Espelho, espelho meu O cultivo da vaidade pode até ser um hábito nascido na infância, mas fica o alerta: é preciso ter limites e priorizar a diversão

Emília Prado
Especial para o Diario

Publicação: 02/12/2017 03:00

Escolher as próprias roupas, o corte de cabelo e eventualmente um perfume fazem parte do processo de crescimento e de independência das crianças. Com o passar dos anos, cada pessoa vai criando um estilo próprio, de acordo com a personalidade e as referências do dia a dia. Mas até que ponto é natural dar tanta atenção à aparência na infância? Existe idade certa para isso?

Benjamin Silveira, de 11 anos, admite: “Sou muito vaidoso com tudo”. Roupa, sapato, mas o cabelo recebe um cuidado especial. Do corte à arrumação, ele escolhe e faz tudo sozinho. Antes de sair de casa, secador e pomada modeladora para deixar o penteado do jeito que gosta. Desde pequeno, gosta de se arrumar. “Passo um tempo me olhando no espelho, vendo se está tudo combinando. Sempre sou eu que escolho minhas roupas, invento meu próprio estilo e me visto como me sinto bem”, conta o estudante, que se inspira nos youtubers a que assiste para compor o guarda-roupa: “Christian Figueiredo, Gustavo Stockler e Felipe Castanhari. Além dos vídeos, acompanho também as fotos que eles postam nas redes sociais e presto atenção às roupas que estão usando”.

Mas as escolhas precisam ser naturais, livre de pressões como a da mídia, por exemplo, para não queimar fases da infância. A psicóloga Ana Nery explica por quê: “Juntamente com o mercado, a mídia atua fortemente no estímulo e desperta desde cedo nas crianças o desejo de atingir um padrãco imposto”. O desejo de se arrumar mais e dar mais prioridade à aparência costuma aparecer por volta dos 11 anos, na fase da pré-adolescência, diz a especialista.

A idade mínima nem sempre é levada em conta. Maria Luíza Patu, de 9 anos, revela que nem lembra quando começou a usar maquiagem. Só sabe que, vendo a mãe e outras pessoas da família, conheceu e aprendeu os truques de batons, sombras e pós. “Agora, não tem muita diferença entre a minha maquiagem e a da minha mãe. Usamos praticamente os mesmos produtos”, diz a garota. “Às vezes, ela que pede a minha ajuda com a maquiagem quando vamos sair”, acrescenta.

Assim como Maria Luíza, Maria Eduarda Medeiros, de 6 anos, começou cedo a gostar de se arrumar na frente do espelho. Ela recebe ajuda dos pais para alguns penteados, mas já arrisca produzir a própria maquiagem sozinha. A escolha das roupas, da cor do esmalte e do estilo do cabelo também são por conta de Duda. “Minhas amigas também gostam muito de se arrumar, como eu, mas não conversamos muito sobre isso”, explica a garota, que, apesar do gosto assumido, acredita que outras coisas são mais importantes.

Com limites


A psicóloga Ana Nery lista cuidados importantes para evitar exageros em relação à vaidade

Emagrecer para ficar "bonito"?
Nem pensar. Perder peso na infância só se for uma recomendação médica, por questões de saúde. E com acompanhamento de um profissional. Nada de regime da moda ou dieta para imitar modelos - e, para falar a verdade, essa história de ser magrinho na passarela nem cola mais. Portanto, mantenha refeições saudáveis, nutritivas.

Produtos de beleza?
Mesmo quando feitos para crianças, devem ser usados com moderação. Além da agressão à pele (no caso de maquiagem e cremes) e aos cabelos (produtos com química, tinturas), eles podem atrapalhar atividades naturais da infância.

Beleza é prioridade?
Não. A diversão e as atividades naturais da idade vêm primeiro. Deixar de brincar por não querer ficar suado? Não. Evitar sujar o cabelo ou o corpo porque quer ficar arrumado? Não.