Do bombardeio ao acordo de paz

Publicação: 16/07/2018 03:00

Foi quase em tempo real que se noticiou na Rádio Clube o torpedeamento de navio mercantes em águas nordestinas. Sem censura. Da mesma forma se transmitiu o recolhimento dos náufragos para a tranquilidade de algumas famílias de vítimas. O episódio é considerado a maior tragédia do Brasil ao longo da Segunda Guerra Mundial. A Alemanha, sob o comando de Adolf Hitler, ordenou o ataque a cinco navios mercantes brasileiros. Três dias de ataque e um total de 600 cidadãos brasileiros foram mortos. Em agosto de 1942, houve um ataque de um submarino alemão ao navio Baependi na costa sergipana; na mesma noite de 15 de agosto, um segundo atingiu o navio Araraquara. No dia seguinte, outro matou 150, quase toda a tripulação. Na Bahia, em 17 de agosto, três embarcações foram torpedeadas.

Um saldo desolador. Uma comoção popular. O Repórter Esso, um noticiário que ficou famoso em todo o Brasil, havia começado a ser transmitido pela Rádio Clube em 1942 e, por meio dele, se dava projeção à grande parte das notícias da guerra. O Repórter Esso chegava a fazer edições extraordinárias. Em Pernambuco, a ambiência cheirava a guerra. As cidades de Recife e Olinda praticavam exercícios de blecautes, que consistia no corte da energia elétrica por 20 minutos para treinamento e preparação em eventual caso de ataque aéreo.

“A guerra abriu as fronteiras do jornalismo”, definiu o professor especialista em rádio Luiz Maranhão Filho. Assim como anunciava os bombardeios, a Rádio Clube transmitiu aquilo que era esperado pelo mundo inteiro: o acordo de paz. Com o anúncio, acompanhado de marchas patrióticas, ajudou a colocar a população nas ruas numa festa dita como “O Carnaval da Vitória”. O maestro Nelson Ferreira, que comandou a programação artística da Rádio Clube e era o músico mais influente da época, compôs a música que embalou o tal carnaval da vitória.

A transmissão do fim da guerra foi feita a partir da Praça do Diario de Pernambuco. Diz Luiz Maranhão que, “para a democracia, foi uma festa”. Para Agamenon Magalhães, o governador, “foi um fim de festa”. Era de se concluir que a esta altura “não havia mais como segurar as fronteiras abertas pelas ondas sonoras, muito mais dinâmicas que os jornais publicados pela manhã”, conceitua Maranhão.

Esta matéria faz parte de uma série de reportagens sobre os 100 anos da Rádio Clube, publicada todas as segundas-feiras