A era dos quartos montessorianos Técnica transforma dormitório infantil em local propício ao desenvolvimento

Débora Eloy
debora.eloy@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 13/04/2019 03:00

Montar o quarto do bebê é certeza de que muita coisa vai precisar ser mudada em pouco tempo, conforme ele cresça. Mas, existe uma técnica de decoração que consegue acompanhar a criança por um período maior. São os quartos montessorianos, projetados com técnicas minimalistas e pensados para estimular a evolução. Essa proposta prevê um lugar com móveis e objetos na altura dos olhos da criança para que ela possa desenvolver a autonomia e a liberdade com segurança.

Foi pensando nisso que a advogada Marina Suissa, junto com as arquitetas da Casa Pla, Érika Moura e Renata Lima, reformaram um espaço do seu apartamento em Boa Viagem e transformaram em dois: um escritório e um quarto para Helena, de três anos, filha mais velha de Marina. “Adaptamos um antigo quarto da filha mais velha quando ela descobriu que estava grávida pela segunda vez e o unimos ao escritório pelo banheiro compartilhado, que é uma prática comum norte-americana. Diferentemente de reformar o quarto do filho mais novo, algo que é mais comum, a cliente decidiu utilizar antigo quarto de Helena para o bebê”, destaca Érika.

A praticidade foi o fator chave para desenvolver o projeto. “Como o antigo quarto de Helena, quando bebê, ficava mais próximo ao meu, resolvi utilizá-lo para o novo filho, mais por uma questão de logística. A ideia de fazer a decoração foi tida em conjunto com as meninas da Casa Pla. Eu já tinha uma brinquedoteca que seguia essa ideia de espaço montessoriano e quis implantar no quarto da minha filha para estimular a independência e autonomia dela. Para executar tarefas mais simples sem precisar de ajuda. As arquitetas conseguiram captar o que eu queria fazer e respeitaram meu perfil como cliente”, destaca Marina.

A ideia era projetar um espaço mais clean e que pudesse ser facilmente reformado para acompanhar o crescimento da criança. “Num projeto de quarto montessoriano é comum encontrar uma cama com a estrutura de casinha de madeira. Mas, como a intenção era algo mais simples de modificar depois, apostamos em uma casinha mais estilizada, pintada na parede. Afinal, é mais fácil pintar uma parede do que tirar a estrutura da cama”, detalha a arquiteta.

Seguindo a premissa de que a criança precisa aprender desde cedo a estimular a independência e autonomia, todos os móveis foram projetados para facilitar esse aprendizado. “Todos os móveis são mais baixos para ficarem na altura dos olhos da criança e ela ser estimulada a se virar sozinha. O principal diferencial é a cama, que é do tamanho padrão por uma escolha dos donos da casa, que preferiram um móvel que pudesse ser usado por mais tempo. Mas existe um bicama embaixo, para os pais poderem dormir no quarto da filha, caso desejem”, explica Renata.

No projeto para o quarto de um bebê é comum que existam modificações quando eles começam a andar e, depois, quando estão maiores, para se encaixar no gosto da criança. “Os brinquedos, o lugar para guardá-los e o espelho foram colocados mais para baixo, na altura dos olhos de Helena. O guarda-roupas também possui gavetas com as roupas mais utilizadas por ela na parte de baixo, para mais fácil acesso. Mas, tudo isso pode ser modificado conforme a criança vá crescendo. O espelho, por exemplo, pode ser colocado mais para cima e a cerca da cama pode ser retirada”, destaca Érika.

Projetos feitos para crianças geralmente são pensados para que, no futuro, possam ser reformulados. “Geralmente quando o cliente pede um projeto para o quarto dos filhos que tem entre 2 e 4 anos, nós já pensamos em um layout que seja mais fácil para modificar depois. O que acontece muito é que quando a criança já cresce mais um pouco e ela não se identifica mais com o espaço. Por isso é comum encontrá-las brincando na sala ou até na cozinha, menos no quarto. Por isso é importante acompanhar o crescimento e os gostos das crianças conforme vão crescendo”, explica Renata.

Escritório
Outra parte do quarto de hóspedes se transformou em um escritório para o casal. Mas, sem perder a função de quarto de apoio, graças ao sofá-cama instalado no ambiente. “As cores do ambiente foram uma preferência dos clientes que são mais clássicos e queriam algo mais sóbrio, sem falar em um espaço confortável e que pudesse ser adaptado para um quarto de visitas”, destaca Érika.

Para otimizar o espaço, a saída foi escolher móveis planejados. “A estante foi feita sob medida, com cores sóbrias que harmonizam com o ambiente. A parede ao fundo possuía alguns desníveis, então pudemos trabalhar o móvel para que essas imperfeições não apareçam. A bancada foi colocada junto à janela para, além de evitar reflexo, também dar uma vista legal do mar para quem estiver trabalhando. Existe uma iluminação mais geral, além de uma luminária com uma luz mais direcional. Em relação aos itens decorativos são todos dos proprietários da casa, souvenirs de viagens”, revela Renata. Para finalizar, os quadros na parede do ambiente foram escolha do casal de algumas indicações das arquitetas.

O banheiro, que é compartilhado entre o escritório e o quarto de Helena, também recebeu cuidados específicos. “Por conta da disposição, a janela deveria ser inutilizada, já que fica acima da cuba, ou o espelho teria que ser menor. Mas, nós optamos por utilizar uma estrutura que afasta o espelho da parede e dá a opção de abrir as janelas e usar o refletor normalmente”, finaliza Érika.

"Os brinquedos, o lugar para guardá-los e o espelho foram colocados mais para baixo, na altura dos olhos de Helena. O guarda-roupas tem gavetas com as roupas mais usadas por ela", Érika Moura, arquiteta

Saiba mais

Um quarto montessoriano é desenvolvido exclusivamente para bebês e crianças. Inspirado em uma metodologia de ensino criada pela educadora italiana Maria Montessori, por volta de 1907. O método prioriza a autoeducação, sendo assim o quarto precisa oferecer elementos que estimulem o desenvolvimento e a autonomia da criança. Para isso, os objetos precisam estar na altura dos olhos dos pequenos.

Dessa forma, pensando nessa premissa, utiliza-se camas mais baixas, ou até mesmo colchões. Os brinquedos devem estar dispostos de forma que a criança possa pegá-los à vontade e guardá-los sempre que terminar de brincar. Isso ajuda a despertar o interesse e não gerar monotonia.