Cuidado com a dor nos olhos Desconforto pode ter relação até mesmo com hipertensão e diabetes. Cerca de 50% dos nervos do cérebro estão conectados à visão

Alice de Souza
alicesouza.pe@dabr.com.br

Publicação: 17/07/2016 03:00

A corretora de imóveis Valéria Silva foi surpreendida com dor no olho esquerdo e visão turva. Sintoma foi diagnosticada com uma inflamação (Karina Morais/Esp.DP )
A corretora de imóveis Valéria Silva foi surpreendida com dor no olho esquerdo e visão turva. Sintoma foi diagnosticada com uma inflamação
Quando se fala de oftalmologista, a primeira imagem que vem à cabeça de muitas pessoas é a dos exames para detectar problemas de refração, como a miopia e a hipermetropia. Mas a relação entre a visão e o organismo vai muito além das lentes de um par de óculos que usamos para corrigir o grau. Cerca de 50% dos nervos do cérebro estão conectados à visão e aos movimentos oculares. Uma dor nos olhos ou baixa visão pode ser um sintoma de doenças neurológicas e até ter relação com doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), como a hipertensão e a diabetes.

Um exemplo são os tumores cerebrais benignos, que podem comprimir as áreas nobres do sistema visual. Aneurisma, hipertensão craniana e esclerose múltipla atingem o nervo óptico e outras áreas da visão. Em casos de AVC e trombose, pode haver uma perda súbita da visão. Dor de cabeça, dor ocular e retro ocular, baixa de visão, diminuição dos campos visuais, alterações do tamanho da pupila, visão dupla, queda da pálpebra, fotofobia, dentre outros, são indícios de alterações neurológicas.

Nesses casos, é imprenscindível a atenção. Cada dia a mais pode significar avanço da doença e aumenta a possibilidade de sequelas irreversíveis. Mas a maioria dos pacientes demora, no mínimo, 15 dias até chegar a um diagnóstico. A neuroftalmologista do Instituto de Olhos do Recife (IOR) Marisa Kattah já chegou a receber no consultório pacientes que peregrinaram quase um ano atrás de diagnóstico.

“Os sintomas podem surgir de forma súbita ou de forma progressiva. E nem sempre eles são identificáveis pelo paciente, caso da redução do campo visual. A nossa recomendação é de que o paciente faça um exame de campo visual a partir dos 15 anos”, afirmou a neuroftalmologista. Se identificada alguma alteração, o paciente precisa ser acompanhado com frequência. Em outros casos, o exame pode ser refeito a cada dois anos.

Exames feitos em bebês permitem ver funcionamento do olho de forma mais completa que os testes tradicionais de imagem (Karina Morais/Esp.DP )
Exames feitos em bebês permitem ver funcionamento do olho de forma mais completa que os testes tradicionais de imagem
Há 10 anos, a corretora de imóveis Valéria Silva, 44, foi surpreendida com uma dor no olho esquerdo e visão turva. Ela chegou a procurar ajuda médica, mas só depois de 15 dias obteve o diagnóstico: estava com neurite óptica. Cerca de 15% a 20% dos casos de esclerose múltipla se apresentam no começo como neurite. Por isso, a rapidez nesses diagnósticos é crucial. “Fiz um tratamento de dias com corticoide e depois tive mais dois episódios. A cada seis meses, faço a campometria visual e comecei a me policiar para levar uma vida mais leve”, conta.

As alterações da visão também podem ser consequência de doenças descompensadas, como hipertensão e diabetes. “Existem doenças sistêmicas, do corpo, que afetam o olho. Geralmente, elas acontecem por dois motivos: inflamação, que gera dor e dificuldade de enxergar; e vasculares, em que os vasos da retina, mais finos, são acometidos em doenças como diabetes, hemofilia, hipertensão, doenças vasculares”, afirmou oftalmologista especializado em retina do Real Hospital Português (RHP) João Lins.

A retinopatia diabética é hoje a maior causa de cegueira irreversível no país. Nos Estados Unidos, é a maior causa de cegueira em pessoas dos 20 aos 74 anos. Um estudo realizado em 2014 por pesquisadores da Faculdade de Medicina de Botucatu sobre a prevalência de diabetes e retinopatia diabética na população brasileira mostrou que 7,62% dos pacientes diabéticos estavam com a retinopatia no momento do exame. E cerca de 35,4% desses pacientes sequer sabiam que estavam diabéticos e descobriram através de exame ocular.

Atenção

Sintomas que podem indicar alterações neurológicas

  • Baixa visão, diminuição dos campos visuais, alteração do tamanho da pupila, visão dupla, estrabismo, queda da pálpebra, sensação de blackout, fotofobia, balanço no olhar (nistagmo) e alteração na visão das cores
  • Doenças que podem afetar a visão
    Tumores cerebrais benignos, aneurismas, adenomas de hipófise, suspeita de hipertensão intracraniana, infecções virais, bacterianas e parasitárias, hipertensão, diabetes e doenças autoimunes, como a esclerose múltipla
  • Retinopatia diabética
    É principal causa de cegueira em pessoas entre os 20 e 74 anos nos EUA 12% dos novos casos de cegueira são causados por complicações da diabetes, após cerca de 20 anos de diagnóstico 90% dos portadores de diabetes tipo 1 e 60% daqueles com diabetes tipo 2 apresentam algum grau de retinopatia
Fontes: Marisa Kattah, IOR e Sanofi