Uma missão de fé O trabalho de evangelização é mais difícil nos países sem liberdade religiosa

Tania Passos
tania.passos@diariodepernambuco.com.br

Publicação: 23/06/2018 09:00

As missionárias Graça Irakoze, 34 anos, e Odete Nduwayezu, 35 anos, são sobreviventes. Elas nasceram em Burundi, um dos países do continente africano, que faz fronteira com Ruanda, e viveu sob guerra civil de 1996 a 2006 com um saldo de mais de 300 mil mortos. Lá existem dois grupos étnicos: os hutus, que representam 85% da população (cerca de 10,5 milhões de habitantes) e os tutsi, que são apenas 14% da população e estão no comando do país. Graça e Odete fazem parte dos hutus, a maioria marginalizada. Em Burundi, 75% da população é católica e segundo elas, o islamismo vem ganhando força. A vida delas ficou ainda mais difícil quando decidiram fazer parte da igreja evangélica. Lá o destino religioso está diretamente ligado às tribos a qual pertence cada família.

Foi no Congresso da 33 ª Assembleia Geral Ordinária da Convenção dos Ministros do Planalto Central (Comadeplan), em Brasília, órgão ligado à Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB), nos dias 15 e 16 de junho, que encontramos as missionárias Graça e Odete. Além da forma típica de se vestir com turbantes e roupas coloridas, o entusiasmo pelos ensinamentos do evangelho chamaram atenção.

Agarrada com a Bíblia colada ao peito, Odete chorava e agradecia pela oportunidade de exercer a fé sem medo de ser perseguida ou agredida. Há quatro anos ela veio para o Brasil com visto de estudante e está concluindo um curso de auxiliar de enfermagem e já tem data para retornar ao seu país no mês de setembro, mas ainda falta o dinheiro da passagem. “Meu sonho é conseguir um visto permanente para não precisar voltar, mas não é fácil. Teria que viajar para Burundi e de lá para o Quênia e tudo é custo e mesmo assim não é certeza conseguir”, revelou.

Voltar para Burundi é por vezes relembrar o sofrimento que passou. Por ter escolhido uma religião diferente da família ela apanhou até quase desfalecer. “O meu tio me bateu com um cipó nas costas e na minha cabeça. Até hoje sofro as consequências e por isso resolvi sair de casa”, relembra.

Foi nesse momento que os destinos de Graça e Odete se cruzaram. O pastor da igreja local levou Odete para casa da mãe de Graça, que já era evangélica. “Nós vivíamos bem quando o meu pai era vivo. Mas ele foi brutalmente assassinado, teve a cabeça degolada e o corpo cortado em pedaços e todos os bens da família foram saqueados. Minha mãe só não ficou louca porque Jesus a salvou”. Com 12 filhos para criar sozinha, ela ainda adotou mais três, entre eles Odete. “Todos os filhos da milha mãe, inclusive os adotados, conseguiram estudar e se formar e ela recuperou parte dos bens do meu pai que haviam sido saqueados”, disse Graça.

Há oito anos a missionária Graça veio para o Brasil e conseguiu visto permanente. Ela conta que não queria sair do seu país e de perto da sua família, mas atendeu a um chamado de Deus e largou o emprego e veio sem saber falar nada em português. Em Burundi são falados os idiomas inglês e francês, além dos dialetos locais.“Na embaixada da Tanzânia pedi visto e eles perguntaram se era de turista ou a trabalho e Deus fez eles me darem um visto permanente. Quando cheguei peguei um táxi sem saber a língua daqui e o carro parou num posto de combustível e lá Deus colocou um casal, que falava inglês e me ajudou. Deus preparou tudo e na igreja que fiquei o pastor pagou meu aluguel. Foi assim que comecei a minha jornada aqui no Brasil há oito anos”, contou.

Depois de se estabelecer ela conseguiu trazer a irmã adotiva Odete, que se prepara para fazer a viagem de volta. Antes de partir, Odete espera conseguir ajuda dos brasileiros para os irmãos que estão em Burundi. “Não queria ir de mãos vazias. Os irmãos de lá vão pedir ajuda porque estou voltando do Brasil, mas só tenho o conhecimento para passar. Estou também aprendendo a costurar para ensinar a eles”.

Segundo a missionária Graça no seu país existem 73 igrejas evangélicas e muitas fazem os cultos debaixo de uma árvore. “Qualquer lugar que os irmãos possam se reunir para ouvir e conhecer o evangelho de Cristo serve como ponto de pregação. Lá temos muita carência também de Bíblias, que precisam ser no nosso dialeto e somente no Quênia é possível encontrar e o custo é equivalente a R$ 90 por exemplar, mas os recursos são poucos”, revelou. A Comadeplan dedica um culto por mês aos missionários e as ofertas e dízimos são enviados para eles. “São grandes as dificuldades financeiras principalmente nos países mais pobres”, afirmou o pastor Rinaldo Alves, presidente da Comadeplan.

Países com mais riscos para os cristãos

1. Coreia do Norte

População: 20 milhões; 400.000 cristãos
Religião predominante: Ateísmo
Tipo de regime: Dinastia comunista ditatorial

2. Irã
População: 74,2 milhões; 450,000 cristãos
Religião predominante: Islamismo
Tipo de Governo: República islâmica

3. Afeganistão
População: 28,1 milhões; pouquíssimos cristãos.
Religião predominante: Islamismo
Tipo de governo: República islâmica

4. Arábia Saudita
População: 25,7 milhões, 565,400 cristãos
Religião predominante: Islâmica
Tipo de Governo: Monarquia

5. Somália
População: 9,1 milhões, pouquíssimos cristãos.
Religião predominante: Islâmica
Tipo de governo: gentilmente descrito com “em transição”

6. Maldivas

População: 311.000; pouquíssimos cristãos
Religião predominante: Islamismo
Tipo de governo: República

7. Iemen
População: 23,6 milhões; pouquíssimos cristãos
Religião predominante: Islâmica;
Tipo de governo: República

8. Iraque
População: 30,7 milhões; 334.000 cristãos
Religião predominante: Islâmica
Tipo de governo: democracia parlamentarista

9. Uzbekistão

População: 27,5 milhões; 208.600 cristãos
Religião predominante: Islâmica
Tipo de governo: Republicano

10. Laos
População: 6,4 milhões; 200.000 cristãos
Religião predominante: Budismo
Tipo de governo: Comunista

Fonte: Site cristão Genizah