O último acorde de uma lenda do rock
Ozzy Osbourne morreu ontem, aos 76 anos, três semanas após se despedir dos palcos com o show "Back to the Beginning", em Birmigham, na Inglaterra
Ricardo Novelino
Publicação: 23/07/2025 03:00
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É triste, mas é a verdade. Parafrasear uma das letras do Metallica (Sad but True) é uma das únicas formas de digerir a notícia desta terça-feira. John Michael Osbourne, ou simplesmente Ozzy, o "Príncipe das Trevas", morreu, na Inglaterra.
A notícia estourou no meio da tarde. Seria mesmo? Ou apenas mais um problema de saúde que o Sr. Osbourne conseguiria superar?
Aí, saiu a confirmação, partindo da própria família:
"Ozzy Osbourne, vocalista da banda de heavy metal Black Sabbath, morreu nesta terça-feira (22) aos 76 anos".
A nota disse, ainda, que Ozzy Osbourne "estava com sua família e cercado de amor". "Pedimos a todos que respeitem a privacidade de nossa família neste momento".
Era a confirmação que ninguém imaginava. Para a tristeza de quem cresceu ouvindo rock e ainda guarda as edições em vinil.
Triste para quem acompanhou, ao longo do sábado, 5 de julho, sem acreditar muito, a última apresentação ao vivo de uma lenda.
Sentado em um trono estilizado, Ozzy fez a última aparição oficial, no show beneficente Back to the Beginning, na terra natal dele, Birmigham, na Inglaterra.
Com ele, estavam seus eternos escudeiros Toni Iommy, Terry Geezer Buttler e Bill Ward, do Black Sabbath.
Subiram ao palco artistas de vários estilos dentro do rock e do metal, que reverenciaram o Sabbath.
As crias honraram, na maioria das canções, o legado da criatura. Metallica, Mastodon e Slayer mostraram que assimilaram bem as lições do mestre.
Aos 76 anos, Ozzy partiu, depois de enfrentar doenças, como o Parkinson, e até de cair de um quadriciclo, que o deixou no "estaleiro" por vários anos.
É necessário pensar que ele é muito mais do que aquele cantor maluquete que deu origem ao que hoje chamamos de heavy metal, lá nos idos de 1970, com o disco Black Sabbath.
Bebeu muito, enlouqueceu demais e virou um ícone do que pode se chamar de um rock star de verdade.
Dizem que cheirou formiga com o Motley Crue, nos anos 1980. Dizem que dormiu no hotel errado e provocou o cancelamento de um show, de tão doidão que estava.
Dizem que a droga chegava na caixa da pizza e que não teria mais condições de cantar após cada bebedeira.
Das loucuras na estrada aos clássicos imortais do rock e do metal, Ozzy superou a pobreza, desconfiança, alcoolismo e o vício em muitas substâncias ilícitas e lícitas. Parceria imortal.
Os cinco primeiros discos do Black Sabbath fazem parte da discografia obrigatória para quem um dia tiver interesse em saber o que é rock%u2019n%u2019roll.
Tocou com grandes guitarristas (Tony Iommi, Randy Rhoads, Jack E Lee e Zakk Wilde). Deixou para a vida eterna canções como Paranoid, War Pigs, Into The Void e Sabbath Bloddy Sabbath, para citar algumas pérolas do Sabbath.
Brigou com muitos empresários e se casou com a filha de um deles, Sharon Arden, que depois virou a temível Sharon Osbourne, a implacável empresária. Com ela, foi resgatado do fundo do poço. Ganhou uma carreira solo de respeito. Inventou um festival (OzzyFest), fez álbuns geniais, como Blizzard Of Ozz, Diary of a Madman e tantos outros.
Em janeiro de 1985, veio ao Brasil para o primeiro Rock in Rio, no Rio de Janeiro. Com a fama de quem tinha dado uma mordida em um morcego, chegou com pinta de vilão.
Incendiou a antiga Cidade do Rock e criou uma nova legião de fãs. Mais. Ajudou a sedimentar uma geração sedenta por um ritmo que não tocava em rádio nem aparecia na TV. Botou a camisa do Flamengo e fez dois shows inesquecíveis.
Depois, voltou ao país por várias vezes, lotando estádios e renovando as gerações de fãs, reunindo avôs, pais e filhos nas plateias.
Fez pirraça com ex-companheiros. Mandou regravar bases de músicas de dois álbuns com outros músicos para não pagar direitos autorais aos instrumentistas originais.
Na era MTV, entrou de cabeça com o álbum No More Tears. Quem tiver dúvida de como ele ficou grande, é só ir para o YouTube e recuperar os clipes de No More Tears e Mamma, I%u2019m Coming Home, de 1991 e 1992. Na TV, apareceu no reality The Osbournes, que mostrava o cotidiano caótico de sua família, conquistando mais fãs.
De tão trágica, a série "pastelão" virou cult. O príncipe das Trevas se tornou um "velhinho": o Ozzy "paz e amor".
Prometeu que abandonaria a carreira por várias vezes, mas sempre voltava aos palcos. Para gritar, hipnotizar o público e encerrar os shows com a frase: "I love you all". Ou, "Eu amo todos vocês". Ozzy não era apenas um músico. Virou um dos maiores mestres de cerimônias que o pop já viu.
Assistir a um show dele era catártico. Morreu a lenda e fica o legado. É triste, mas é verdade. Não temos mais o Ozzy para virar o mundo de cabeça para baixo.