Como nasce um cheiro brasileiro
Perfumaria nacional busca tendências de comportamento em grandes centros urbanos e trabalha por cerca de dois anos para desenvolver nova fragrância ao nosso estilo
Larissa Lins
larissa.lins@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 29/07/2017 09:00
São José dos Pinhais – Em diferentes centros urbanos do mundo, novos perfumes podem nascer todos os dias. Ou, pelo menos, o conceito deles. A partir do mapeamento de estilo e comportamento em pontos estratégicos do globo - como Paris, Nova York, São Paulo -, pesquisadores de marketing e desenvolvimento de produtos apontam tendências que serão, mais tarde, transformadas em cheiros. A influência da moda sobre a perfumaria explica por que o grunge dos anos 1990, com os cabelos sujos e as calças rasgadas, foi determinante para o cheiro daquela época. Assim como o retorno do mood oitentista às passarelas pode inspirar a criação dos perfumes que chegarão às prateleiras nas próximas temporadas.
“Criar uma fragrância é como compor uma música. Do mesmo modo que um compositor traduz a melodia para a partitura, o perfumista transforma sensações em cheiros. A teoria está toda ali, mas é preciso que as pessoas sintam aquilo. Os perfumes resgatam memórias, nos levam de volta a fases importantes, pessoas que conhecemos, coisas que nos aconteceram, nos lembra de quem somos ou queremos ser. É diferente da criação de qualquer outro produto cosmético”, explica Miguel Krigsner, fundador d’O Boticário. A marca, referência nacional em perfumaria, criou cheiros marcantes para o público brasileiro nas últimas três décadas - sendo reconhecida por rótulos como Thaty, Malbec, Ma Chérie, Floratta, Coffee, Free - e abriu as portas de sua fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná, neste mês, para apresentar Impression, primeiro eau de parfum masculino de Eudora, um dos braços do Grupo Boticário - que abrange, ainda, os selos The Beauty Box e Quem disse, Berenice?.
No Brasil, onde a perfumaria de fabricação nacional ganhou força nos anos 1960, com a criação da colônia Rastro (considerada o primeiro perfume brasileiro), e se consolidou nas duas décadas seguintes, a partir do surgimento de empresas como Natura, Água de Cheiro, L’acqua di Fiori e O Boticário, a identidade cultural é ingrediente importante na alquimia de novos cheiros. Os perfumes retêm mais memórias do que tendências, contendo, geralmente, ingredientes típicos da flora brasileira e “contando” histórias com as quais o público-alvo possa se identificar. Impression, por exemplo, conta a história de um homem maduro, que valoriza sua experiência, a passagem do tempo e o apoio das pessoas à sua volta, segundo o perfumista Cesar Veiga, idealizador do novo cheiro. “Para isso, usamos a sofisticação das madeiras, o fundo quente das notas balsâmicas, nuances de pimenta branca e cardamomo. É um perfume amadeirado ambarado, isso significa que é masculino, sedutor e marcante”, ele explica. A pretensão do grupo comandado
por Krigsner é que Impression seja para Eudora o que Malbec foi para O Boticário, um marco referencial no catálogo de lançamentos.
Cerca de dois anos foram necessários para produzir o cheiro de Impression (100ml, R$ 149,90), tempo médio entre a concepção, os testes e o amadurecimento de qualquer nova fragrância até seu envio ao mercado. Parte dos projetos, frise-se, morre durante este percurso: dos 1.600 produtos concebidos por ano na fábrica de São José dos Pinhais, onde atuam 250 funcionários (entre farmacêuticos, bioquímicos, engenheiros químicos e biólogos), cerca de 1.200 têm chance de chegar às prateleiras. Em se tratando dos perfumes, fatores como durabilidade (fixação na pele), impacto (a primeira impressão) e rastro (o cheiro que uma pessoa deixa para trás) são levados em consideração antes que a fabricação siga adiante.
A repórter viajou a convite de Eudora
Cruelty free
A perfumaria brasileira é um exemplo para o mundo: Grupo Boticário (O Boticário, Eudora, Quem disse, Berenice? e The Beauty Box), Água de Cheiro, L’acqua di Fiori e Natura não testam em animais, segundo a Agência de Notícias de Direitos Animais (Anda)
Missão olfativa
Passo a passo dos cheiros
Rodrigo Lombardi // ator convidado para a campanha de lançamento de Impression
Como avalia a valorização da vaidade masculina, crescente na última década?
Nunca tive preconceito quanto à vaidade masculina. Eu sempre usei perfume. Cuido da minha pele, do meu corpo, do meu cabelo. Mas acho importante que mais homens se sintam confortáveis com isso. Hoje você vê um homem comprando acessórios, observando tendências de moda ditadas pelas passarelas e pela televisão. Isso é ótimo.
Como se vê enquanto influenciador, uma personalidade que pode ditar tendências na TV? Você se considera referência de beleza?
Eu acho que não sou exatamente o tipo de homem que eu considero bonito. Embora eu nunca tenha parado pra pensar quem seria esse homem de referência… Acho que a beleza tem a ver com sedução, e isso é mais uma questão de energia do que simplesmente tática. Eu sempre fui o mais novo da minha turma de amigos, as meninas queriam os caras mais velhos. Fui crescendo e me valendo de um repertório de referências que ganhei vendo filmes antigos, ouvindo Sinatra… Na adolescência, tomei muito tombo de mulher.
E como um perfume contribui para a beleza, a sedução?
Eu acho que um homem tem três cartões de visita: o modo de olhar, o sorriso e o cheiro. A mulher também, na verdade… Eu, por exemplo, não gosto quando uma mulher usa perfume muito doce, não me atrai. Ela pode ser linda, mas perfume doce e forte não funciona. O mesmo vale para o homem, essa coisa de saber escolher um cheiro para ser seu.
E em relação a roupas, poderia compartilhar uma dica de estilo, uma preferência sua?
Eu adoro cueca nova! (risos) De verdade, usar uma cueca nova é a melhor coisa do mundo! Me deixa feliz poder comprar cuecas novas, é uma dica que eu dou. Mas o que não pode faltar no meu armário, com certeza, é camiseta branca e camiseta preta.
“Criar uma fragrância é como compor uma música. Do mesmo modo que um compositor traduz a melodia para a partitura, o perfumista transforma sensações em cheiros. A teoria está toda ali, mas é preciso que as pessoas sintam aquilo. Os perfumes resgatam memórias, nos levam de volta a fases importantes, pessoas que conhecemos, coisas que nos aconteceram, nos lembra de quem somos ou queremos ser. É diferente da criação de qualquer outro produto cosmético”, explica Miguel Krigsner, fundador d’O Boticário. A marca, referência nacional em perfumaria, criou cheiros marcantes para o público brasileiro nas últimas três décadas - sendo reconhecida por rótulos como Thaty, Malbec, Ma Chérie, Floratta, Coffee, Free - e abriu as portas de sua fábrica em São José dos Pinhais, no Paraná, neste mês, para apresentar Impression, primeiro eau de parfum masculino de Eudora, um dos braços do Grupo Boticário - que abrange, ainda, os selos The Beauty Box e Quem disse, Berenice?.
No Brasil, onde a perfumaria de fabricação nacional ganhou força nos anos 1960, com a criação da colônia Rastro (considerada o primeiro perfume brasileiro), e se consolidou nas duas décadas seguintes, a partir do surgimento de empresas como Natura, Água de Cheiro, L’acqua di Fiori e O Boticário, a identidade cultural é ingrediente importante na alquimia de novos cheiros. Os perfumes retêm mais memórias do que tendências, contendo, geralmente, ingredientes típicos da flora brasileira e “contando” histórias com as quais o público-alvo possa se identificar. Impression, por exemplo, conta a história de um homem maduro, que valoriza sua experiência, a passagem do tempo e o apoio das pessoas à sua volta, segundo o perfumista Cesar Veiga, idealizador do novo cheiro. “Para isso, usamos a sofisticação das madeiras, o fundo quente das notas balsâmicas, nuances de pimenta branca e cardamomo. É um perfume amadeirado ambarado, isso significa que é masculino, sedutor e marcante”, ele explica. A pretensão do grupo comandado
por Krigsner é que Impression seja para Eudora o que Malbec foi para O Boticário, um marco referencial no catálogo de lançamentos.
Cerca de dois anos foram necessários para produzir o cheiro de Impression (100ml, R$ 149,90), tempo médio entre a concepção, os testes e o amadurecimento de qualquer nova fragrância até seu envio ao mercado. Parte dos projetos, frise-se, morre durante este percurso: dos 1.600 produtos concebidos por ano na fábrica de São José dos Pinhais, onde atuam 250 funcionários (entre farmacêuticos, bioquímicos, engenheiros químicos e biólogos), cerca de 1.200 têm chance de chegar às prateleiras. Em se tratando dos perfumes, fatores como durabilidade (fixação na pele), impacto (a primeira impressão) e rastro (o cheiro que uma pessoa deixa para trás) são levados em consideração antes que a fabricação siga adiante.
A repórter viajou a convite de Eudora
Cruelty free
A perfumaria brasileira é um exemplo para o mundo: Grupo Boticário (O Boticário, Eudora, Quem disse, Berenice? e The Beauty Box), Água de Cheiro, L’acqua di Fiori e Natura não testam em animais, segundo a Agência de Notícias de Direitos Animais (Anda)
Missão olfativa
Passo a passo dos cheiros
- Perfumistas e funcionários de marketing e desenvolvimento de produtos são alocados à observação de estilo e comportamento em grandes centros urbanos, chamados de centros olfativos, em metrópoles de referência para a moda. Eles captam tendências que serão transformadas em cheiros.
- O Núcleo de Inteligência Olfativa recebe o briefing (instruções, missões) do departamento de marketing e desenvolvimento de produtos. Nessa fase, começam as pesquisas mais profundas sobre as tendências e como transformá-las em perfumes. Oportunidades de mercado e nichos de consumo são identificados.
- Nascem as primeiras amostras. Perfumistas da fábrica e dos centros olfativos se encarregam de cheirá-las, enquanto o laboratório de desenvolvimento começa a dar forma ao que o Núcleo de Inteligência Olfativa idealizou.
- O novo cheiro nasceu. Agora, ele será oficialmente cadastrado na fábrica e o projeto ganhará um nome antes da sequência de testes.
- O primeiro teste do novo cheiro é a estabilidade. Neste setor, é determinado o prazo de validade do perfume. Para isso, a fórmula é “estressada” ao máximo, submetida a incidência de luz, pressão e temperatura adversas. A embalagem do produto é testada simultaneamente.
- Uma máquina simula a movimentação de uma bolsa carregada nos ombros. A ideia é testar a resistência das embalagens de perfume, maquiagem e cosméticos. O vidro de perfume trinca? Os batons se abrem? As sombras se quebram?
- Máquinas chamadas de cromatográfos dissecam o novo cheiro: elas “abrem” o produto e separam as misturas, a fim de identificar seus componentes e analisar o comportamento de cada substância da fórmula.
- É hora dos testes na pele, a mais delicada das etapas. O Grupo Boticário suspendeu os testes em animais no ano 2000 e, desde então, trabalha com testes em humanos voluntários e pele humana 3D desenvolvida em laboratório. Neste ano, será patenteada a tecnologia Órgãos On Chip, que simula - numa placa artificial - a interação entre a pele humana e o sistema imunológico. Durabilidade do perfume na pele e reações alérgicas são postas à prova, sendo a segurança e sensibilização os principais fatores comprovados nesta fase.
- O novo cheiro está pronto! Ele será enviado ao maquinário da fábrica e produzido em larga escala. Todos os dias, grandes tonéis recebem diferentes perfumes, de modo que precisam ser higienizados regularmente, a fim de não embaralhar os aromas.
- Ainda dentro da fábrica, os cheiros são engarrafados e colocados nas embalagens. Máquinas e pessoas controlam a vedação dos frascos e o acondicionamento do produto, que segue para comercialização.
Rodrigo Lombardi // ator convidado para a campanha de lançamento de Impression
Como avalia a valorização da vaidade masculina, crescente na última década?
Nunca tive preconceito quanto à vaidade masculina. Eu sempre usei perfume. Cuido da minha pele, do meu corpo, do meu cabelo. Mas acho importante que mais homens se sintam confortáveis com isso. Hoje você vê um homem comprando acessórios, observando tendências de moda ditadas pelas passarelas e pela televisão. Isso é ótimo.
Como se vê enquanto influenciador, uma personalidade que pode ditar tendências na TV? Você se considera referência de beleza?
Eu acho que não sou exatamente o tipo de homem que eu considero bonito. Embora eu nunca tenha parado pra pensar quem seria esse homem de referência… Acho que a beleza tem a ver com sedução, e isso é mais uma questão de energia do que simplesmente tática. Eu sempre fui o mais novo da minha turma de amigos, as meninas queriam os caras mais velhos. Fui crescendo e me valendo de um repertório de referências que ganhei vendo filmes antigos, ouvindo Sinatra… Na adolescência, tomei muito tombo de mulher.
E como um perfume contribui para a beleza, a sedução?
Eu acho que um homem tem três cartões de visita: o modo de olhar, o sorriso e o cheiro. A mulher também, na verdade… Eu, por exemplo, não gosto quando uma mulher usa perfume muito doce, não me atrai. Ela pode ser linda, mas perfume doce e forte não funciona. O mesmo vale para o homem, essa coisa de saber escolher um cheiro para ser seu.
E em relação a roupas, poderia compartilhar uma dica de estilo, uma preferência sua?
Eu adoro cueca nova! (risos) De verdade, usar uma cueca nova é a melhor coisa do mundo! Me deixa feliz poder comprar cuecas novas, é uma dica que eu dou. Mas o que não pode faltar no meu armário, com certeza, é camiseta branca e camiseta preta.