Trem do Vinho une nostalgia e belas paisagens campestres

Publicação: 09/03/2019 03:00

Para contar a história da cidade de 120 mil habitantes, a atração Epopeia Italiana encena a migração do casal Lázaro e Rosa Giordani, desde quando deixaram a cidade natal de Pedersano, até 1890, quando o povoado brasileiro deixou de se chamar Colônia Dona Isabel e ganhou o nome de Bento Gonçalves.

Em um espaço de dois mil metros quadrados, nove cenários ricos em detalhes e uma mistura de teatro ao vivo com cinema, o visitante acompanha o sonho de uma vida melhor na América, a viagem de 36 dias no mar e a chegada ao Brasil. Tudo inspirado na história real dos bisavós da atual geração da família, que idealizou o passeio e também revitalizou o trem Maria-Fumaça que percorre a cidade. O programa encanta adultos e crianças. Os ingressos custam a partir de R$ 20. Ao final, o visitante pode degustar vinhos, sucos e biscoitos, além de comprar produtos locais.

Já o passeio de trem, que parte de Bento Gonçalves e visita as vizinhas Garibaldi e Carlos Barbosa, tem como objetivo unir a tradição ao moderno. Inaugurada como passeio turístico em 1992, a locomotiva a vapor carrega 370 passageiros por 23km e quase duas horas de paisagens da Serra Gaúcha. O apito pode ser ouvido em toda a cidade, e moradores acenam do jardim enquanto a Maria-Fumaça passa.

Conhecida como o trem do vinho, a locomotiva conta com degustação de vinhos e sucos de uva da região em todas as estações, inclusive na de partida. Por isso, uma dica valiosa é chegar com meia hora de antecedência do horário de embarque para aproveitar a experiência. Tudo isso é embalado por artistas locais, que fazem da estação, decorada para lembrar as do século passado, palco para apresentações. Música tradicional gaúcha, teatro, coral italiano e tarantella, uma tradicional dança da Itália, também fazem parte do percurso. Durante os noventa minutos de jornada, os artistas passam pelos vagões e animam os passageiros.

Na centenária Garibaldi, a primeira parada, a estrela é o espumante, principal produto da cidade. Aliás, o lugar é o único do Brasil a produzir a tradicional champanhe: o nome, hoje, só pode designar produtos da região originária na França, mas a vinícola Peterlongo, por ter anos de história e usar o método correto, ganhou o direito de manter a nomenclatura. Carlos Barbosa, a segunda e última parada, é a Capital Nacional do Futsal desde 2017.

Para o passeio acontecer, 20 funcionários trabalham na manutenção da locomotiva, que mantém a estrutura e mecânica originais. As peças são feitas sob encomenda. Cerca de 800 kg de briquetes (toras de madeira reaproveitada) são usados a cada passeio para alimentar a caldeira. Apesar de toda a tradição, o trem leva um gerador de energia, que ilumina os vagões e possibilita o sistema de som usado para entretenimento. Um dos trens reformados para o passeio é de 1941 e o outro, de 1954.

Durante os períodos de alta temporada (do final de novembro até meados de janeiro) e no inverno, três mil pessoas aproveitam o passeio do Maria-Fumaça por dia, de segunda a segunda. Vinni Fernandes, funcionário da Giordani Turismo, que opera a concessão do trem, comemora a alta de movimento na região: “Bento Gonçalves tem muitas histórias para contar”, afirma. O turismo, aliás, ajudou a blindar a cidade da crise que tomou o país nos últimos anos. Atualmente, figura como a quarta maior atividade econômica do município, depois da fabricação de móveis, metalurgia e produção de vinhos.

Liliane Prestes, funcionária da vinícola Dom Cândido, conta que muitos turistas costumavam escolher Gramado ou Canela como destino de férias, ouvia falar de Bento Gonçalves e só então visitava a cidade. Hoje, porém, ela acredita que a região conquista turistas pelos próprios atrativos.

A guia Maria de Fátima Dill, que é formada em História e pesquisa a migração italiana para o Brasil, também ressalta o crescimento do turismo na cidade, especialmente na época da vindima, antes considerada baixa temporada. Parte da curiosidade dos visitantes está justamente na origem das tradições e costumes que compõem a vida no sul. Maria de Fátima aproveita o trajeto no ônibus entre uma atração e outra para contar curiosidades do local, como a origem do nome da cidade — uma homenagem a um dos líderes da Revolução Farroupilha. (Correio Braziliense)