ECONOMIA E NEGóCIOS EM FOCO » Saiu barato pro Brasil. Ainda bem!

por Ecio Costa
@eciocosta

Publicação: 07/04/2025 03:00

Trump anunciou uma tarifa recíproca de 10% contra o Brasil. Num primeiro momento, a tarifa de 10% aplicada contra o Brasil veio menor do que se esperava, por conta do Brasil ser um país muito protecionista, e deve trazer um impacto relativamente baixo. A tarifa ficou no piso dos valores de tarifas que o Governo Americano divulgou, porque os EUA teve superávit comercial com o Brasil este ano, com impactos bem maiores para China (34%), União Europeia (20%) e Japão (24%), onde o déficit comercial dos EUA é bem maior.

Há estimativas que indicam que o Brasil impõe tarifas bem mais altas do que esses 10% em relação aos produtos importados dos EUA. Se os cálculos forem refeitos e chegarem a percentuais ainda mais altos, devemos buscar estratégias para negociar a imposição de cotas em vez de tarifas, além de facilitar processos comerciais e reduzir burocracias como um gesto de boa-fé. No entanto, no mesmo dia do anúncio das tarifas por parte dos EUA, o Congresso brasileiro aprovou o Projeto de Lei que possibilita a aplicação de tarifas de importação e ambientais contra os países que apliquem tarifas e regras ambientais mais rígidas contra o Brasil. A elevação do protecionismo contra os EUA não é a melhor sinalização política que se possa dar, principalmente quando muitos países estão retrocedendo ou fazendo acordos comerciais com os EUA. Nosso principal concorrente comercial, como fornecedor de produtos para os EUA, a China, anunciou uma retaliação com imposição de tarifa de 34% contra as importações dos EUA.

Outros países estão sendo impactados de forma ainda mais severa do que o Brasil. A China, por exemplo, enfrenta aumentos tarifários significativos, de 34%, a União Europeia recebeu uma tarifa de 20%. Nesse contexto, talvez o Brasil possa até se beneficiar dessas restrições, tornando-se um parceiro estratégico para fornecer produtos a esses países. Empresas como a Apple já analisam a possibilidade de trazer linhas de produção para o Brasil. A decisão imposta pelos EUA, sob a liderança de Trump, representa um retrocesso econômico grave para o próprio país. Algo semelhante ocorreu na década de 1930, com as leis tarifárias Smoot-Hawley, que contribuíram para a desaceleração da economia global devido ao excesso de tarifas impostas pelos EUA. Agora, as tarifas impostas voltam a alcançar níveis similares. O passado pode se repetir, impactando inicialmente a economia americana e, posteriormente, transmitindo os impactos para o resto do mundo. Afinal de contas, os EUA ainda são a principal potência econômica global. Embora a China dispute essa posição, o peso da economia americana continua extremamente relevante.

O comércio mundial é muito mais facilitado hoje em dia, porém, e o Brasil pode sair ganhando com a manutenção de boas relações com ambos os lados. O maior perdedor dessa medida protecionista imposta por Trump será, na verdade, os próprios EUA, especialmente seus consumidores, que pagarão mais caro por produtos importados e sem grandes chances de serem produzidos domesticamente, e as empresas, que não terão acesso aos mercados de forma competitiva, por conta do processo retaliatório dos países que foram tarifados.