Namie e a moda pernambucana
Referência em preparação para passarelas, Namie Wihby assumiu direção artística no último Estilo Moda Pernambuco
Larissa Lins
larissa.lins@diariodepernambuco.com.br
Publicação: 04/08/2018 03:00
À frente da direção artística dos desfiles do último Estilo Moda Pernambuco pela Amazing Model, o consultor de moda Namie Wihby - nome de destaque nos bastidores da moda nacional - se impressionou com o que viu no Agreste pernambucano. “O Brasil está passando por um processo de transformação, não apenas na moda. Pernambuco também. É um estado com conceito próprio, identidade própria. Isso faz toda a diferença em relação a outros lugares. O mercado pernambucano de moda tem uma ansiedade de crescimento, de mostrar sua produção para todo o país. É chocante ver aquela produção gigantesca, o produto, a matéria-prima, o polo do Agreste a todo vapor”, contou Namie ao Diario. Para ele, o Estilo Moda Pernambuco, encerrado na última semana, e a cadeia produtiva do interior do estado, devem, em pouco tempo, se estabelecer definitivamente no circuito comercial da moda brasileira. “O EMP já é uma mini fashion week. Lembrando que o evento ainda é um bebê, está na terceira edição”, avaliou.
Namie, paranaense radicado em São Paulo, tem dedicado mais da metade de sua vida à consultoria de moda e preparação de modelos para cruzar as passarelas. Treinou nomes como Izabel Goulart, Raica de Oliveira, Barbara Berguer, Sophia Abraão, Giovana Ewbanke, Taís Araújo. Ele regressa ao Recife sazonalmente, ministrando workshops sobre postura, elegância e comportamento - experiência difundida por todo o país e centralizada em sua escola Namie Wihby Schools & Events, na capital paulista, onde diversos cursos são ofertados a modelos profissionais e pessoas interessadas no segmento. Do interior de Pernambuco, diz ter saído revigorado: “É uma cultura ímpar, que só se vê aí. Que nos inspira para diversos trabalhos. Saio do nordeste sempre renovado, com vontade de levar o que captei dessa generosidade, dessa força que eu não vejo em outros lugares”, observa. De acordo com ele, a valorização de referências culturais, mão de obra local e democratização do acesso à informação e ao consumo de moda estariam entre as diretrizes para o crescimento do mercado fashion local e seriam, ainda, algumas das principais tendências para o futuro do setor em todo o mundo.
“O futuro é inclusivo e democrático. Antes, a moda era feita para poucos. As pessoas olhavam aquilo e não conseguiam se identificar com o padrão de beleza, de magreza, com as apostas da moda. Os desfiles jamais vão se extinguir. Ao contrário: eles vão gerar mais identificação. A gente vai começar a ver mais modelos plus size nas passarelas, modelos de todos os gêneros, todas as idades. Para que todo mundo se reconheça e entenda que moda é para todos”, prevê Namie, reconhecido no meio como o Rei do Salto Alto. Em relação ao impacto das redes sociais no universo fashion, ele é otimista: “Tudo vem a agregar e somar. Hoje, blogueiras e influenciadoras mostram que qualquer mulher pode se reconhecer na moda. Se eu me identifico com determinada influenciadora, com sua forma de falar, de se vestir, de se posicionar, eu me deixo impactar pela moda. Isso desconstrói barreiras”, complementa. A fala ganha relevância especial em Pernambuco, celeiro de uma das principais referências para influenciadoras digitais, Camila Coutinho - criadora do blog Garotas Estúpidas e autora do recém-lançado Estúpida, eu? (Intrinseca, R$ 49,90), cujo perfil no Instagram acumula 2,3 milhões de seguidores. “Elas usam outra linguagem, tornam a moda mais acessível. Isso ajuda a mostrar que, no fim das contas, o importante é ter bom senso e estar feliz consigo mesmo, se sentir bem com o que você está vestindo”, finaliza Namie.
Entrevista - Namie Wihby // Consultor de moda
O que o Nordeste brasileiro tem de único para oferecer à moda nacional?
Alegria. Só para começar. Essa simplicidade com um toque todo especial de cuidar bem do que faz e fazer muito bem feito. O Nordeste tem uma particularidade, que é a receptividade. Esse carinho que acolhe e que dá um banho de calor humano, de realmente mostrar suas raízes com muita propriedade. E as referências culturais únicas.
Como o domínio da moda e do salto alto podem, em sua opinião, empoderar mulheres?
Eu acho que uma mulher de salto alto tem o ápice da elegância, do amadurecimento e da segurança que nenhum outro tipo de calçado pode oferecer. O movimento de colocar um pé à frente do outro, as passadas largas, longilíneas. Essa força de quando você pisa de salto alto numa passarela, isso é para poucos. Faz você se sentir dona do seu espaço, podendo olhar de cima para baixo sem arrogância, mas com muita segurança. Salto alto é o grande fetiche da mulher. Para nós, que temos a brasileira que ‘ginga’ como nenhuma outra mulher do mundo sabe fazer, mais ainda. É arte.
E para quem são indicados os cursos de passarela? Que bagagem oferecem?
Todos podem fazer o curso. É uma forma de se descobrir. Todo mundo precisa aprender a ter postura, aprender a andar. A primeira impressão é a que fica, isto é, quando você entra num lugar, quando caminha, você já mostra seu posicionamento. O jovem de hoje em dia, sobretudo, precisa resgatar muito disso. A geração da internet, que tem acesso a tudo muito rápido, mas que sabe usar muito pouco, que aproveita muito pouco. A sensação de experimentar na prática não pode ser perdida nunca. Todo mundo deve fazer um curso assim, buscar ser exemplo de postura, elegância. O empoderamento não precisa carregar agressividade, você não precisa obrigar as pessoas a te engolirem como você é. Menos é mais. Podemos nos introduzir aos poucos, elegantemente.
Resgatando um pouco sobre o início de sua carreira, como surgiu a ideia de preparar modelos para a passarela?
Eu sou paranaense e cheguei em São Paulo em 1998 para trabalhar na Elite Model Management – John Casablancas. Comecei fazendo o The look of the year, realizado pela Elite. Até então, era o maior desfile de todos. Minha preocupação, desde aquela época era como fazer uma menina de 14 anos se transformar numa mulher. Porque o modelo é um ator sem texto. Cada roupa é um personagem. Considerando que eles emprestam seus corpos aos criadores das peças, eu fiquei pensando em como fazer aquelas meninas se emprestarem com mais propriedade. Resolvi calçar os saltos e mostrar que se eu, como homem, me sentia à flor da pele em cima do salto, as meninas tinham essa obrigação. Comecei a entender e trabalhar muito as técnicas de postura sobre o salto. Foi como criei minha escola em 2002.
E o que representa esse tipo de formação para o mercado da moda?
[A escola] Foi um grande passo para profissionalismo de modelos. Para a gente mostrar que ser modelo não é um capricho, não é um bico. É algo profissional mesmo. Enquanto as décadas de 1980 e 1990 revelaram grandes top models como Linda Evangelista e Naomi Campbell, os anos 2000 trouxeram meninas mais novas, que precisavam de conhecimento, precisavam entender o que representa a indústria da moda e o que elas representam dentro disso. A formação serve para que eles possam não somente desfilar, mas atuar, dançar...
EMP 2019
A quarta edição do Estilo Moda Pernambuco, realizado em Santa Cruz do Capibaribe, Agreste do estado, já está marcada: será na última semana de julho de 2019. Para Allan Carneiro, síndico do Moda Center Santa Cruz, o crescimento e a repercussão do EMP superaram as expectativas da organização. “Os nomes que trouxemos agregaram uma enorme bagagem de conhecimento, assim como as oficinas”, avaliou, citando participações como as de Ronaldo Fraga e Alexandre Herchcovitch, convidados deste ano. “As marcas evoluíram muito na produção dos desfiles. Cada uma delas trouxe uma história diferente, uma narrativa diferente. Esse alinhamento de grandes profissionais e o posicionamento de conceitos na passarela potencializaram o evento como um acontecimento substancial, que traz informação, discussão, conteúdo”, complementou Allan.
Namie, paranaense radicado em São Paulo, tem dedicado mais da metade de sua vida à consultoria de moda e preparação de modelos para cruzar as passarelas. Treinou nomes como Izabel Goulart, Raica de Oliveira, Barbara Berguer, Sophia Abraão, Giovana Ewbanke, Taís Araújo. Ele regressa ao Recife sazonalmente, ministrando workshops sobre postura, elegância e comportamento - experiência difundida por todo o país e centralizada em sua escola Namie Wihby Schools & Events, na capital paulista, onde diversos cursos são ofertados a modelos profissionais e pessoas interessadas no segmento. Do interior de Pernambuco, diz ter saído revigorado: “É uma cultura ímpar, que só se vê aí. Que nos inspira para diversos trabalhos. Saio do nordeste sempre renovado, com vontade de levar o que captei dessa generosidade, dessa força que eu não vejo em outros lugares”, observa. De acordo com ele, a valorização de referências culturais, mão de obra local e democratização do acesso à informação e ao consumo de moda estariam entre as diretrizes para o crescimento do mercado fashion local e seriam, ainda, algumas das principais tendências para o futuro do setor em todo o mundo.
“O futuro é inclusivo e democrático. Antes, a moda era feita para poucos. As pessoas olhavam aquilo e não conseguiam se identificar com o padrão de beleza, de magreza, com as apostas da moda. Os desfiles jamais vão se extinguir. Ao contrário: eles vão gerar mais identificação. A gente vai começar a ver mais modelos plus size nas passarelas, modelos de todos os gêneros, todas as idades. Para que todo mundo se reconheça e entenda que moda é para todos”, prevê Namie, reconhecido no meio como o Rei do Salto Alto. Em relação ao impacto das redes sociais no universo fashion, ele é otimista: “Tudo vem a agregar e somar. Hoje, blogueiras e influenciadoras mostram que qualquer mulher pode se reconhecer na moda. Se eu me identifico com determinada influenciadora, com sua forma de falar, de se vestir, de se posicionar, eu me deixo impactar pela moda. Isso desconstrói barreiras”, complementa. A fala ganha relevância especial em Pernambuco, celeiro de uma das principais referências para influenciadoras digitais, Camila Coutinho - criadora do blog Garotas Estúpidas e autora do recém-lançado Estúpida, eu? (Intrinseca, R$ 49,90), cujo perfil no Instagram acumula 2,3 milhões de seguidores. “Elas usam outra linguagem, tornam a moda mais acessível. Isso ajuda a mostrar que, no fim das contas, o importante é ter bom senso e estar feliz consigo mesmo, se sentir bem com o que você está vestindo”, finaliza Namie.
Entrevista - Namie Wihby // Consultor de moda
O que o Nordeste brasileiro tem de único para oferecer à moda nacional?
Alegria. Só para começar. Essa simplicidade com um toque todo especial de cuidar bem do que faz e fazer muito bem feito. O Nordeste tem uma particularidade, que é a receptividade. Esse carinho que acolhe e que dá um banho de calor humano, de realmente mostrar suas raízes com muita propriedade. E as referências culturais únicas.
Como o domínio da moda e do salto alto podem, em sua opinião, empoderar mulheres?
Eu acho que uma mulher de salto alto tem o ápice da elegância, do amadurecimento e da segurança que nenhum outro tipo de calçado pode oferecer. O movimento de colocar um pé à frente do outro, as passadas largas, longilíneas. Essa força de quando você pisa de salto alto numa passarela, isso é para poucos. Faz você se sentir dona do seu espaço, podendo olhar de cima para baixo sem arrogância, mas com muita segurança. Salto alto é o grande fetiche da mulher. Para nós, que temos a brasileira que ‘ginga’ como nenhuma outra mulher do mundo sabe fazer, mais ainda. É arte.
E para quem são indicados os cursos de passarela? Que bagagem oferecem?
Todos podem fazer o curso. É uma forma de se descobrir. Todo mundo precisa aprender a ter postura, aprender a andar. A primeira impressão é a que fica, isto é, quando você entra num lugar, quando caminha, você já mostra seu posicionamento. O jovem de hoje em dia, sobretudo, precisa resgatar muito disso. A geração da internet, que tem acesso a tudo muito rápido, mas que sabe usar muito pouco, que aproveita muito pouco. A sensação de experimentar na prática não pode ser perdida nunca. Todo mundo deve fazer um curso assim, buscar ser exemplo de postura, elegância. O empoderamento não precisa carregar agressividade, você não precisa obrigar as pessoas a te engolirem como você é. Menos é mais. Podemos nos introduzir aos poucos, elegantemente.
Resgatando um pouco sobre o início de sua carreira, como surgiu a ideia de preparar modelos para a passarela?
Eu sou paranaense e cheguei em São Paulo em 1998 para trabalhar na Elite Model Management – John Casablancas. Comecei fazendo o The look of the year, realizado pela Elite. Até então, era o maior desfile de todos. Minha preocupação, desde aquela época era como fazer uma menina de 14 anos se transformar numa mulher. Porque o modelo é um ator sem texto. Cada roupa é um personagem. Considerando que eles emprestam seus corpos aos criadores das peças, eu fiquei pensando em como fazer aquelas meninas se emprestarem com mais propriedade. Resolvi calçar os saltos e mostrar que se eu, como homem, me sentia à flor da pele em cima do salto, as meninas tinham essa obrigação. Comecei a entender e trabalhar muito as técnicas de postura sobre o salto. Foi como criei minha escola em 2002.
E o que representa esse tipo de formação para o mercado da moda?
[A escola] Foi um grande passo para profissionalismo de modelos. Para a gente mostrar que ser modelo não é um capricho, não é um bico. É algo profissional mesmo. Enquanto as décadas de 1980 e 1990 revelaram grandes top models como Linda Evangelista e Naomi Campbell, os anos 2000 trouxeram meninas mais novas, que precisavam de conhecimento, precisavam entender o que representa a indústria da moda e o que elas representam dentro disso. A formação serve para que eles possam não somente desfilar, mas atuar, dançar...
EMP 2019
A quarta edição do Estilo Moda Pernambuco, realizado em Santa Cruz do Capibaribe, Agreste do estado, já está marcada: será na última semana de julho de 2019. Para Allan Carneiro, síndico do Moda Center Santa Cruz, o crescimento e a repercussão do EMP superaram as expectativas da organização. “Os nomes que trouxemos agregaram uma enorme bagagem de conhecimento, assim como as oficinas”, avaliou, citando participações como as de Ronaldo Fraga e Alexandre Herchcovitch, convidados deste ano. “As marcas evoluíram muito na produção dos desfiles. Cada uma delas trouxe uma história diferente, uma narrativa diferente. Esse alinhamento de grandes profissionais e o posicionamento de conceitos na passarela potencializaram o evento como um acontecimento substancial, que traz informação, discussão, conteúdo”, complementou Allan.