Dicas de português

Dad Squarisi

Publicação: 04/01/2015 03:00

Barbas de molho
Valha-nos, Deus! Mosquitos fazem a festa. Soltos no mundo, picam criaturas desprevenidas. Um deles é velho conhecido nosso. Trata-se do Aedes aegypti.
Chegam as chuvas, ele vira manchete. A razão: o inseto transmite a dengue. Não só. Também transmite a febre amarela urbana. Por sorte, a amarelona caiu fora das nossas cidades em 1942. Que fique longe pra todo o sempre.

Na vida, dizem os pragmáticos, nada se perde. Tudo se aproveita. É o caso do inseto malandro. Ele ensina uma manha da língua. É a grafia dos nomes científicos. Os sofisticados fazem exigências. O primeiro elemento deve ter a inicial maiúscula. O segundo, minúscula. Ambos se escrevem em itálico. Assim: Aedes aegypti, Coffea arabica (café), Rhea americana (ema), Aedes albopictus (tigre-asiático).

A boa-vida
Xô, escola! Xô, trabalho! Xô, seriedade! É hora de sombra e água fresca. As férias pedem passagem. A descansadona tem uma mania. Só se usa no plural. Artigo, adjetivos, pronomes e verbos a ela relacionados vão atrás. Concordam com a boa-vida: Minhas férias escolares começaram em 15 de dezembro. Vão longe as férias em que fui a João Pessoa. Felizes férias, João Marcelo!

Verbo aventureiro

Ufa! As aulas deram vez a férias e recessos. Malas prontas, chegou a hora de pôr o pé na estrada. Alguns vão à praia. Outros, ao campo. Há quem prefira visitar parentes e amigos. A variedade tem um denominador comum. É o verbo viajar. Com o aventureiro, abra os dois olhos. Viajar se escreve com j. A filharada segue o mesmo caminho. Todas as pessoas, tempos e modos conservam a letra: eu viajo, eu viajei, que eu viaje, ele viaje, nós viajemos, eles viajem.

Sem acidentes
Atenção, marinheiro de muitos ou poucos portos. Não tropece na generalização. O verbo tem compromisso com a família. O substantivo não tem nada com a história. Viajem, 3ª pessoa do plural do presente do subjuntivo de viajar, se grafa com j. Viagem, substantivo, se escreve com g: Eles ainda não bateram o martelo. Talvez viajem pra França. Talvez pro Canadá. Qualquer que seja o destino, o importante é que façam boa viagem.

Olho vivo
Gente fina, não bobeie. Pra evitar doenças indesejáveis, o verbo é prevenir. Vacine-se. Mas cuidado com a preposição. Tome vacina contra a gripe, contra o sarampo, contra a varíola. Com elas, indesejadas enfermidades ficam bem longe. Vacina para a gripe, o sarampo e a coqueluche? Cruz-credo! O para atrai. Xô!

Três times
"Qual é a do afro?", pergunta João Rafa. "Ora o vejo grafado no singular, ora no plural. Ora com hífen, ora sem. E daí?" Afro joga em três times. Um: substantivos. Aí, não tem feminino nem masculino. Mas tem singular e plural (o afro, os afros). Dois: adjetivos. No caso, é invariável (cultura afro, culturas afro, cabelo afro, cabelos afro). O último: prefixos. Pede hífen na formação dos adjetivos pátrios ou quando for seguido de h ou o. No mais, é tudo colado: afro-americano, afro-brasileiro, afro-germânico, afro-histórico, afro-orgânização, afrodescendente, afrofobia, afronegro.

Leitor pergunta
"No sábado, a aula de ginástica será em frente à academia." O acento indicador de crase está certinho?
Tereza Maria, lugar incerto

Está. Na dúvida, recorra ao velho truque aprendido na escola primária. Substitua a palavra feminina por uma masculina (não precisa ser sinônima). Se no troca-troca der ao, não pense duas vezes. Ocorre crase: No domingo, vou à piscina (ao clube). O namorado é fiel à amada (ao amado). Neste sábado, a aula de ginástica será em frente à academia (ao prédio).

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Estava escrevendo um texto quando uma dúvida me paralisou. Ei-la: os prós e os contras? Os pró e os contra? Como fazer o plural da duplinha?
Geraldo Espínola, Porto Alegre

O português tem uma magia. Transforma qualquer classe de palavra em substantivo. Advérbio, preposição, conjunção, verbo podem virar nome desde que exerçam a função do nome (sujeito, objeto, complemento nominal). Para chegar lá, em geral são antecedidos de artigo, numeral ou pronome: os nãos, dois nãos, seus nãos.

Pró e contra não fogem à regra. Substantivados, seguem a regra do plural dos nomes. No caso, ganham um s: os prós e os contras.
recado

"A ironia é uma brincadeira do espírito. O humor seria antes uma brincadeira do coração, uma brincadeira da sensibilidade." Jules Renard