Missão espiritual e, ao mesmo tempo, prática Muitas vezes atraídos por referências como o padre Marcelo Rossi, seminaristas começam a auxiliar nas funções paroquiais desde o início de sua formação

Publicação: 16/09/2017 03:00

A rotina do seminário contempla cinco dimensões: intelectual, comunitária, humana afetiva, espiritual e missionária. “Eles fazem curso pré-vestibular num cursinho no Centro de Paulista, às tardes. Aprendem a viver em comunidade, respeitando uns aos outros, recebem apoio psicológico, fazem orações e ajudam os padres nas paróquias e catequeses, visitando doentes, acompanhando velórios, enterros e outras cerimônias religiosas”, explica Josivan Bezerra, reitor do seminário, ordenado como padre há 13 anos.

Ele ressalta que a vocação é algo concreto e individual. “É um chamado na escolha de vida daquele jovem. É no seminário que ele se encontra consigo mesmo”, completa. Muitos desses jovens vêm encaminhados de comunidades religiosas. Outros são influenciados pelas redes sociais. “A internet também tem sua parcela no despertar da vocação. Muitos querem seguir o sacerdócio inspirado em padres de sucesso, como o Marcelo Rossi, Fábio de Melo e Paulo Ricardo”, citou.

No fim desse mês, o Seminário Propedêutico estará lançando uma série de vídeos em um canal no YouTube, sobre o dia a dia dos seminaristas. Dez vlogs de 20 segundos vão mostrar detalhes sobre a convivência durante a formação religiosa. O lançamento deve acontecer durante as comemorações de Santo Cosme e Damião, dia 27, em Igarassu. Com imagens do fotógrafo Rodrigo Costa, os vídeos também trazem depoimentos de jovens seminaristas.

O caminho que leva a uma escolha de fé

Bacharel em direito, Fillipe Gustavo Correia Lima, 28, morou em Catende, Mata Sul, até os 15 anos. Estudou no Colégio Santa Terezinha da ordem religiosa Nossa Senhora do Bom Conselho, naquele município. E foi lá que começou a participar de encontros vocacionais. Na adolescência veio para o Recife estudar e ficou morando em Boa Viagem. Prestou vestibular para o curso de direito por influência do pai, que tinha formação superior e almejava o mesmo para os filhos.

Fillipe Gustavo diz que sentiu o chamado vocacional ainda no quinto período da faculdade. “Não tive coragem de abandonar os estudos. Formei-me e fui trabalhar num escritório de advocacia como assistente jurídico, mas não me sentia completo”, contou. Residindo na Zona Sul, frequentava a igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem, na Pracinha, quando se aconselhou com o padre Fábio Farias.

Nesse meio-tempo, chegou a ter três namoradas. Os relacionamentos, no entanto, não deram certo. Assim, após concluir a graduação, começou a participar dos encontros vocacionais no Seminário da Várzea. Durante um ano, ia às reuniões todo terceiro domingo do mês. “Foi quando me encontrei realmente e tive força para largar a profissão de advogado. Aprendi que ser feliz é seguir a vocação”, diz o estudante, que está desde janeiro está no seminário.

Uma decisão tomada ainda na infância

Natural de Moreno, cidade situada na Região Metropolitana do Recife, Joab Domingos de França, 18 anos, é um dos mais novos seminaristas da arquidiocese. Passou a infância em Jaboatão Centro. Levado pela mãe, frequentava as missas na Igreja de Santo Amaro, onde foi coroinha. As 14 anos, teve despertada sua vontade para o sacerdócio. Pediu ajuda ao padre Deonilson Nogueira, que cuidava da paróquia na época. O sacerdote teria o orientado a esperar, amadurecer a ideia. E assim Joab fez.

Somente ao concluir o ensino médio no ano passado, após fazer provas do Enem, resolveu procurar o Seminário da Várzea, no Recife, onde participou de uma semana de convivência. Foi quando tomou sua decisão e abandonou o último módulo do curso técnico em análises clínicas para se dedicar à religião. Está no Seminário Propedêutico há sete meses e diz que não se arrepende.

“O seminário não é apenas um lugar para formar padres. Aqui, a gente tem oportunidade de discernir a vocação. Hoje tenho certeza desse chamado para minha vida”, afirma. Joab é o caçula de quatro irmãos e admite que encontrou resistência por parte da família ao tomar sua decisão. “Meus irmãos são todos formados e meus pais questionaram isso. Mas aqui também terei a oportunidade de estudar e estar perto de Deus”, enfatiza.

A revelação de Nossa Senhora


Foi só depois de conquistar a independência financeira que José Renato Silva Lustosa, 28, tomou a decisão de entrar para a igreja. Ex-funcionário de uma rede de lojas de departamentos, abandonou uma carreira promissora de cinco anos, com salário diferenciado, para ingressar no seminário. A família chegou a questioná-lo. O pai, químico têxtil aposentado, e a mãe, dona de casa, sonhavam em vê-lo casado e com filhos. Mas José Renato seguiu outro caminho. Tomou sua decisão em 2015 e há um ano está no seminário.

Antes disso, chegou a manter relacionamentos amorosos com três moças, porém nada duradouro. José Renato conta que antes de se apresentar ao seminário, sua mãe teve um sonho com Nossa Senhora. “Foi um aviso pra mim. A santa apareceu para ela dizendo que ia trazer muitas bênçãos para a nossa família”, diz o bacharel em direito, que é natural do Recife.

“Eu amadureci a ideia e tomei uma decisão acertada já com minha independência financeira. As pessoas, às vezes, dizem que muitos seminaristas procuram a igreja por falta de opção. Comigo foi justamente ao contrário. Tinha carreira em plena ascensão mas optei por servir a Deus”, afirmou José Renato, que pretende seguir a linha mais tradicional dos padres com privações de vida em comunidade e votos de pobreza, com pouco dinheiro.