Zeca Brandão
Arquiteto e urbanista, PhD pela Architectural Association (Londres), professor titular da UFPE e autor do projeto Parque Urbano da Macaxeira
Publicação: 23/04/2025 03:00
Recentemente, a prefeitura e a concessionária Viva Parques Recife apresentaram os projetos de concessão privada de quatro parques urbanos da cidade: Dona Lindu, Jaqueira, Santana e Apipucos. Uma concessão privada é um contrato no qual o Estado delega a responsabilidade de oferecer um serviço público a uma empresa privada, por um período específico, após um processo de licitação, sendo a empresa remunerada por meio de tarifas pagas pelos usuários. A princípio, estava incluído entre esses parques o Parque Urbano da Macaxeira, que, por razões desconhecidas, foi excluído dessa lista.
No final de 2010, enquanto exercia o cargo de coordenador do Núcleo Técnico de Operações Urbanas, o então governador de Pernambuco Eduardo Campos solicitou que procurássemos um terreno adequado para a implantação de um grande espaço público destinado à população de menor poder aquisitivo. Nos recomendou explicitamente que a área do parque fosse no mínimo igual a do Parque da Jaqueira e a sua localização fosse de fácil acesso para essa população. Era uma tarefa difícil, visto que já não temos grandes áreas disponíveis no município de Recife. Passei semanas com essa demanda na cabeça até que um dia, ao fazer o trajeto entre a UFPE e a Secretaria das Cidades, na época comandada pelo atual superintendente da Sudene, Danilo Cabral, avistei uma área que me pareceu perfeita para esse propósito: o terreno da Fábrica da Macaxeira.
Abandonada desde o final da década de 1970, quando ocorreu o falecimento do seu proprietário, essa área, de aproximadamente 10 hectares, sofreu um processo acelerado de deterioração e se transformou numa grande ruína urbana. A originalmente chamada Fábrica de Tecidos Apipucos, uma pequena fábrica de estopa utilizada para ensacar açúcar, com o passar dos anos foi transformada no Cotonifício Othon Bezerra de Mello. Em 1928, após se destacar no meio têxtil pernambucano, a algodoaria passou então a se chamar Fábrica da Macaxeira.
Embasado no instrumento jurídico da “função social da propriedade”, que possibilita a desapropriação de edificações e terrenos abandonados para o bem-estar coletivo, o imóvel foi desapropriado pelo Governo do Estado de Pernambuco em junho de 2011, visando à construção do Parque Urbano da Macaxeira. A ação teve um significativo custo político, considerando que o imóvel pertencia ao Grupo Othon, que já havia negociado a área com a Moura Dubeux Engenharia para a construção de um empreendimento composto por várias torres residenciais.
Localizado numa das regiões mais pobres da cidade, o parque atende a uma extensa população carente, composta principalmente por moradores de Casa Amarela e Dois Irmãos. Apesar de todas as dificuldades que tivemos durante a execução da obra, o sucesso do projeto é inegável. Mesmo inacabado e apresentando problemas de drenagem e segurança, o parque foi muito bem recebido pela população local, que o utiliza diariamente e ao longo de todo o dia. Nos fins de semana, a frequência é ainda maior, com eventuais programações culturais e de lazer. Com o passar dos anos, a área transformou-se no grande espaço público da região, sendo utilizado por adultos, idosos e crianças.
A realização do Parque Urbano da Macaxeira foi fruto de um gesto político corajoso do governador Eduardo Campos e de seu secretário Danilo Cabral. Ao confrontarem a especulação imobiliária e o processo de verticalização desenfreada em prol da necessidade de criar espaços públicos para uma população que tem menos acesso a atividades de cultura e lazer, eles demonstraram o forte compromisso do governo com a questão social.
Provavelmente, a sua exclusão da lista de parques públicos a serem concedidos à iniciativa privada deve-se ao baixo poder aquisitivo da grande maioria de seus usuários, reduzindo assim a margem de lucro da empresa parceira. De fato, a motivação social que originou a proposta desse parque não pode ser esquecida e as futuras intervenções geradas em função da parceria precisam estar totalmente comprometidas com as necessidades da população carente da região.
Entretanto, os parques localizados nas áreas mais pobres da cidade também devem ser contemplados, garantindo assim o mesmo nível de qualidade da gestão, manutenção e operação dos parques frequentados por grupos sociais mais privilegiados. Para isso, faz-se necessário mesclar no mesmo lote licitatório os parques localizados nas áreas nobres da cidade com os localizados nas áreas mais carentes, de modo que os lucros gerados pelos primeiros compensem os possíveis prejuízos dos segundos. Dessa forma, será possível construir uma rede de espaços públicos de boa qualidade que atenda não só as classes mais favorecidas da cidade, mas a toda população recifense.
No final de 2010, enquanto exercia o cargo de coordenador do Núcleo Técnico de Operações Urbanas, o então governador de Pernambuco Eduardo Campos solicitou que procurássemos um terreno adequado para a implantação de um grande espaço público destinado à população de menor poder aquisitivo. Nos recomendou explicitamente que a área do parque fosse no mínimo igual a do Parque da Jaqueira e a sua localização fosse de fácil acesso para essa população. Era uma tarefa difícil, visto que já não temos grandes áreas disponíveis no município de Recife. Passei semanas com essa demanda na cabeça até que um dia, ao fazer o trajeto entre a UFPE e a Secretaria das Cidades, na época comandada pelo atual superintendente da Sudene, Danilo Cabral, avistei uma área que me pareceu perfeita para esse propósito: o terreno da Fábrica da Macaxeira.
Abandonada desde o final da década de 1970, quando ocorreu o falecimento do seu proprietário, essa área, de aproximadamente 10 hectares, sofreu um processo acelerado de deterioração e se transformou numa grande ruína urbana. A originalmente chamada Fábrica de Tecidos Apipucos, uma pequena fábrica de estopa utilizada para ensacar açúcar, com o passar dos anos foi transformada no Cotonifício Othon Bezerra de Mello. Em 1928, após se destacar no meio têxtil pernambucano, a algodoaria passou então a se chamar Fábrica da Macaxeira.
Embasado no instrumento jurídico da “função social da propriedade”, que possibilita a desapropriação de edificações e terrenos abandonados para o bem-estar coletivo, o imóvel foi desapropriado pelo Governo do Estado de Pernambuco em junho de 2011, visando à construção do Parque Urbano da Macaxeira. A ação teve um significativo custo político, considerando que o imóvel pertencia ao Grupo Othon, que já havia negociado a área com a Moura Dubeux Engenharia para a construção de um empreendimento composto por várias torres residenciais.
Localizado numa das regiões mais pobres da cidade, o parque atende a uma extensa população carente, composta principalmente por moradores de Casa Amarela e Dois Irmãos. Apesar de todas as dificuldades que tivemos durante a execução da obra, o sucesso do projeto é inegável. Mesmo inacabado e apresentando problemas de drenagem e segurança, o parque foi muito bem recebido pela população local, que o utiliza diariamente e ao longo de todo o dia. Nos fins de semana, a frequência é ainda maior, com eventuais programações culturais e de lazer. Com o passar dos anos, a área transformou-se no grande espaço público da região, sendo utilizado por adultos, idosos e crianças.
A realização do Parque Urbano da Macaxeira foi fruto de um gesto político corajoso do governador Eduardo Campos e de seu secretário Danilo Cabral. Ao confrontarem a especulação imobiliária e o processo de verticalização desenfreada em prol da necessidade de criar espaços públicos para uma população que tem menos acesso a atividades de cultura e lazer, eles demonstraram o forte compromisso do governo com a questão social.
Provavelmente, a sua exclusão da lista de parques públicos a serem concedidos à iniciativa privada deve-se ao baixo poder aquisitivo da grande maioria de seus usuários, reduzindo assim a margem de lucro da empresa parceira. De fato, a motivação social que originou a proposta desse parque não pode ser esquecida e as futuras intervenções geradas em função da parceria precisam estar totalmente comprometidas com as necessidades da população carente da região.
Entretanto, os parques localizados nas áreas mais pobres da cidade também devem ser contemplados, garantindo assim o mesmo nível de qualidade da gestão, manutenção e operação dos parques frequentados por grupos sociais mais privilegiados. Para isso, faz-se necessário mesclar no mesmo lote licitatório os parques localizados nas áreas nobres da cidade com os localizados nas áreas mais carentes, de modo que os lucros gerados pelos primeiros compensem os possíveis prejuízos dos segundos. Dessa forma, será possível construir uma rede de espaços públicos de boa qualidade que atenda não só as classes mais favorecidas da cidade, mas a toda população recifense.