Governança e compliance para clubes, institutos e associações: uma necessidade ética e organizacional

Otavio Moraes
Professor, sociólogo, MSc em Administração e membro de conselhos de clubes, institutos e associações

Publicação: 24/04/2025 03:00

A insatisfação crescente de sócios e associados de clubes, institutos e associações em relação à malversação, à falta de transparência e ao desvio de foco para interesses pessoais de seus dirigentes ecoa como um clamor por mudanças estruturais. A demanda social por integridade e responsabilidade na gestão dessas entidades tem sido objeto de estudo e debate intensos, e a convicção de que a implementação de um modelo robusto de governança corporativa, compliance e outras ferramentas organizacionais representa a solução para blindar clubes, instituições e associações contra a ineficácia e a má conduta se fortalece a cada dia.

É fundamental desmistificar a ideia de que a governança é um conceito exclusivo de organizações privadas e de grande porte. Na verdade, a governança se configura como um modelo de gestão abrangente que, em sinergia com o compliance e outras ferramentas organizacionais cruciais, oferece um conjunto de sete benefícios significativos e tangíveis também para clubes, associações e institutos, independentemente de seu tamanho ou natureza jurídica.

1. Alívio e Qualidade de Vida para os Dirigentes: Um modelo de governança bem estruturado capacita a equipe e implementa metodologias que viabilizam uma descentralização eficaz da gestão. A antiga máxima de que apenas os “olhos do dono” garantem o bom funcionamento da entidade é superada pela implementação de ferramentas organizacionais que permitem gerir com menos sobrecarga e garantir resultados eficazes através da delegação responsável e da definição clara de papéis e responsabilidades.

2. Satisfação dos Sócios ou Associados: A aplicação consistente de um modelo de governança de qualidade reflete-se diretamente na satisfação dos sócios e associados. A transparência nas decisões, a clareza nos processos e a demonstração de responsabilidade na gestão dos recursos contribuem para a diminuição do índice de reclamações e o aumento da confiança e do engajamento dos membros.

3. Melhora do Orçamento: A governança corporativa, aliada a práticas de compliance, promove uma gestão de riscos mais eficiente e contribui significativamente para a otimização de custos. A implementação de controles internos robustos e a adoção de processos transparentes minimizam desperdícios e fraudes, impactando positivamente na saúde financeira da organização e permitindo um melhor direcionamento dos recursos para as atividades finalísticas.

4. Prevenção Contra a Malversação: A ausência de um sistema de compliance e de outras ferramentas organizacionais expõe clubes, institutos e associações a um risco elevado de malversação e à possibilidade de que dirigentes temporários priorizem seus próprios interesses em detrimento dos objetivos da entidade. Um modelo de governança forte estabelece mecanismos de controle, auditoria e responsabilização, dificultando práticas ilícitas e protegendo o patrimônio da organização.

5. Foco na Gestão Eficaz: A gestão de clubes, institutos e associações deve ser pautada unicamente pelos interesses, demandas e necessidades de seus sócios ou associados, e não por interesses pessoais de seus dirigentes. Um modelo de governança completo atua como um escudo protetor contra esse “desvio de foco”, garantindo que as decisões e ações da administração estejam alinhadas com a missão e os objetivos da organização, em benefício de seus membros.

6. Transparência: A mera indicação de conselheiros fiscais por dirigentes, sem critérios técnicos e impessoais, e a apresentação de balanços e auditorias, por si só, não garantem a transparência necessária para uma boa gestão. Casos recentes e históricos demonstram a urgência de modelos de governança e compliance que promovam uma transparência genuína, fortalecendo a confiança dos sócios e da sociedade na gestão de clubes, institutos e associações. A divulgação clara de informações relevantes, a implementação de canais de comunicação eficientes e a prestação de contas regular são pilares essenciais nesse processo.

7. Captação de Recursos e Aprovação de Projetos: Um clube ou instituto que demonstra possuir um modelo de governança, compliance e outras ferramentas de gestão bem estruturado e em funcionamento desfruta de maior credibilidade perante potenciais financiadores, patrocinadores e órgãos públicos. A demonstração de boas práticas de gestão e de compromisso com a transparência e a ética aumenta significativamente as chances de captação de recursos e de aprovação de projetos, impulsionando o desenvolvimento e a sustentabilidade da organização.

Em suma, a adoção de práticas de governança e compliance não é apenas uma recomendação, mas sim uma necessidade ética e organizacional para clubes, institutos e associações. Ao implementar um modelo robusto e adaptado às suas realidades, essas entidades não apenas se protegem contra a malversação e a ineficácia, mas também fortalecem sua legitimidade, aumentam a satisfação de seus membros, otimizam seus recursos e abrem novas portas para o futuro. A busca por uma gestão transparente, responsável e focada nos interesses de seus stakeholders é o caminho para a sustentabilidade e o fortalecimento do tecido social que essas organizações representam.