E a sanfona não parou A nova geração de fãs do forró leva adiante o legado deixado pelo mestre Luiz Gonzaga, também conhecido como Rei do Baião e considerado o maior artista musical do Nordeste

Maria Emília Prado
Especial para o Diario
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Publicação: 24/06/2017 03:00

Se tem uma coisa que não pode faltar na festa de São João é a música. Responsável por animar qualquer lugar, ela também é parte da celebração do período junino. No Nordeste, a tradição recomenda ouvir o forró de Luiz Gonzaga, o maior artista musical da região da história. Asa branca, Assum preto, Xote das meninas, entre tantas outras composições famosas na voz e na sanfona do cantor, são marcas duradouras da festa.

E se engana quem considera as músicas admiradas apenas pelas pessoas com mais idade. Se depender de uma turma de crianças e adolescentes, o Velho Lua continua em alta. Maria Luísa Buarque, de 8 anos, costuma escutar os sucessos do Rei do Baião desde bebê. O hábito se manteve. Hoje, ela ouve o forró do sanfoneiro em qualquer época do ano. “Gosto de escutar forró no caminho para a escola, principalmente o de Elba Ramalho. Acho as músicas rápidas e bem legais”, diz a estudante, que, além da cantora paraibana, elege Luiz Gonzaga como favorito.

A estudante Larissa Rocha, de 6 anos, se apaixonou pelo ritmo através da dança. Por causa das apresentações na escola, a garota conheceu há dois anos as músicas que hoje ama cantar e dançar. “Canto a música da apresentação todos os dias e danço até dentro de casa”. Larissa se refere ao sucesso Vem, morena, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas. Luíse Bernardo, de 9 anos, também teve o primeiro contato com o forró na escola, na época das comemorações juninas, mas diz que não gosta muito de dançar. “Comecei dançando, mas hoje prefiro só escutar. De todos os ritmos, o meu preferido é o xaxado”.

O gosto musical pela música teve um papel importante na infância de Luiz Gonzaga. Ele ganhou a primeira sanfona aos 13 anos e, com essa idade, já se apresentava em eventos. O pai, Januário, era um excelente sanfoneiro e consertava instrumentos na região onde a família morava, em Exu, no Sertão de Pernambuco. A música criada por Gonzagão ajudou a embalar a tradição do São João do Nordeste, festa transformada ao longo dos séculos, com a dança das quadrilhas na França trazidas para o Brasil.

Pelas mãos de Gonzaga, se popularizaram o xote, o baião, o xaxado e outras variações do forró ouvidas por gerações e tocadas por artistas como Dominguinhos, Sivuca Alcymar Monteiro, Maciel Melo, Petrúcio Amorim. Em seguida, vieram as bandas de forró estilizado, com formas diferentes de tocar o ritmo nordestino e a introdução de outros instrumentos além da zabumba, do triângulo e da sanfona da formação criada pelo Rei do Baião.

Por dentro

O que é baião, xote e xaxado


Baião - O ritmo vem dos intervalos musicais tocados com viola pelos cantadores de improviso. Com a ajuda do rádio, o criador e sanfoneiro Luiz Gonzaga popularizou o baião no Brasil.

Xote - É de origem alemã, mas bem famoso no Nordeste. Mistura os passos de valsa e polca. As letras geralmente contam uma história engraçada e o ritmo é mais lento, melhor pra dançar com um par.

Xaxado - É a dança dos cangaceiros, antigamente só os homens que dançavam. O nome vem do barulho “xá-xá-xá” que a sandália de couro faz quando arrasta no chão.