Com gosto de ontem Hábitos, itens de consumo e produtos do dia a dia nem sempre atraem as crianças. Há quem valorize mais as "antiguidades"

Emília Prado
Especial para o Diario

Publicação: 18/11/2017 03:00

A internet é um espaço virtal útil para pesquisar informações sobre filmes, músicas, desenhos e outros produtos artísticos lançados todos os dias. Matheus Fonseca, de 9 anos, faz uso da ferramenta para descobrir novidades. Mas elas nem sempre são tão novas como a rede ou comuns entre pessoas da idade dele. É que o garoto curte o que foi produzido há um certo tempo. Através do YouTube, por exemplo, ele deu de cara com Beatles e Elvis Presley, dois ícones da música surgidos na metade do século passado. E, em meio a músicas infantis, sertanejos e ritmos atuais, ele se encantou com o rock clássico: “É o que eu gosto de ouvir desde pequeno, quando achei na internet. Meu pai também escutava em casa”. Foi a partir de um presente que conheceu o Rei do Pop, Michael Jackson. “Quando tinha seis anos, ganhei de uma amiga da minha mãe um DVD de Michael Jackson que tenho e escuto até hoje. É um dos meus preferidos”.

O interesse pelo passado não se resume à música ou à busca na internet. Quando não acha algo na rede, ele vai até a locadora de filmes que fica perto de casa. Lá, aluga produções estreladas por Charles Chaplin, um dos pioneiros do cinema. Na hora dos desenhos, concilia os mais recentes, como O Incrível mundo de Gumball, com os, digamos, menos recentes, como Dragon Ball Z, produção japonesa de quase 30 anos, famosa entre o público infantil.

O convívio com outras gerações é um dos fatores que aproximam crianças de elementos ou comportamentos que não são típicos da época delas. Tomás Menezes, 6, toca teclado e gosta muito de música clássica. As composições de Beethoven são aquelas de que mais gosta. O avô também toca piano e os dois costumam praticar juntos: “Foi o meu avô que me ensinou a tocar Asa branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, que costumo escutar. Comecei a aprender só de ouvir”. Na escola, a turma dele fez atividade de resgate cultural da obra de Gonzagão, e o estudante tocou o sucesso do sanfoneiro para os colegas.

Além da música clássica e das canções tradicionais da região, Tomás também gosta de escutar as composições do brasileiro Tim Maia, já falecido, e músicas de rock internacional dos anos 1970 e 1980 - por influência do pai. “Escuto sempre Tim Maia. Só que ainda não sei tocar nenhuma música dele no teclado, mas quero aprender”, conta o garoto.

A preferência por “coisas de antigamente” também pode se revelar em hábitos. Camilo Mendonça, 8, é prova. Segundo a mãe, a servidora pública Helena Mendonça, ele sempre mostrou interesse em sair com os amigos para jantar fora. “Gosto de me arrumar quando vou passear, quando sei que não vou correr nem brincar”, conta. Ele também desenvolveu outro costume pouco comum para a idade: “Amo tomar café”. “Quando meu pai começou a comprar cápsulas eu quis experimentar e gostei, acabei criando o hábito”.

Experimentar é essencial para conhecer coisas novas e desenvolver novos comportamentos e costumes, mesmo que incomuns. Estar atento às pessoas de diferentes idades e gostos é uma boa forma de começar.