Em busca da paz em sua plenitude
Presente desde 2001 em Pernambuco, o budismo abraça seguidores de outras crenças na união por um mundo melhor
Ana Paula Neiva
aneiva@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 10/12/2016 03:00
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Uma das religiões que mais crescem nos países ocidentais, o budismo também está presente em Pernambuco. A filosofia de vida, como seus seguidores preferem chamar, surgiu na Índia há 2,5 mil anos. Criada pelo príncipe Sidarta Gautama, o Buda Shakyamuni, a prática tem ideias baseadas na ciência, medicina e psicologia. Sidarta tinha uma vida de luxo, mas sentia necessidade de servir e ajudar a quem precisava. Percorreu a região central da Índia ensinando suas doutrinas, espalhando ramificações pelo mundo. No Brasil, o budismo chegou com os imigrantes japoneses na década de 1930. Em Pernambuco, o templo Fo Guang Shan, que segue a tradição chinesa, foi aberto em outubro de 2002, em Olinda. Além das tradições chinesa e japonesa, há as vertentes tibetana, coreana e tailandesa.
Fundado pelo mestre Hsing Ting, o templo olindense é um dos quatro monastérios da ramificação chinesa no país. Os outros funcionam em São Paulo, Rio de Janeiro e Foz do Iguaçu (PR). Tem suas raízes no Budismo Mahayana, modelo mais tradicional, que abraça uma variedade maior de ensinamentos, possui uma visão mitológica e aborda questões filosóficas amplas. Seus praticantes se empenham em aplicar os ensinamentos do Buda no cotidiano, daí a denominação de Budismo Humanista. O templo propaga os princípios do monastério Fo Guang Shan, criado pelo mestre Hsing Yün, 48º patriarca do Budismo Chinês da Escola Chan (Zen) e fundador da ordem sediada em Taiwan. Seus pilares focam na educação, cultura, ação social e prática religiosa. Os cinco preceitos essenciais são: não matar (por isso, não comem carne), não mentir, não roubar, não vulgarizar o sexo e não se entorpecer. O símbolo que orna os budas não é uma suástica nazista, mas sim o Dharma, que representa a harmonia universal.
Segundo dados do do IBGE, 250 mil pessoas declaram ser budistas no país. Não há impedimento para que o simpatizante se declare. No entanto, o discípulo, formalmente falando, é ativo trabalhador em um templo, tendo um “nome de Dharma”, recebido em uma cerimônia denominada Refúgio da Joia Tríplice. “Os simpatizantes costumam ser apenas turistas ou pessoas que têm afinidades com palestras na Internet ou livros budistas”, explicou Aristides dos Santos, assessor de imprensa do templo central de São Paulo.
Os templos são montados por monges, também responsáveis pela administração e manutenção. Eles podem ser homens ou mulheres, mas precisam ser celibatários. No monastério de Fo Guang Shan, há dois mil monges, distribuídos em 200 templos. O templo central Zu Lai, inaugurado em 1992, em São Paulo, é o maior da América Latina. “Diariamente, dependendo da época, temos entre oito a 20 monges. Eles conduzem cursos, palestras, retiros, cerimônias, traduções de textos e publicações de livros, além de visitarem colégios, repartições públicas, orfanatos, asilos e em presídios”, disse Aristides.
O templo em Olinda reúne cerca de 70 associados e sobrevive de doações e aulas de ioga, Kung Fu, Taekwondo e das línguas mandarim e chinês. O templo também ajuda três creches da cidade. “Somos incentivados a praticar a bondade amorosa e compaixão com todos os seres”, comentou a professora de ioga e voluntária Tânia Maria de Amorim, 69. O templo fica na Avenida Ministro Marcos Freire, 2.095, em Casa Caiada. O telefone é 3432-0023.
Saiba mais
DHARMA
Palavra sânscrita derivada de “raiz”, que significa conduzir ou manter. É a base das filosofias da Índia. Doutrina moral sobre os direitos e deveres, também se remete à ordem social, conduta e virtude. É Deus assumindo a forma humana para cumprir um propósito.
Instrumentos do Dharma
1) Peixe de Madeira (Mu Y ü)
Bloco esculpido em formato de peixe. É usado como percussão nos cantos, colocado ao lado esquerdo do altar. É um símbolo por não fechar os olhos e estar sempre desperto.
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O gongo de metal é também usado como percussão. Fabricado em bronze, latão, cobre ou estanho, é posicionado ao lado direito do altar.
O BUDA
O termo quer dizer “aquele plenamente desperto e iluminado” em sânscrito. Há muitos budas, mas Shakyamuni ensinou o Dharma na Terra. Nasceu na Índia em 436 antes de Cristo, filho de um homem rico. Aos 29 anos, teve visões sobre sofrimento, doenças e morte, além de um andarilho que ensinou a alcançar a paz. Deixou a família e passou 45 anos repassando seus ensinamentos, até falecer aos 80 anos.
Alguns Budas
3) Amitahba
O nome significa “Luz infinita”. Quando alcançou a iluminação, fez 48 votos, o mais importante sendo “o de estabelecer um lugar onde não houvesse sofrimento”.
4) Kuan Yin Pu Sa
“Aquele que contempla e ouve todos os sons do mundo” é conhecido por ter mil olhos e mãos para salvar todos os seres e aplacar seus temores. Tem poder e compaixão infinitos.
5) Bodissatva Kshitigarbha
Fez voto de adiar sua própria passagem ao Nirvana (onde todo sofrimento é extinto) com objetivo de aliviar a vida dos que estão no Reino do Inferno.
6) Bhaishajya-Guru
Personifica o poder da cura e é conhecido como o Buda da Medicina. Seus seguidores colam seus nomes à imagem para que sejam abençoados com boa saúde.