Mude-se. "A vida já é triste"

Publicação: 17/09/2018 03:00

Ir além da dramatização de peças conhecidas defronte a um microfone era um desejo que só crescia. Foi resultado da inquietude de pioneiros do rádio, todos oriundos dos teatros brasileiros dos anos de 1920 e 1930. Eles formavam um grupo que se correspondia e trocava informações. Para Luiz Maranhão pai, que teve sucesso na Rádio Clube e foi um destes ideólogos, um bom interlocutor era Nestor de Holanda, jornalista recifense que tinha atuação na Revista Cena Muda, no Rio de Janeiro.

Os dois trocavam muitas cartas e Nestor chegou a comentar que Maranhão defendia “algo novo, diferente” das peças radiofônicas daquela época, algo que superasse aquela “irritante descrição de cenário e ambiente, feita por um locutor antes da peça”. Maranhão também propunha ousar e fugir do esperado pelo público. Sabia ele que a preferência voltava-se para dramas e sentimentalismo, mas cogitava “ir aos poucos enxugando as lágrimas”, colocando humor na pauta, “sem descer às chanchadas”. “A vida já é triste”, ponderava.

Ao longos dos anos de 1940, o radioteatro era prática em emissoras nacionais e o cast da Rádio Clube de Pernambuco, fundada em 1919 e soberana por décadas, só aumentava. Ao aproximar-se da década de 1950, tanto era o interesse pela área que chegou-se a se criar o radioteatro acadêmico em 1948, formato com a participação de estudantes da Faculdade de Ciências Econômicas sob a orientação de Clovis Neves de Castro, segundo informações de Renato Phaelante. Tudo ainda era amador. O profissionalismo só chegou por volta de 1952, com Caio de Souza Leão, que instituiu a carteira de trabalho para o elenco.   

Esta reportagem faz parte de uma série em homenagem aos 100 anos da Rádio Clube de Pernambuco, publicada até abril de 2019