Gertrudes Marques: uma mulher revolucionária Brasileira negra e pobre se integrou ao movimento de 1817, que lhe trouxe uma breve melhoria de vida

Publicação: 07/08/2016 03:00

Os líderes revolucionários de 1817 entraram para a história de Pernambuco como heróis - e mártires, em certos casos - de uma luta pela liberdade. Mas de que forma a insurreição contra Portugal foi vista (e vivida) pelo povo? Tomamos como exemplo uma revolucionária negra e analfabeta. Sobre Gertrudes Marques, cuja participação no motim foi registrada em uma única anotação, sabemos pouco. Mas é certo que o novo regime lhe trouxe grandes benefícios. A trajetória de personagens simples como ela será contada na 22ª reportagem da série Pernambuco: história & personagens, publicada pelo Diario em parceria com o governo do estado.

É provável que Gertrudes tenha sido pega de surpresa pelo levante que irrompeu, subitamente, em 6 de março de 1817. Mas o regime lhe trouxe grandes vantagens. A primeira novidade foi a queda no preço dos alimentos. Os grandes responsáveis pela fome eram os comerciantes lusos que especulavam à vontade, aliados às autoridades que deveriam fiscalizá-los. O governo revolucionário tomou logo a providência de adquirir alimentos e revendê-los à população a preço de custo. E ainda mandou os agricultores plantarem mandioca, feijão, milho e arroz, além de cana e algodão, para tornar Pernambuco menos dependente do que vinha de fora.

Formidável, também, foi o decreto abolindo os tratamentos de “senhor” e “vosmicê” dados às pessoas consideradas importantes. Todos passaram a se tratar apenas de “patriota” (equivalente, hoje, a “companheiro”) e “vós” (você), e os pobres não precisaram mais dar passagem quando cruzavam com alguém “bom” (rico) na rua. Naqueles tempos modernos, Gertrudes viu muitos negros cativos baterem nos ombros dos brancos, dizerem “bons dias, patriota” e pedirem ou oferecerem tabaco, sem tirarem o chapéu da cabeça. E, provavelmente, se embriagou com o “vapor” (“ar” ou “cheiro”) de uma igualdade que jamais havia respirado.

Mas a tristeza começou já no dia 11 de abril, quando navios de guerra portugueses bloquearam o porto. A repressão não se restringiu aos patriotas ricos e remediados. Centenas de escravos e homens pobres livres, que de algum modo apoiaram a República, foram violentamente açoitados, enquanto as mulheres recebiam “bolos” de palmatória nas mãos. A humilde revolucionária ficou 45 dias presa, tomando duas dúzias de bolos pela manhã e duas pela tarde; e uma pequena anotação, nas atas da devassa, foi o único registro que sobre ela ficou para a história.

Conhecimento
O projeto Pernambuco, história & personagens tem o objetivo é fomentar o conhecimento dos pernambucanos sobre a história do estado através de personagens ligados ao bicentenário da Revolução de 1817. Serão 52 matérias, publicadas semanalmente até a data da revolução. A coordenação do projeto é do jornalista e escritor Paulo Santos de Oliveira.