O filme que apresentou o ritual às massas

Publicação: 30/06/2018 03:00

Desde o lançamento desta obra-prima do diretor William Friedkin, adaptada do romance de William Peter Blatty, O exorcista segue a despertar interesse mundo afora. Foi um dos maiores sucessos da história do cinema não só pela excelente arrecadação nas bilheterias (89 milhões de dólares só nos Estados Unidos), mas também pela recepção calorosa dos críticos à luta dos padres Merrin (Max von Sydow) e Karras (Jason Miller) para salvar a menina Regan (Linda Blair) das garras do demônio.

Entre as curiosidades e os mistérios que rondam o filme, está a metodologia pouco convencional do diretor durante a gravação da película. Buscando maior realismo das interpretações, Friedkin andava armado e dava tiros para o alto no set a fim de tensionar o elenco e captar reações sem avisar que a câmera estava rodando. Ele também costumava colocar música em alto volume no estúdio.

O método peculiar do diretor chegou a provocar uma séria lesão na coluna da atriz Ellen Burstyn, que interpretou a mãe de Regan. Na sequência em que Ellen deveria ser arremessada contra a parede e arrastada, Friedkin fez a atriz usar um colete atado em uma corda, que a puxava para trás com força. Porém, ele pediu ao câmera para registrar a cena antes, sem que Ellen fosse avisada sobre o baque.

O diretor também esbofeteou William O’Malley, um religioso de verdade que deu vida ao personagem do padre Joseph Dyer, para captar uma expressão mais verdadeira de aflição. Por garantia e para gerar mais expectativa em relação ao filme, Friedkin pedia ainda para que o set fosse benzido regularmente. Apesar disso, durante as filmagens, nove pessoas ligadas direta ou indiretamente à produção morreram. Os atores Jack MacGowran e Vasiliki Maliaros faleceram antes do lançamento do filme.

Entre a premiére em 19 de junho e o lançamento nos cinemas em 26 de dezembro de 1973, a Warner Bros. promoveu sessões especiais de exibição. O fato e as reações de quem assistiu ao filme antes de ele chegar ao circuito aumentaram a expectativa do público.

Friedkin chegou a vetar as sessões-teste com plateia, pois elas costumavam provocar alterações e cortes nos filmes pela Warner. Ele dizia que se a produtora levasse em conta o resultado dessas sessões, jamais lançaria O exorcista. Em 2000, o filme foi relançado na “versão do diretor”, com cópia restaurada e 11 minutos de cenas que ficaram de fora ou diferentes da original, entre elas a que mostra Regan descendo a escadaria da casa com o corpo contorcido, aparentando ser uma aranha.

O incômodo que o filme causava foi incorporado ao marketing. Em algumas salas de cinema, saquinhos para vômito eram distribuídos. Havia também anúncios alertando que a exibição não era recomendada para cardíacos e gestantes. A estratégia de divulgação resultou em filas imensas na estreia oficial.  

Apesar de ter sido associado à “agonia”, “medo” e “mal-estar” e dos tenebrosos episódios que rondaram o set, o sucesso do filme só crescia. A produção recebeu dez indicações ao Oscar, incluindo as categorias de melhor direção e melhor filme. Acabou levando duas estatuetas: roteiro e som. Assim como todas as fases de produção do filme, a indicação ao Oscar também foi cercada por polêmicas. A atriz Mercedes McCambridge, que dublou a voz demoníaca de Linda Blair, considerou-se injustiçada pela falta de crédito. Ao ver Linda concorrer ao prêmio de atriz coadjuvante, Mercedes processou a Warner.