Cinco séculos de uma revolução
Quinhentos anos da reforma protestante também serão lembrados com programação em Pernambuco
ANA PAULA NEIVA
aneiva@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 28/10/2017 03:00
Os 500 anos da reforma protestante, que serão comemorados em 31 de outubro em todo o mundo, também vão ser lembrados em Pernambuco. Das 10h às 12h da terça-feira haverá sessão solene na Câmara do Recife, convocada pela vereadora Michelle Colins (PP). Entre os dias 8 e 10 de novembro, a Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), realizará o seminário A herança da reforma: ler e reler a reforma, passados 500 anos de seu início. O evento deverá reunir religiosos, professores, especialistas e um público de interessados em conhecer a história e debater a herança deixada pelo movimento nas igrejas cristãs. A programação completa pode ser conferida na página do site www.reforma500anos.org.
Considerado um dos eventos que separam a Idade Média da era contemporânea, a reforma protestante começou no início do século 16, na Alemanha. Discordando de algumas práticas da Igreja Católica, o monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) resolveu pregar 95 teses teológicas na porta da Catedral de Wittenberg, na Saxônia-Anhalt. O ato acabou gerando transformações em doutrinas que perduram até os dias atuais.
Lutero questionava a grande influência política e social que o catolicismo exercia naquela época. “O papa chegou a ter uma fortuna maior do que muitos monarcas. Os cargos eclesiásticos eram disputados pela aristocracia e faziam parte de conchavos políticos. Insatisfeitos, reis, príncipes e duques aproveitaram para proclamar sua independência em relação ao sumo pontífice. Isso fica claro no apoio que eles deram a Lutero. Os reinos estavam cansados de mandarem dinheiro para Roma”, explicou o pastor Edjaelson Pedro da Silva, doutorando no programa de pós-graduação em ciência da religião da Unicap.
Após a reforma, qualquer pessoa seria capaz de alcançar a salvação, segundo os protestantes. Ele se opunham à exploração de indulgências, valores cobrados pela igreja pelo perdão dos pecados, e também à venda de relíquias (restos mortais de santos ou partes de objetos ligados a eles, que eram comercializados como amuletos).
Edjaelson, que também é teologo e bacharel em direito, enfatiza que a reforma teve ainda motivações espirituais. “Era a busca de uma resposta pelo homem, através da própria religião. Lutero iniciou essa busca questionando os dogmas já estabelecidos. Ele não queria romper com a igreja nem fundar outra. Queria apenas uma reforma, mas acabou excomungado em 1521”, acrescentou.
A Reforma também proporcionou uma nova consciência de trabalho. “Com o calvinismo, o acúmulo de bens passou a ser visto como bênção do esforço de cada um, o que proporcionou imensas possibilidades de produção econômica”, avaliou Edjaelson. Dessa forma, ocorreu também o fortalecimento da democracia. “No século 19, o catolicismo condenou o protestantismo e a democracia como sinais de deteorização da sociedade”, diz o doutorando, que também pesquisa a influência do protestantismo no sistema jurídico brasileiro na época do Império.
O movimento também se refletiu na educação da população. Lutero defendia que as escrituras pudessem ser interpretadas por todos. Por isso, traduziu a Bíblia do latim para o alemão popular, uma vez que naquela época o conhecimento era restrito.
“Assim, o livro ficou mais acessível e ajudou na disseminação da leitura e na divulgação do protestantismo na Europa”, comentou Edjaelson. Na tentativa de conter esse avanço, a Igreja Católica fez uma contrarreforma, promovendo o Concílio de Trento (1545-1563). Foram criadas novas regras, condenando a venda de indulgências e a corrupção.
Uma nova ótica
Seminário
A herança da reforma: Ler e reler a reforma, passados 500 anos de seu início
Projeto internacional de pesquisa histórico-religiosa e Congresso internacional Atualidade da Reforma - 8, 9 e 10 de novembro, na Unicap
Organizadores: Newton Darwin de Andrade Cabral (coordenador- Unicap), Luiz Carlos Luz Marques (Unicap), Carlos André Macedo Cavalcanti (UFPB) e Riccardo Burigana (Centro Studi per l'Ecumenismo in Italia)
8 de novembro
10h - Credenciamento
14h/18h - Sessões temáticas
19h/20h30 - Abertura oficial com o professor Riccardo Burigana, do Instituto di Studi Ecumenici San Bernardino di Venezia, ISE, auditório G2
Título: Igreja em Reforma
9 de novembro
8h30 - Animação cultural, auditório G2
9h/10h30 - Conferência e debates, auditório G2
Professor Lauri Wirth, da Universidade Metodista de SP
Título: críticas teológicas ao sistema mundial emergente no século XVI: leituras convergentes entre movimentos cristãos em conflito
11h/12h30 - Mesas temáticas
14h/18h - Sessões temáticas
18h - Celebração Ecumênica, auditório G2
Presidido pelo diácono guardião Carlos Beethoven Lisboa Melo (Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e Conic-PE)
10 de novembro
8h30 - Animação cultural, auditório G2
9h/10h30 - Conferência e debates, auditório G2
Convidado: professor Wilhelm Waschholz, das Faculdades EST
Título: Ética no pensamento de Lutero: a serviço da Igreja, economia e política
11h/12h30 - Mesas temáticas
Mais informações sobre temas: www.reforma500anos.org
Considerado um dos eventos que separam a Idade Média da era contemporânea, a reforma protestante começou no início do século 16, na Alemanha. Discordando de algumas práticas da Igreja Católica, o monge alemão Martinho Lutero (1483-1546) resolveu pregar 95 teses teológicas na porta da Catedral de Wittenberg, na Saxônia-Anhalt. O ato acabou gerando transformações em doutrinas que perduram até os dias atuais.
Lutero questionava a grande influência política e social que o catolicismo exercia naquela época. “O papa chegou a ter uma fortuna maior do que muitos monarcas. Os cargos eclesiásticos eram disputados pela aristocracia e faziam parte de conchavos políticos. Insatisfeitos, reis, príncipes e duques aproveitaram para proclamar sua independência em relação ao sumo pontífice. Isso fica claro no apoio que eles deram a Lutero. Os reinos estavam cansados de mandarem dinheiro para Roma”, explicou o pastor Edjaelson Pedro da Silva, doutorando no programa de pós-graduação em ciência da religião da Unicap.
Após a reforma, qualquer pessoa seria capaz de alcançar a salvação, segundo os protestantes. Ele se opunham à exploração de indulgências, valores cobrados pela igreja pelo perdão dos pecados, e também à venda de relíquias (restos mortais de santos ou partes de objetos ligados a eles, que eram comercializados como amuletos).
Edjaelson, que também é teologo e bacharel em direito, enfatiza que a reforma teve ainda motivações espirituais. “Era a busca de uma resposta pelo homem, através da própria religião. Lutero iniciou essa busca questionando os dogmas já estabelecidos. Ele não queria romper com a igreja nem fundar outra. Queria apenas uma reforma, mas acabou excomungado em 1521”, acrescentou.
A Reforma também proporcionou uma nova consciência de trabalho. “Com o calvinismo, o acúmulo de bens passou a ser visto como bênção do esforço de cada um, o que proporcionou imensas possibilidades de produção econômica”, avaliou Edjaelson. Dessa forma, ocorreu também o fortalecimento da democracia. “No século 19, o catolicismo condenou o protestantismo e a democracia como sinais de deteorização da sociedade”, diz o doutorando, que também pesquisa a influência do protestantismo no sistema jurídico brasileiro na época do Império.
O movimento também se refletiu na educação da população. Lutero defendia que as escrituras pudessem ser interpretadas por todos. Por isso, traduziu a Bíblia do latim para o alemão popular, uma vez que naquela época o conhecimento era restrito.
“Assim, o livro ficou mais acessível e ajudou na disseminação da leitura e na divulgação do protestantismo na Europa”, comentou Edjaelson. Na tentativa de conter esse avanço, a Igreja Católica fez uma contrarreforma, promovendo o Concílio de Trento (1545-1563). Foram criadas novas regras, condenando a venda de indulgências e a corrupção.
Uma nova ótica
- O monge Martinho Lutero denunciou a deturpação do evangelho, a venda de indulgências, a corrupção, o enriquecimento ilícito e a falta de celibato clerical.
- Lutero pregava que somente a fé em Deus, na graça e na misericórdia divina, salvava as pessoas, ideia contrária à salvação pela compra de indulgências
- Também defendia a livre interpretação da Bíblia. Escreveu, inclusive, uma versão em alemão mais popular para que as pessoas interpretassem melhor as escrituras
- A venda de indulgências era praticada por Roma. Uma espécie de pergaminho que perdoava os pecados dos fiéis. As indulgências eram vendidas em troca de doação em dinheiro à Igreja
- No calvinismo, um dos sinais da salvação é a riqueza acumulada por meio do trabalho. A doutrina condenava o luxo. Era preciso investir o lucro em mais trabalho
- Com a reforma, a burguesia foi liberada das proibições eclesiásticas e das práticas extorsivas comerciais e bancária. Os camponeses também foram poupados de obrigações leoninas
Seminário
A herança da reforma: Ler e reler a reforma, passados 500 anos de seu início
Projeto internacional de pesquisa histórico-religiosa e Congresso internacional Atualidade da Reforma - 8, 9 e 10 de novembro, na Unicap
Organizadores: Newton Darwin de Andrade Cabral (coordenador- Unicap), Luiz Carlos Luz Marques (Unicap), Carlos André Macedo Cavalcanti (UFPB) e Riccardo Burigana (Centro Studi per l'Ecumenismo in Italia)
8 de novembro
10h - Credenciamento
14h/18h - Sessões temáticas
19h/20h30 - Abertura oficial com o professor Riccardo Burigana, do Instituto di Studi Ecumenici San Bernardino di Venezia, ISE, auditório G2
Título: Igreja em Reforma
9 de novembro
8h30 - Animação cultural, auditório G2
9h/10h30 - Conferência e debates, auditório G2
Professor Lauri Wirth, da Universidade Metodista de SP
Título: críticas teológicas ao sistema mundial emergente no século XVI: leituras convergentes entre movimentos cristãos em conflito
11h/12h30 - Mesas temáticas
14h/18h - Sessões temáticas
18h - Celebração Ecumênica, auditório G2
Presidido pelo diácono guardião Carlos Beethoven Lisboa Melo (Igreja Sirian Ortodoxa de Antioquia e Conic-PE)
10 de novembro
8h30 - Animação cultural, auditório G2
9h/10h30 - Conferência e debates, auditório G2
Convidado: professor Wilhelm Waschholz, das Faculdades EST
Título: Ética no pensamento de Lutero: a serviço da Igreja, economia e política
11h/12h30 - Mesas temáticas
Mais informações sobre temas: www.reforma500anos.org
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