bacana poder incluir essa conexão com pessoas que, até então, não tinham uma relação direta com o Boca Livre. Ao mesmo tempo, a gente percebe que, de alguma forma, eles também têm tudo a ver com o que fazemos”, celebra Zé Renato, em conversa exclusiva com o Viver.
Tão eloquentes quanto as vozes que os guiam são os arranjos instrumentais retrabalhados para os tempos de hoje, sem perder a essência que consagrou o quarteto. “Estamos sempre buscando trazer novidades, mas dentro de um universo musical em que nos sentimos à vontade. Chegamos a um timbre, a uma sonoridade, que é a cara do Boca Livre”, explica o músico. O reconhecimento veio com o 31º Prêmio da Música Brasileira, que elegeu o conjunto como Melhor Grupo de MPB de 2024.
Além da coroação artística, o trabalho também marcou a reconciliação dos quatro amigos após as divergências políticas que os separaram em 2021, mostrando que, às vezes, a música vence até as maiores discordâncias. “O grupo está muito bem. Cada vez mais, sentimos que existe uma conexão muito forte entre nós. Nosso prazer de cantar juntos só cresce, e isso acaba refletindo no show e em tudo que fazemos musicalmente”, destaca Zé Renato.
Quem for ao Teatro RioMar nesta sexta vai sentir essa energia, em um setlist que reúne clássicos como Toada, Quem Tem a Viola, Mistérios e Ponta de Areia. Canções que, não por acaso, também integraram a primeira apresentação do grupo no Recife, em 1980, no Teatro do Parque. Na época, o Diario de Pernambuco resumiu bem o impacto. “O Boca Livre se consagra como um dos mais importantes conjuntos vocais da música popular brasileira. Está confirmando tais adjetivações nos shows que realiza pelo país”, diz o texto.
Quase meio século depois, o tempo só fez reforçar o acerto dessa leitura. “Desde a nossa primeira vez em Pernambuco, o público sempre foi muito carinhoso com a gente. Por isso, é sempre um prazer enorme voltar para a cidade. É, sem dúvida, um dos lugares que a gente leva no coração”, derrete-se Zé. Dessa forma, os músicos retornam ao Recife após 45 anos como bons vinhos temperados por todas as histórias que vieram depois.