Eles se vão; os causos ficam

Publicação: 07/01/2019 03:00

Sobre a Rádio Clube o que não falta é causo contado por artista iniciante e que depois encontrou o estrelato. Um dos mais curiosos quem narrou foi Expedito Baracho, famoso intérprete de frevos locais e conhecido também como o maior seresteiro do Brasil, falecido em 2017 aos 82. Lembrou ele que foi levado por amigos de Olinda para cantar em programa de calouros Miscelândia Sonora, da Rádio Clube no início dos anos 1950. “Fui gongado porque não sabia a letra da música”, disse, em conversa com o radialista Jorge José B. Santana para livro sobre a história do rádio em Pernambuco.

Baracho sabia da sua capacidade e voltou, conforme recomendado. Avisou que iria tocar em “Lá menor!”. Causou surpresa. “Você toca violão?”. Tocava e muito bem. Se deu bem e venceu a competição. Ganhando em torno de vinte réis, se impressionou com o prêmio e não queria fazer outra coisa, a não ser cantar. O trabalho como entregador de telegramas da Western nunca mais. Até que o patrocinador do show de calouros viu que algo estava errado e a supremacia de Baracho era ruim para a audiência. “Está proibido de cantar. Não tem graça esse rapaz ganhar sempre”. O jeito foi dar um programa só para ele. Ganhou acompanhamento com piano. “Cantei um bolero de muito sucesso na época e o maestro Guedes Peixoto, da Banda Acadêmica me chamou para fazer um teste de “crooner”. Era o vocalista daqueles tempos. Virou o cantor da banda fundada por Capiba.

Acabou sendo disputado por outras rádios e, até pouco tempo antes de sua morte, arrastava multidões com seus boleros românticos. Era um boêmio admirado e assumido.

“Fui e continuo sendo um boêmio. Não aquele que enche a cara e sai caindo por aí. Boêmio é aquele que gosta da boa música romântica, que vive a noite com a namorada, a esposa”, declarou na edição do O Rádio Pernambucano por quem o viu crescer (Gráfica FacForm), de Jorge José Santana.