De braços abertos Crianças autistas têm dificuldade de se relacionar socialmente, mas a acolhida dos colegas e a ajuda de um especialista podem fazer a vida deles se integrar à de todos

Emília Prado
Especial para o Diario

Publicação: 21/10/2017 03:00

No diálogo no alto da página, Alice está falando sobre o seu irmão mais velho. Miguel, de 7 anos, tem autismo - segundo a ciência, trata-se de um transtorno inibidor da comunicação e da interação com outras pessoas. Mas a condição de saúde não significa isolamento. Com a ajuda de um especialista e de amigos, o autista consegue aproveitar a vida em sociedade e desenvolver habilidades próprias. Alice e Miguel, por exemplo, brincam juntos. A diversão preferida da dupla são os carrinhos e o pega-pega, duas formas de se relacionar sem a necessidade de usar palavras.

Para aprender a viver melhor com os outros e enfrentar seus bloqueios, Nicolas Alencar, de 10 anos, vai todos os dias à Associação de Famílias para o Bem-Estar e Tratamento da Pessoa com Autismo (Afeto), uma associação sem fins lucrativos, onde recebe acompanhamento psicológico, de fisioterapia, fonoaudiologia, entre outros. Além das atividades, Nicolas se diverte e cria laços: “Eu gosto de vir para a Afeto, de brincar com os tios, que me ajudam, ficar no pula-pula e jogar no tablet”. No momento, o garoto está aprendendo a relacionar dois termos em uma frase e a diferenciar antônimos, como dia e noite, muito e pouco.

Já Bernardo, 5 anos, evoluiu bastante a comunicação desde que começou a ser estimulado. Segundo Angela Lira, uma das coordenadoras da associação, “quanto mais cedo a criança começar a fazer um tratamento especializado, mais chances tem de progredir e conviver melhor em sociedade”. O garoto agora realiza atividades para que possa aprender palavras novas e a música, algo que Bernardo adora, foi o principal meio para o desenvolvimento da fala.

Angela explica que é essencial o incentivo para que a criança faça tudo que qualquer outra faz, como fechar uma porta, amarrar os sapatos ou se limpar no banheiro. “Depois que entendemos o que é o autismo e que não devemos excluir estas pessoas, podemos ajudar sendo companheiros delas, amigos, e não só um apoio, como faz uma bengala, por exemplo”, explica a coordenadora, que também é mãe de uma jovem com o transtorno. Como o maior obstáculo dos autistas é a comunicação, devemos respeitar o tempo e o jeito deles. Se você tem um amigo autista, ele não vai conversar tanto como você e pode ser que seja mais agitado que o comum, ou quieto demais.

O autismo pode se apresentar em intensidades diferentes. A maior parte dos sintomas está relacionada ao comportamento, como ter movimentos repetitivos e muita dificuldade para se concentrar. Algumas pessoas costumam dizer que os autistas vivem no mundo deles, mas eles vivem no mesmo universo que nós - só que de um jeito particular. Conviver com pessoas diferentes nos faz aprender mais. Imagina se só tivéssemos amigos iguais a nós?

Evolução
Bernardo, de 5 anos, desenvolveu a comunicação depois de passar a ser estimulado. Música teve papel crucial na evolução do comportamento dele

Interatividade
Nicolas Alencar, de 10 anos, recebe acompanhamento fonoaudiológico, fisioterápico e psicológico: “Gosto de brincar com os tios no pula-pula”

Amizade
Miguel, de 7 anos, e a irmã Alice, de 5: os dois brincam juntos e amenizam os efeitos do autismo do garoto

- "Eu não entendo o que ele fala, mas a gente sempre brinca juntos", conta Alice Nunes, de 5 anos.
- "Bom, então vocês se entendem, não é?"
- "É mesmo, a gente se entende".
Alice Nunes, irmã de Miguel