Divaldo Franco: o semeador de paz, amor e caridade

Chico Carlos
Jornalista, escritor e pesquisador cultural

Publicação: 18/06/2025 03:00

Uma lágrima ainda rola pelo rosto. Há um vazio nos corações e mentes Sentimentos de saudade e tristeza. Divaldo Pereira Franco retornou à Pátria espiritual em 13 de maio passado, aos 98 anos de idade, e sua vida foi um exemplo incontestável da mediunidade missionária, exercida desde a infância, deixando por onde passou pegadas de luz e amor que identificam a paranormalidade e indicadores de perseverança, disciplina e dedicação à Causa do Bem em nome de Deus e de Jesus Cristo.

Divaldo nasceu em Feira de Santana, na Bahia. Aos 4 anos, teve os primeiros sinais de mediunidade. Aos 20, psicografou a primeira mensagem. Não parou mais. É autor de 263 livros mediúnicos, traduzidos para mais de 17 idiomas; 70 deles ditados pelo espírito de Joanna de Ângelis, que guiou o médium ao longo da vida dele. Foi um dos maiores líderes religiosos do país, considerado um dos sucessores de Chico Xavier. Divaldo viajou o planeta dando mais de 20 mil palestras, virou filme em 2019, e era conhecido como Embaixador da Paz no Mundo. 

Aos 98 anos de idade e 78 anos de oratória espírita, Divaldo atingiu surpreendente e exemplar performance, através de conferências e seminários em 71 países – em muitos deles, por várias vezes –, dos cinco continentes. Denominado Semeador de Estrelas e, segundo Chico Xavier, tendo uma estrela na boca, suas palestra atraíram numeroso público, que ainda hoje se emociona com os comentários, narrativas e ensinamentos transmitidos, os quais promovem o autoconhecimento e anunciam o alvorecer de uma Nova Era. 

Foi exatamente no dia 15 de agosto de 1952, em parceria com seu fiel amigo Nilson de Souza Pereira, fundou a Mansão do Caminho, cujo trabalho de assistência social a milhares de pessoas carentes da Cidade do Salvador tem conquistado a admiração e o respeito da Bahia, do Brasil e do mundo. Dedicação, compromisso e amor ao próximo.   

Hoje, o complexo educacional cuida de mais de 1,6 mil crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e oferece, ainda, assistência médica, social e espiritual. São mais de 5 mil atendimentos todos os dias, levando acolhimento e serviço a quem precisa.

Desde a infância relatou comunicar-se com os espíritos. Quando jovem, foi abalado pela morte de um irmão mais velho, o que o deixou sem os movimentos das pernas. Fora conduzido a diversos especialistas na área da Medicina, sem, contudo, lograr qualquer resultado satisfatório. Nessa época uma prima conheceu a Sra. Ana Ribeiro Borges, médium de um centro espírita e a conduziu até a casa do primo Divaldo. A médium ajuda o menino a libertar-se daquele estado de paralisia e explica tratar-se do irmão desencarnado, que se ligara ao irmão. Essa cura trouxe consolações tanto para o enfermo como para toda a família. Divaldo dedicou-se, então, ao estudo do Espiritismo, ao tempo em que foi aprimorando as faculdades mediúnicas, pelo exercício e continuado estudo do Espiritismo. 

É preciso destacar que antes do falecimento dele, a palestrante Mayse Braga revelou que, de acordo com Franco, Jesus havia feito um convite para “200 espíritos que, necessariamente, já não precisariam mais voltar à Terra”. E, fora o papa Francisco, Joanna de Ângelis seria um deles. Joanna era a mentora que acompanhava Divaldo Franco na redação de livros espíritas e nas mensagens vindas do ‘além’, focadas no progresso individual e na reforma íntima, um dos mais importantes pilares da religião espírita. 

Joanna de Ângelis teve algumas passagens expressivas pela Terra e, em todas elas, era mulher. Uma das mais importantes delas aconteceu no século I, como Joana de Cusa, na época de Jesus de Nazaré, seguindo seus ensinamentos mais valiosos. Através das Joanna que ele pôde alcançar o reconhecimento não apenas entre os religiosos e espiritualistas, mas também em outras linhas de conhecimento, como a psicologia e a parapsicologia. Isso se deu principalmente em função dos livros publicados na Série Psicológica, onde tratou dos malefícios das fugas da realidade e enfatizou a importância do autoconhecimento e autoenfrentamento.

Como nunca foi perfeito, em fevereiro de 2018, durante um evento espírita em Goiás, causou polêmica ao responder a uma pergunta sobre identidade de gênero. Em sua resposta identificou-se contrário à ideologia de gênero, que chamou de “momento de alucinação psicológica da sociedade. O sexo é livre, mas ele não tem liberdade de indignificar a sociedade. Podemos sim exercê-lo, pois o sexo é função do corpo e da alma, mas com respeito e a presença do amor.” Além disso, defendeu que o Espiritismo é uma doutrina que defende a ciência, a ética e a liberdade, dando espaço para as opiniões acerca do que está moralmente correto na sociedade e do que está moralmente incorreto. A resposta foi rechaçada por parte dos praticantes do espiritismo devido ao seu conteúdo caracterizado por seus opositores como “homofóbico” e “conservador”. Outra parte considerável de lideranças e estudiosos espíritas defenderam o conferencista espírita, declarando que, um homem com sua folha de serviços prestados à causa do Bem, da Paz e do Espiritismo tem o direito de se expressar como bem desejar.

A linha de Divaldo era de promoção da paz, além de pontos de convergência entre a doutrina espírita e a ciência, sobretudo a psicologia. É considerado um dos maiores divulgadores do espiritismo no Brasil e no exterior. Na Península Ibérica, por exemplo, se destacou pela assistência ao movimento espírita português e espanhol durante a ditadura fascista de ambos os países.

Divaldo também pregava sobre experiências extracorpóreas durante o sono, quando o espírito viaja para outras dimensões e quando retorna, imprime nos neurônios cerebrais suas lembranças.