Aprendizado e uma rica história

Publicação: 16/09/2017 03:00

O Seminário Propedêutico funciona nas dependências do Convento de Santo Antônio, que também abriga a igreja de mesmo nome, uma construção do ano de 1588 no Sítio Histórico de Igarassu. Tornado templo calvinista no período da ocupação holandesa (1630-1654), é um monumento barroco rico e que hoje abriga o Museu de Arte Sacra, cuja pinacoteca tem a mais importante coleção da fase colonial brasileira. O convento é o terceiro construído no Brasil pelos frades franciscanos e no passado já abrigou até um quartel-general das tropas revolucionárias durante a Revolução Praieira, em 1848, onde era guardado armamento. A igreja de Santo Antônio tem piso composto de várias covas não identificadas, onde foram enterrados os frades franciscanos. Desde 1939, o conjunto arquitetônico é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

No século 17, com o aumento da procura pelo Convento de Santo Antônio, decidiu-se ampliar o espaço. Criou-se então o noviciado, que chegou a abrigar 250 frades que seguiam em missões por todo o Nordeste, do Maranhão ao Sul da Bahia.

Nesse período, a estrutura da igreja começou ser enriquecida. Primeiro, com a talha barroca nos altares, cobertos com 220 quilos de ouro de 22 quilates, o forro e a azulejaria e o forro estilo rococó.

Com o aumento das vocações, a área foi ampliada e os religiosos construíram outra parte para abrigar o noviciado onde hoje está a pinacoteca. Mas as leis do Império proibiram que entrassem novos homens e mulheres nos conventos, uma vez que a coroa portuguesa queria que as pessoas se casassem e tivessem filhos para povoar o Brasil. A partir daí, teve início o declínio dos conventos.

Durante 50 anos vieram frades da Alemanha e da França para Igarassu. Com a guerra franco-prussiana não havia estrangeiros disponíveis. No século 19, o local tornou-se casa de férias do Seminário de Olinda e, no século 20, moraram as freiras ursulinas, que foram embora após epidemia de febre amarela.

Após esse período, vieram outras freiras para o convento e foi montado o Orfanato Santo Antônio, onde até o ano de 2015 moraram 300 crianças. Nesta época, a casa encerrou as atividades, pois havia apenas três freiras para cuidar do orfanato. As irmãs foram transferidas para outros conventos e as crianças passaram a viver em regime de externato. Frequentam a escola, têm alimentação, mas voltam para dormir em suas casas. Atualmente, são atendidas 117 crianças.

Cada vez mais raras, noviças buscam vida plena em Deus

Diferentemente do que acontece no campo das vocações masculinas, o número de mulheres que desejam dedicar-se à carreira religiosa é cada vez menor. Nas últimas décadas, no Brasil, observa-se decréscimo nas vocações. Em 1990, o total de freiras era de 37.380. Em 2014, caiu para 33.105, 11,14% a menos. O resultado preocupa institutos e ordens religiosas femininas, pois algumas correm risco de se extinguirem em menos de um século caso esse ritmo perdure.

Mas, por trás dos números frios, há histórias de vidas que encontraram novo rumo. Bruna Rodrigues Lôbo, 20, saiu de Silvânia, em Goiás, para seguir carreira religiosa, começando por Pernambuco. Há um ano e oito meses está internada no Instituto Maria Auxiliadora, na Várzea. “Senti um chamado quando ainda terminava o ensino médio. Sempre estudei em escola salesiana e me encantei com a espiritualiade das freiras”, resume a jovem, que chegou a ter namoros breves, mas nada de muita importância, como faz questão de definir.

Bruna é a caçula de uma família de classe média da zona rural da cidade goiana de 30 mil habitantes. Seu pai é caminhoneiro e a mãe costureira e dona de uma confecção. Estudou em escola de freiras e cresceu nesse ambiente. Chegou a trabalhar na adolescência como caixa e auxiliar administrativo de um supermercado e depois em um escritório de contabilidade. Aos 17 anos, decidiu entrar para um convento e se apresentou às irmãs salesianas. “No segundo semestre de 2014, iniciei uma convivência mais intensiva. Estudava pela manhã e, à tarde, participava de atividades pastorais, assistência, retiros e encontros do movimento salesiano”, lembrou.

No centro de formação da Várzea, Bruna estuda teologia, português e italiano, e faz trabalhos pastorais, dando aulas de primeira eucaristia na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário e de crisma no Colégio Nazareno, na Várzea. Ambas as instituições pertencem às irmãs salesianas. Atualmente, Bruna cumpre o segundo ano do aspirantado. Quando concluir o postulantado em dois anos, deverá fazer o noviciado em outra casa da instituição em São Paulo. As Auxiliadoras fazem votos de pobreza, castidade e obediência.

Sacerdotes diocesanos em alta na igreja

Dados relativos a 2015 indicam que o número de clérigos católicos no mundo é de 466.215, com 5.304 bispos, 415.656 sacerdotes e 45.255 diáconos. Houve diminuição de vocações na Europa, com 2.502 sacerdotes a menos em 2015 em relação ao ano anterior, enquanto África e a América tiveram aumentos de 1.133 e 1.104, respectivamente. O total de sacerdotes diocesanos aumentou em 971, chegando a 280.532, com crescimentos na África, América, Ásia e Oceânia. Nesta categoria específica, também houve diminuição na Europa. Os sacerdotes religiosos tiveram aumento total de 64 no mundo, chegando a 134.816 e consolidando a tendência verificada nos últimos anos, que viu crescimento na África e Ásia e diminuição na América, Europa e Oceania.

No Brasil, entre 2010 e 2014, percebeu-se leve aumento na porcentagem de padres religiosos, chegando a 2014 com 5,36% de padres nos institutos religiosos, contra 14,54% de clero diocesano. Esse crescimento de número de padres diocesanos estaria relacionado a questões sociais, uma vez que o clero traz elementos mais atrativos e condizentes com os dias de hoje.

O número de mulheres religiosas cai a cada ano no mundo. Passou de 721.935 em 2010 para 670.320 em 2015, 7,1% menos. No Brasil, a realidade é semelhante. No último censo, divulgado em 2015, foram registradas 33.105 freiras (religiosas professas, noviças e professas egressas), queda de 0,84% em relação a 2010, quando contaram-se 33.386 mulheres religiosas.  

No Brasil, o levantamento é realizado pelo Centro de Estatísticas Religiosas e Investigações Sociais com apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e da Conferência dos Religiosos do Brasil. O trabalho engloba 11.840 paróquias e mil congregações. Os resultados deverão estar disponíveis online no próximo ano.

A rotina

Dia a dia no seminário


De Segunda a Sexta

6h30 - Hora de acordar
Orações e missa
Café da manhã
Formação - Aulas de música, boas maneiras, palestras, confissão, atendimento psicoterápico e reforço de português
12h - Almoço
12h30 - Saída para pré-vestibular em Paulista
19h - Chegada ao seminário
Jantar
Orações
Formação - Assistem a filmes, livre para bate-papo, realizam trabalhos manuais e manutenção na casa
22h - Orações finais

Sábados e domigos

6h30 - Hora de acordar
Orações e missa
Em seguida, vão para as paróquias onde realizam trabalho juntamente com os padres

Etapas do ordenamento
A formação pode chegar a 12 anos

Seminário Propedêutico
  • Ficam por um período de um ano
  • Durante esse período, de segunda a sexta-feira, os jovens fazem curso pré-vestibular em um cursinho, localizado na cidade de Paulista
Seminário da Várzea
  • Fazem os estudos de teologia (quatro anos) e filosofia (três anos)
  • Depois dessa etapa seguem para estágio pastoral por um período de um ano, no qual vivenciam o aprendizado do seminário
  • Nove anos depois, são ordenados diáconos
  • Após seis meses, tornam-se padres