Embaixada da paz na Rua da Glória Centro Islâmico do Recife reúne comunidade de cercade cem pessoas que professam fé pouco compreendida

Ellen Tavares
curiosamente24h@gmail.com

Publicação: 10/09/2016 09:00

Veneração: As cinco orações diárias são feitas em direção a Meca, cidade sagrada para o Islã (Anderson Ferreira/Esp. DP)
Veneração: As cinco orações diárias são feitas em direção a Meca, cidade sagrada para o Islã

Cidade de população majoritariamente cristã, o Recife já foi considerado pela comunidade local de muçulmanos um lugar favorável para a prática do islamismo no Ocidente. A presença de diferentes religiões é apontada como um aspecto positivo da capital pernambucana, embora em todo o Nordeste brasileiro não exista uma mesquita sequer, apenas salas de oração. Desde 1993, um discreto Centro Islâmico funciona na Rua da Glória, no bairro da Boa Vista. Fundado por um muçulmano egípcio, ele é o único na cidade e atrai frequentadores de várias localidades da região metropolitana. Desafiando o estigma de servir a uma religião equivocadamente associada ao terrorismo, os fiéis - em sua maioria compostos por brasileiros e senegaleses - se reúnem semanalmente e encontram paz nas orações.   

Nos últimos 20 anos, coube ao xeque (soberano, em árabe) Mabrouk El Sawy, que estudou teologia no Egito, a missão de coordenar as atividades do Centro, conduzindo preces e cerimônias nas datas comemorativas. O local também é usado para ensino de religião, aulas de árabe, casamentos e funerais. Os seguidores do islamismo no Recife fazem questão de sublinhar que não têm como objetivo converter pessoas à religião, pois acreditam que a conversão está relacionada ao destino e à fé individual. Quem escolher seguí-la, entretanto, deve se submeter às regras e normas regidas pelo Alcorão – considerado o livro sagrado. Somente neste ano, o pequeno espaço recebeu vinte novos integrantes e realizou cinco casamentos.

O conselheiro consultivo do Centro Islâmico do Recife, Alberto Bret, 62 anos, revela que possui família católica, mas se converteu ao Islã há dez anos. A decisão acrescentou novos costumes à sua rotina baseados no Alcorão, como jejuar nos 30 dias do mês do Ramadã - um período sagrado para os muçulmanos em que a fé é renovada. “O islamismo trouxe uma orientação mais sólida para a minha vida, com regras bem estabelecidas”, explica. No Centro, todos o conhecem como “Rashid”, nome que significa “atributo de Deus”. O apelido árabe não é obrigatório para muçulmanos, mas a maioria prefere adotar um.  

Recifense e frequentador do Centro há vinte anos, o aposentado Abdullah Cavalcante, 52, conta sobre uma experiência que tocou seu coração em 2012. Ele e um grupo de muçulmanos brasileiros receberam passagens de entidades islâmicas de São Paulo para a Hajj, que significa a peregrinação até a cidade de Meca – tida como quinto e último pilar da religião. “É fundamental na vida de um muçulmano sair de sua cidade natal até a cidade sagrada (Meca), mas quem não possuir condições financeiras ou de saúde é compreendido pela comunidade”, destaca Abdullah, que passou 17 dias na Arábia Saudita.

Além de brasileiros, senegaleses também costumam ir ao Centro Islâmico do Recife. Um deles é Amadou Toure, 46 anos, que se mudou para o Brasil há uma década e meia. Comerciante nas feiras dos bairros da Região Metropolitana do Recife, ele conta que é muçulmano desde o nascimento e pontua que, no Senegal, mais de 90% da população segue a religião islâmica. “Todo muçulmano, quando chega em um novo lugar, deve procurar um centro ou uma mesquita para se reunir e realizar as práticas religiosas”, diz. É comum a visita de grupos de viajantes, chamados de Jamah. São pessoas de diversas nacionalidades que se encontram para conhecer comunidades, conversar com muçulmanos de diferentes cidades e ensinar religião.

ATIVIDADES

Na próxima segunda-feira haverá a Eid al-Adha, a Festa do Sacrifício. Na ocasião, os participantes relembram a obediência praticada pelo personagem sagrado Abraão, repetindo o ritual e sacrificando carneiros para a preparação de comidas.

Existem cinco orações diárias que devem ser feitas pelos muçulmanos em horários diferentes. As preces são feitas em direção à cidade de Meca, localizada na Arábia Saudita.

Os princípios básicos da religião transformaram-se no Alcorão, livro sagrado do islamismo. Ele é lido da direita para a esquerda.

Você sabia?

O “cisma” islâmico teve início com a morte de Maomé, no ano 632. Na Arábia do século 7, havia disputa em torno da sucessão. Os xiitas creem que Ali, primo e cunhado do profeta, deveria ter sido o novo líder do islã, enquanto os sunitas aceitam Abu Bakr, aliado de Maomé, como o próximo califa. A divergência inicial se desenvolveu em distinções teológicas: os xiitas esperam o retorno de Mahdi, descendente de Ali, espécie de redentor do fim dos tempos

Serviço

Centro Islâmico do Recife
Endereço: Rua da Glória, 353, Boa Vista
Horário: das 9h às 15h, de segunda a sábado
Telefone: (81) 3423-1393