Alta roda

Fernando Calmon
fernando@calmon.jor.br

Publicação: 03/07/2014 03:00

Virada cultural

A vida vai ficar cada vez mais difícil para fabricantes que “militam” no disputado mercado brasileiro de compactos hatches. Afinal, são nada menos de 28 modelos (incluídos quatro subcompactos), entre nacionais e importados, que representam 53% dos automóveis vendidos por ano ou cerca de 1,5 milhão de unidades. Essa faixa cobiçada por todos os fabricantes tem aumentado seu grau de exigência e compradores estão dispostos a gastar um pouco além, desde que se ofereça mais por menos.

Recado entendido pela Renault, que começa a vender em duas semanas a segunda geração do Sandero, depois de sete anos. A empresa partiu para uma virada cultural, de estilo à engenharia, o que aumentou sua atratividade sem deixar de lado o conceito quase-médio a preço de compacto. Manteve a versão de entrada abaixo dos R$ 30.000 (exatos R$ 29.890) e agregou direção de assistência hidráulica de série. Na média das três versões seu preço caiu 5% – o que não é pouco – e ampliou o conceito de inovação acessível, iniciado ainda na primeira geração com o sistema de navegação GPS.

Agora é possível ter câmera de ré, sensores traseiros de estacionamento e ar-condicionado digital, por exemplo, na versão de topo, por ainda bem interessantes R$ 43.820. A fábrica investiu em aerodinâmica (Cx reduzido de 0,38 para 0,35), arcabouço estrutural (deve melhorar nos testes de impacto), adotou motor de 1 litro mais evoluído (mesmo do Clio e Logan), evoluiu as suspensões (bitolas maiores), cuidou melhor do interior (novo quadro de instrumentos e acabamentos) e até caprichou no desenho das calotas para aro de 15 pol. (rodas de liga leve só na versão mais cara).

O Sandero manteve credenciais de ótimo espaço interno para pernas (entre-eixos de 2,59 m), largura para ombros e porta-malas referencial no segmento com 320 litros. Resolveu coisas simples como realocação do comando elétrico dos espelhos externos, mas o tanque de combustível deveria comportar mais de 50 litros.

Numa primeira avaliação, dá para notar mais silêncio a bordo e a direção ganhou respostas um pouco melhores, apesar da regulagem de altura do volante desagradável, do tipo “queda-livre”. Desenho dos instrumentos é honesto, mas leitura deixa a desejar. Alavanca de câmbio continua sensível aos movimentos bruscos de aceleração. Motor de 1,6 L (106 cv/etanol; apenas 98 cv/gasolina) ficará rapidamente em desvantagem frente aos concorrentes, enquanto o de 1 litro (88 cv/77 cv), que ainda responde por 40% das vendas, tem adversários incômodos na tendência dos três-cilindros.

Dentro de 45 dias chegará o câmbio automatizado de uma embreagem, que substituirá o automático da geração anterior. Fabricado pela ZF custará em torno de R$ 3.000 e, assim, potencializa aumentar participação atual de 5% nas vendas para pelo menos 10%.

A Renault pretende manter o Sandero entre os 10 automóveis mais vendidos (começou como 17º, em 2007). Não será fácil com o avanço do up! e o novo Ka, já no começo de agosto. Estará contente, porém, se ficar entre os três preferidos numa lista do que considera concorrentes mais diretos como Fiesta, Fox, HB20 e Onix. Estes modelos teriam resultados menos afetados por vendas a frotistas.