Dilsa Tenório Doddrell
Escritora, Odontóloga, PhD pela Universidade de Londres
Publicação: 14/09/2022 07:05
Elizabeth Alexandra Mary Windsor foi coroada Queen Elizabeth II em 2 de junho de 1953. Sua morte recente no dia 8 de setembro, marcou um extraordinário reinado que durou 70 anos e 214 dias, o mais longo na história da monarquia britânica. O impacto da sua morte pode ser sentido, não somente pelos seus milhares de súditos, mas em todo o mundo. A rainha Elizabeth II foi indubitavelmente, ao longo do seu reinado, uma das mulheres mais famosas do mundo, tendo visitado 117 países, dentre eles o Brasil, em 1968. Neste período de luto, seus súditos, como também pessoas dos mais variados países do mundo, que tiveram o privilégio de conhecê-la pessoalmente, revivem as emoções destes encontros com a sua reverenciada monarca.
Como súdita da Rainha Elizabeth II, comungo desse sentimento, relatando a ocasião memorável em que eu e o meu marido fomos convidados para tomar o famoso chá da tarde nos jardins do Palácio de Buckingham, residência oficial da Rainha em Londres, em 2005. Em meu livro de memórias Os Mais Belos Sonhos Sonhei, relato que ao chegar a Londres em 1987, para fazer o meu PhD, visitei o Palácio de Buckingham. Assim como fazem multidões de turistas que visitam Londres, cheguei até os portões do Palácio, admirando sua beleza e grandiosidade. Observei atentamente a Guarda da Rainha, com seus soldados elegantemente vestidos em seus icônicos uniformes vermelhos e chapéus de pele de urso. Eu sonhava em visitar Londres e, quando surgiu a oportunidade de estudar no exterior, escolhi a Inglaterra como meu destino preferido.
Sendo brasileira, e portanto oriunda de um país republicano, tinha uma imensa curiosidade em entender como a monarquia britânica havia sobrevivido com tanto sucesso até os tempos modernos. Hoje, vivendo há mais de 30 anos na Inglaterra, percebi que o Parlamentarismo aqui no Reino Unido, tendo um monarca como chefe do Estado, acima dos partidos políticos, é um regime altamente eficiente e proporciona estabilidade duradoura a este país. Muita coisa havia mudado desde os meus tempos de estudante: havia concluído meu doutorado, clinicava odontologia e era docente da Universidade de Londres. Casada com um britânico, tornei-me cidadã britânica e súdita da rainha Elizabeth II, tendo jurado lealdade à rainha e seus descendentes e sucessores, numa cerimônia oficial chamada Oath of Allegiance, que consta do Promissory Oath Act of 1868.
Muitos anos depois da minha chegada, lá estava eu %u200B%u200Bde novo, juntamente com o meu marido, no Palácio de Buckingham, mas desta vez como convidada de Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, para participar das festividades oficiais de verão do calendário real, a tradicional e prestigiada Garden Party, um evento que começou com a Rainha Victoria em 1868. O evento acontece todos os anos, tendo como objetivo reconhecer e celebrar indivíduos que tiveram um impacto positivo na sociedade. Meu marido John Doddrell foi reconhecido por sua contribuição ao comércio internacional do Reino Unido. Em 2010, John foi nomeado Cônsul Geral Britânico em São Paulo, ocasião em que tive o grande privilégio de voltar ao meu país como Consulesa Britânica.
Juntamente com os outros convidados, congregamos em frente ao Palácio esperando a abertura dos portões. Era uma tarde de verão muito quente, com céu azul brilhante. Eu estava usando um vestido de verão vermelho morango e um chapéu, conforme exigido pelo código de vestimenta para a ocasião. Ao meu lado, meu marido John estava elegantemente vestido com um terno azul marinho listrado, camisa branca e uma linda gravata de seda estampada. Os outros convidados, também vestidos com as suas melhores vestimentas para o importante evento, conversavam animadamente, criavam uma atmosfera festiva. As mulheres, usando seus elegantes vestidos de verão e chapéus coloridos, de todas as formas, tamanhos e designs, alguns bem extravagantes, compunham um cenário que se assemelhava as belas pinturas impressionistas de Renoir!
Chegamos cedo, conforme solicitado, com nossos passaportes prontos para serem inspecionados pelos funcionários do Palácio. Os portões foram abertos, precisamente às 15 horas. Entramos pela porta principal do Palácio, que dava acesso a um magnífico hall, ricamente decorado com quadros de pintores clássicos, esculturas e objetos decorativos dourados, contrastando com belíssimos tapetes, onde predominava o vermelho. O hall principal dava acesso aos jardins do Palácio. Enquanto esperávamos a chegada da Rainha, prevista para as 16 horas, tivemos a oportunidade de explorar os belos jardins, apreciando as flores coloridas, a grande variedade de arbustos e árvores plantadas nos extensos 42 hectares de terra.
Pontualmente às 16 horas, a Rainha Elizabeth entrou no jardim acompanhada em procissão por seu marido, o Duque de Edimburgo. Seguindo, estavam o então Príncipe Charles, sua esposa Camilla e o Príncipe Andrew. O hino nacional “God Save the Queen” foi então tocado pela banda militar. As pessoas se alinharam em colunas ao longo do jardim, enquanto a Rainha acompanhada por um oficial impecavelmente vestido em seu uniforme de gala, passava, parando por alguns minutos para conversar brevemente com os convidados. Reza o protocolo que o convidado não deve iniciar a conversa ou estender sua mão, mas esperar que a Rainha lhe dirija a palavra. Ao chegar ao ponto em que estávamos, sorriu o seu belo sorriso, e sentimos o seu olhar atento, o toque pessoal e o interesse com que ouvia as pessoas, irradiando uma certa aura mágica.
Depois de falar com os convidados, a Rainha dirigiu-se à sua marquise real, posicionada em um ponto estratégico do jardim, onde esperavam os outros membros da família real. Foi então dada a ordem para que os funcionários do palácio começassem a servir o tradicional chá inglês. Vários gazebos foram erguidas para os convidados, de onde foram servidos diversos sanduíches delicados, deliciosos bolos e os tradicionais “scones” britânicos, servidos com geleia de morango e chantilly. Escolhi o chá Earl Grey, o qual aprendi a apreciar ao longo dos anos, degustado com leite - uma combinação completamente desconhecida para mim, e a princípio muito estranha ao meu paladar, acostumado a saborear apenas café, como a maioria dos brasileiros.
Foi uma ocasião muito especial, mágica e certamente inesquecível, ter tomado chá nos jardins do Palácio de Buckingham, servido nas mais requintadas xícaras de porcelana, gravadas com o emblema dourado do brasão da Rainha. O reinado de Elizabeth II terminou, mas a monarquia continua forte, sem solução de continuidade, tendo seu filho, o Príncipe Charles, oficialmente proclamado Rei Charles III, numa cerimônia histórica em que jurou que, “com a ajuda de Deus dedicarei o que resto da minha vida a realizar a pesada tarefa que me foi confiada”. Uma nova era tem início, um novo reinado desponta no horizonte, e seus súditos proclamam “Long live the King”!
Como súdita da Rainha Elizabeth II, comungo desse sentimento, relatando a ocasião memorável em que eu e o meu marido fomos convidados para tomar o famoso chá da tarde nos jardins do Palácio de Buckingham, residência oficial da Rainha em Londres, em 2005. Em meu livro de memórias Os Mais Belos Sonhos Sonhei, relato que ao chegar a Londres em 1987, para fazer o meu PhD, visitei o Palácio de Buckingham. Assim como fazem multidões de turistas que visitam Londres, cheguei até os portões do Palácio, admirando sua beleza e grandiosidade. Observei atentamente a Guarda da Rainha, com seus soldados elegantemente vestidos em seus icônicos uniformes vermelhos e chapéus de pele de urso. Eu sonhava em visitar Londres e, quando surgiu a oportunidade de estudar no exterior, escolhi a Inglaterra como meu destino preferido.
Sendo brasileira, e portanto oriunda de um país republicano, tinha uma imensa curiosidade em entender como a monarquia britânica havia sobrevivido com tanto sucesso até os tempos modernos. Hoje, vivendo há mais de 30 anos na Inglaterra, percebi que o Parlamentarismo aqui no Reino Unido, tendo um monarca como chefe do Estado, acima dos partidos políticos, é um regime altamente eficiente e proporciona estabilidade duradoura a este país. Muita coisa havia mudado desde os meus tempos de estudante: havia concluído meu doutorado, clinicava odontologia e era docente da Universidade de Londres. Casada com um britânico, tornei-me cidadã britânica e súdita da rainha Elizabeth II, tendo jurado lealdade à rainha e seus descendentes e sucessores, numa cerimônia oficial chamada Oath of Allegiance, que consta do Promissory Oath Act of 1868.
Muitos anos depois da minha chegada, lá estava eu %u200B%u200Bde novo, juntamente com o meu marido, no Palácio de Buckingham, mas desta vez como convidada de Sua Majestade a Rainha Elizabeth II, para participar das festividades oficiais de verão do calendário real, a tradicional e prestigiada Garden Party, um evento que começou com a Rainha Victoria em 1868. O evento acontece todos os anos, tendo como objetivo reconhecer e celebrar indivíduos que tiveram um impacto positivo na sociedade. Meu marido John Doddrell foi reconhecido por sua contribuição ao comércio internacional do Reino Unido. Em 2010, John foi nomeado Cônsul Geral Britânico em São Paulo, ocasião em que tive o grande privilégio de voltar ao meu país como Consulesa Britânica.
Juntamente com os outros convidados, congregamos em frente ao Palácio esperando a abertura dos portões. Era uma tarde de verão muito quente, com céu azul brilhante. Eu estava usando um vestido de verão vermelho morango e um chapéu, conforme exigido pelo código de vestimenta para a ocasião. Ao meu lado, meu marido John estava elegantemente vestido com um terno azul marinho listrado, camisa branca e uma linda gravata de seda estampada. Os outros convidados, também vestidos com as suas melhores vestimentas para o importante evento, conversavam animadamente, criavam uma atmosfera festiva. As mulheres, usando seus elegantes vestidos de verão e chapéus coloridos, de todas as formas, tamanhos e designs, alguns bem extravagantes, compunham um cenário que se assemelhava as belas pinturas impressionistas de Renoir!
Chegamos cedo, conforme solicitado, com nossos passaportes prontos para serem inspecionados pelos funcionários do Palácio. Os portões foram abertos, precisamente às 15 horas. Entramos pela porta principal do Palácio, que dava acesso a um magnífico hall, ricamente decorado com quadros de pintores clássicos, esculturas e objetos decorativos dourados, contrastando com belíssimos tapetes, onde predominava o vermelho. O hall principal dava acesso aos jardins do Palácio. Enquanto esperávamos a chegada da Rainha, prevista para as 16 horas, tivemos a oportunidade de explorar os belos jardins, apreciando as flores coloridas, a grande variedade de arbustos e árvores plantadas nos extensos 42 hectares de terra.
Pontualmente às 16 horas, a Rainha Elizabeth entrou no jardim acompanhada em procissão por seu marido, o Duque de Edimburgo. Seguindo, estavam o então Príncipe Charles, sua esposa Camilla e o Príncipe Andrew. O hino nacional “God Save the Queen” foi então tocado pela banda militar. As pessoas se alinharam em colunas ao longo do jardim, enquanto a Rainha acompanhada por um oficial impecavelmente vestido em seu uniforme de gala, passava, parando por alguns minutos para conversar brevemente com os convidados. Reza o protocolo que o convidado não deve iniciar a conversa ou estender sua mão, mas esperar que a Rainha lhe dirija a palavra. Ao chegar ao ponto em que estávamos, sorriu o seu belo sorriso, e sentimos o seu olhar atento, o toque pessoal e o interesse com que ouvia as pessoas, irradiando uma certa aura mágica.
Depois de falar com os convidados, a Rainha dirigiu-se à sua marquise real, posicionada em um ponto estratégico do jardim, onde esperavam os outros membros da família real. Foi então dada a ordem para que os funcionários do palácio começassem a servir o tradicional chá inglês. Vários gazebos foram erguidas para os convidados, de onde foram servidos diversos sanduíches delicados, deliciosos bolos e os tradicionais “scones” britânicos, servidos com geleia de morango e chantilly. Escolhi o chá Earl Grey, o qual aprendi a apreciar ao longo dos anos, degustado com leite - uma combinação completamente desconhecida para mim, e a princípio muito estranha ao meu paladar, acostumado a saborear apenas café, como a maioria dos brasileiros.
Foi uma ocasião muito especial, mágica e certamente inesquecível, ter tomado chá nos jardins do Palácio de Buckingham, servido nas mais requintadas xícaras de porcelana, gravadas com o emblema dourado do brasão da Rainha. O reinado de Elizabeth II terminou, mas a monarquia continua forte, sem solução de continuidade, tendo seu filho, o Príncipe Charles, oficialmente proclamado Rei Charles III, numa cerimônia histórica em que jurou que, “com a ajuda de Deus dedicarei o que resto da minha vida a realizar a pesada tarefa que me foi confiada”. Uma nova era tem início, um novo reinado desponta no horizonte, e seus súditos proclamam “Long live the King”!