Tarifaço: inflação global é possível consequência Especialistas apontam que, em curto prazo, taxas sobre produtos importados devem causar encarecimento dos preços dos produtos para os americanos

Thatiany Lucena

Publicação: 07/04/2025 03:00

A medida anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, na última quarta-feira (2), que impõe uma série de taxas sobre os produtos importados da maioria dos países do mundo, como é o caso do Brasil, aumenta ainda mais as incertezas sobre os caminhos da economia global. De acordo com especialistas, o ‘’tarifaço” deve elevar a inflação nos EUA e, consequentemente, aumentar a inflação no contexto global.

O economista Tiago Monteiro aponta que já existem levantamentos que revelam o impacto no curto prazo dessa ação do governo norte-americano na produtividade interna dos Estados Unidos. Isso pode causar o encarecimento dos preços dos produtos para os consumidores. “A inflação norte-americana deve subir entre 1.5 e 1.75. Essa tendência tende a dar um pouco mais de base para os juros norte-americanos continuarem a patamares mais elevados por mais tempo. Isso reverbera na pressão do dólar, como a oscilação da bolsa de valores. Como essa tarifa é global, isso pode ser uma realidade que tende a elevar a inflação global e causar juros mais elevados por mais tempo em alguns países”, diz.

O cientista político Thales Castro explica que o tarifaço de Trump é consequência das forças do processo eleitoral nos Estados Unidos em 2024, reflexo da campanha “Make America Great Again” (tornar a América Grande Novamente). Usado originalmente pelo ex-presidente Ronald Reagan, o termo voltou a ser mencionado pelos apoiadores do presidente desde a campanha de 2016 e também ganhou força nas eleições de 2024. A frase traduz o desejo de fazer com que o país volte a ser uma potência global.

GUERRA COMERCIAL

De acordo com Thales Castro, há uma “polêmica” em torno das tarifas, porque elas geram reciprocidade com a reação dos países na imposição de taxas sobre as importações dos Estados Unidos. No caso do Brasil, a sobretaxa de 10% sobre os produtos importados, apesar de ser significativa, ainda não apresenta tanto impacto quando comparada à tarifa no Vietnã, por exemplo, que teve taxa de 46%, mesmo tendo fluxo comercial intenso com o país.

Segundo Thales Castro, o momento agora é de análise do impacto que as tarifas causarão nesses países. “Os países todos, nesse momento e nos próximos dias, irão começar a fazer contas do impacto disso, da ruptura que isso gera em termos de comércio bilateral. Certamente vai ser um jogo de xadrez para analisar como isso vai se dar”, destaca.

Ainda de acordo com o cientista político, faz parte do jogo do presidente dos EUA estabelecer um cenário de negociação comercial entre os países. “Ele força o outro ator político e econômico do lado de lá a negociar e ele vai negociar exigindo contrapartidas e reduções. Trump joga desse jeito, faz uma pancada e depois mensura essas reações e a partir daí ele vai jogando”, analisa.

MAIS EXPORTAÇÕES

Para o economista Luiz Maia, o Brasil pode se beneficiar diante da guerra comercial e expandir as suas exportações, já que foi menos taxado pelo governo estadunidense. “O Brasil é um grande exportador de carne, soja, milho, algodão e de commodities metálicas, concorrendo com os Estados Unidos, por exemplo, na exportação de milho. Com isso, o mercado brasileiro pode ganhar mais mercados, por exemplo, suprindo a demanda chinesa por soja e milho, já que o governo chinês vai impor tarifa para exportações americanas”, afirma.