Gato de hotel

João Bosco Tenório Galvão
Advogado
bosco@tenoriogalvao.com.br

Publicação: 15/12/2015 03:00

Bichinho esquisito. Não gosta de ninguém e se enrosca em qualquer perna que não lhe seja hostil. Não ama nem maltrata, simplesmente morde e arranha. Geralmente é gordo, pois come de tudo – de preferência pela mão dos outros – que lhe afague o bucho. Literalmente não tem sentimentos, pois não se apega a ninguém, só registra os gestos de carinho que lhe são servidos. Dorme como se fosse um justo. No sexo faz tanto barulho como se fosse uma multidão. É de um egoísmo típico dos monstros que não conseguem ter sentimentos, pois seu sentimento é o de ser o centro do mundo com todo o resto girando ao redor. Tem uma astúcia rara no mundo animal, disfarçando sempre seus objetivos, pois é doutor em surpresas. Convive com seus pares com absoluta indiferença, não tendo nenhum sentido comunitário.

De tanta preguiça acorda para comer e come para dormir. Mesmo de barriga cheia tem miados de reclamações. É luxento feito mulher de deputado com conta na Suíça que, igualmente, tem sete vidas. Esconde seus dejetos enterrando-os como tesouros que nada valem; daí o ditado matuto não vale o que o gato enterra. Não ensina a ninguém os seus pulos e de ninguém aprendeu; nasce sabendo todos os truques, pois filho de gato é gatinho. Quando arranha logo esconde suas unhas e morder é seu último recurso defensivo. É dos animais que mais influenciaram o bicho homem: dizemos gato morto quando não emprestamos importância a alguém.

Sobre pessoas que tem trust em bancos estrangeiros, quando desmascaradas, é o gato escondido com rabo de fora; quando o japonês prende o corrupto diz o vulgo que ele capou o gato; quando há trapaça e mentiras nas campanhas eleitorais, é porque venderam gato por lebre; e agora  se atiram no mundo da mentira como os gatos aos bofes, fazendo de gato e sapato com o futuro brasileiro.

Tudo isso sendo feito como gato sobre brasas, às pressas, em carreiras alucinantes, pois como o gato os corruptos tem sete fôlegos e sete vidas. No Brasil algumas pessoas de nossa elite política vivem como se gatos de hotel fossem. Não amam nem maltratam ninguém, simplesmente roubam a todos nós. Não se apegam a ninguém, nas suas investidas aos bens públicos agem como se o hoje não tivesse o amanhã, pois  não cogitam  das consequências que  agora estão se  concretizando, daí as prisões de poderosos. O sentido de lealdade não é moldado em princípios e sim na cumplicidade da prática dos malfeitos, bela palavra a disfarçar o verbo roubar. Os apetites nefandos são ilimitados, roubam em tudo que é oportunidade, desde o leite das crianças aos bilionários negócios das finanças e da energia. Conseguem destruir sonhos, cooptam sindicatos, igrejas, entidades estudantis num processo cínico e de escárnio, chegam até a dizer que quem não rouba é ingênuo...

Mas vale viver, pois já foi pior e os hotéis já não usam gatos! A impunidade era a regra geral, hoje não. Temos ricos e poderosos na cadeia, políticos, magistrados de cortes altas e empresários de grandeza global encarcerados. O Brasil esse grande e plural País vai encontrar seu definitivo caminho. Quem viver verá !