O alerta que vem dos sobreviventes
Dois meses após a primeira morte por coronavírus em Pernambuco, pacientes recuperados alertam que pandemia não pode ser minimizada
Publicação: 23/05/2020 03:00
Primeira paciente internada com diagnóstico da Covid-19 na UTI do Hospital da Mulher do Recife, a dona de casa Sandra Gomes, 48 anos, lembra que o primeiro sinal para a gravidade da doença veio quando tentou tomar água e não conseguiu por causa da falta de ar. Recuperada, ela faz um alerta sobre as dificuldades que um paciente com quadro mais severo enfrenta após ser diagnosticado com o novo coronavírus.
Nesta segunda-feira, Pernambuco completa dois meses do registro da primeira morte pela Covid-19. O estado teve, nessa sexta, um novo recorde de mortes causadas pelo novo coronavírus, quando a Secretaria Estadual de Saúde (SES) recebeu a confirmação laboratorial de 132 óbitos. Com isso, Pernambuco contabiliza um total de 2.057 vidas perdidas para a Covid-19. Por outro lado, já foram registrados 4.361 recuperados da doença.
Uma das curadas, Sandra ressalta a necessidade de as pessoas ficarem em casa para diminuir a velocidade de contágio do vírus e frear o avanço na quantidade de mortes. “A falta de ar era tão grande que não consegui beber água. Engasgada, fui para a UPA dos Torrões pela segunda vez. Como sou diabética, procuraram uma vaga em UTI e fui para o Hospital da Mulher”, disse a dona de casa. Na primeira ida à Unidade de Pronto Atendimento e com sintomas leves da doença, Sandra foi orientada a voltar para o isolamento domiciliar. “Disseram que era uma crise de ansiedade e me disseram para ir pra casa”, recordou.
Depois de uma nova crise de falta de ar, passou cinco dias na UTI do Hospital da Mulher do Recife e mais nove na enfermaria da unidade especializada. “Não precisei ser entubada e me recuperei com a medicação administrada pela equipe e com a fisioterapia respiratória. Vencer essa doença me fez perceber como é horrível querer respirar e não conseguir. A quem pensa que o que estamos vivendo é brincadeira, posso garantir que não é”, enfatizou.
O montador de elevadores Albérico de Oliveira, 63 anos, testemunhou mortes de companheiros de UTI enquanto esteve internado para o tratamento da Covid-19 no Hospital das Clínicas (HC). No hospital, viu pessoas sendo entubadas e não conseguindo vencer o novo coronavírus. O pensamento de que seria o próximo, diz, foi inevitável.
Morador do bairro de Vista Alegre, em Jaboatão dos Guararapes, Albérico teve os primeiros sintomas da doença no dia 16 de abril. Os sinais iniciais foram perda do olfato e do paladar. “Nos dias seguintes, passei a tossir muito e a ter cansaço. Foi quando fui para a UPA do Curado. Lá, fiquei por uma semana na sala vermelha até conseguirem uma vaga em UTI. Foi quando fui para o HC. Vi muitas pessoas morrendo perto de mim e achei que seria o próximo. Tenho diabetes e hipertensão. É uma experiência que não desejo a ninguém”, contou.
A jornalista Aline Moura, 45 anos, conseguiu se recuperar da Covid-19, e presenciou, no mesmo dia em que fez o teste para saber se tinha a doença, a sogra, Sebastiana Pedroza, de 73 anos, ser socorrida com falta de ar. Do quarto onde cumpria o isolamento, Aline não pôde auxiliar no socorro. Sebastiana chegou a um hospital público sem sinais vitais. A equipe que a recebeu tentou reanimá-la, sem sucesso.
“O primeiro sintoma foi uma tosse, mas, no decorrer dos dias, fui piorando. Parecia que o meu corpo estava cheio de veneno”, disse. No dia 21 de abril, Aline procurou um hospital particular na área central do Recife. Foi diagnosticada com um quadro comum de gripe e orientada a retornar para casa. “Cheguei e fui direto para o banheiro e permaneci isolada no quarto. Nos dias anteriores, porém, tive contato com a minha sogra. Ela tinha sofrido um AVC e precisava de cuidados constantes”, afirmou.
Dos familiares que conviviam na residência, apenas Aline e Sebastiana apresentaram sintomas da Covid-19. “Meu marido e minhas cunhadas não tiveram sintomas. O meu quadro foi moderado. O da minha sogra, grave. Ela passou alguns dias sem apetite, mas teve um agravamento repentino, com falta de ar”, relatou a jornalista. Na certidão de óbito de Sebastiana, a causa da morte foi registrada como Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). A família recebeu a informação de que o óbito, ocorrido no dia 25 de abril, seria investigado para saber se a condição foi causada pelo novo coronavírus, mas, até agora, o laudo não foi informado aos parentes de Sebastiana. Aline recebeu o diagnóstico da doença após pagar pelo exame.
Na casa da autônoma Edilma Antunes, 32 anos, ela; o marido, Douglas Alves, 34, e a mãe, Zilda Maria, 59, tiveram Covid-19. Os três conseguiram se recuperar da doença. “O intervalo entre o oitavo e o décimo dia foi o pior. Nesses dias, só consegui dormir fazendo uso de bombinha”, disse Edilma, que foi diagnosticada em consulta no hospital da Hapvida no Derby. “É impressionante como, ao completar 14 dias, nos casos de quem não teve agravamento, como foi conosco, os sintomas se vão”, afirmou.
Para ser considerado curado da Covid-19, de acordo com o infectologista Demetrius Montenegro, é preciso completar o ciclo de 14 dias da doença mais três dias sem sintomas. Quando o paciente não tem complicações e não apresenta os sintomas nesse período, é considerada cura clínica. Caso o paciente precise ir para a UTI e tenha complicações, mesmo completando 14 dias, só será considerado recuperado quando todas as complicações forem resolvidas.
Nesta segunda-feira, Pernambuco completa dois meses do registro da primeira morte pela Covid-19. O estado teve, nessa sexta, um novo recorde de mortes causadas pelo novo coronavírus, quando a Secretaria Estadual de Saúde (SES) recebeu a confirmação laboratorial de 132 óbitos. Com isso, Pernambuco contabiliza um total de 2.057 vidas perdidas para a Covid-19. Por outro lado, já foram registrados 4.361 recuperados da doença.
Uma das curadas, Sandra ressalta a necessidade de as pessoas ficarem em casa para diminuir a velocidade de contágio do vírus e frear o avanço na quantidade de mortes. “A falta de ar era tão grande que não consegui beber água. Engasgada, fui para a UPA dos Torrões pela segunda vez. Como sou diabética, procuraram uma vaga em UTI e fui para o Hospital da Mulher”, disse a dona de casa. Na primeira ida à Unidade de Pronto Atendimento e com sintomas leves da doença, Sandra foi orientada a voltar para o isolamento domiciliar. “Disseram que era uma crise de ansiedade e me disseram para ir pra casa”, recordou.
Depois de uma nova crise de falta de ar, passou cinco dias na UTI do Hospital da Mulher do Recife e mais nove na enfermaria da unidade especializada. “Não precisei ser entubada e me recuperei com a medicação administrada pela equipe e com a fisioterapia respiratória. Vencer essa doença me fez perceber como é horrível querer respirar e não conseguir. A quem pensa que o que estamos vivendo é brincadeira, posso garantir que não é”, enfatizou.
O montador de elevadores Albérico de Oliveira, 63 anos, testemunhou mortes de companheiros de UTI enquanto esteve internado para o tratamento da Covid-19 no Hospital das Clínicas (HC). No hospital, viu pessoas sendo entubadas e não conseguindo vencer o novo coronavírus. O pensamento de que seria o próximo, diz, foi inevitável.
Morador do bairro de Vista Alegre, em Jaboatão dos Guararapes, Albérico teve os primeiros sintomas da doença no dia 16 de abril. Os sinais iniciais foram perda do olfato e do paladar. “Nos dias seguintes, passei a tossir muito e a ter cansaço. Foi quando fui para a UPA do Curado. Lá, fiquei por uma semana na sala vermelha até conseguirem uma vaga em UTI. Foi quando fui para o HC. Vi muitas pessoas morrendo perto de mim e achei que seria o próximo. Tenho diabetes e hipertensão. É uma experiência que não desejo a ninguém”, contou.
A jornalista Aline Moura, 45 anos, conseguiu se recuperar da Covid-19, e presenciou, no mesmo dia em que fez o teste para saber se tinha a doença, a sogra, Sebastiana Pedroza, de 73 anos, ser socorrida com falta de ar. Do quarto onde cumpria o isolamento, Aline não pôde auxiliar no socorro. Sebastiana chegou a um hospital público sem sinais vitais. A equipe que a recebeu tentou reanimá-la, sem sucesso.
“O primeiro sintoma foi uma tosse, mas, no decorrer dos dias, fui piorando. Parecia que o meu corpo estava cheio de veneno”, disse. No dia 21 de abril, Aline procurou um hospital particular na área central do Recife. Foi diagnosticada com um quadro comum de gripe e orientada a retornar para casa. “Cheguei e fui direto para o banheiro e permaneci isolada no quarto. Nos dias anteriores, porém, tive contato com a minha sogra. Ela tinha sofrido um AVC e precisava de cuidados constantes”, afirmou.
Dos familiares que conviviam na residência, apenas Aline e Sebastiana apresentaram sintomas da Covid-19. “Meu marido e minhas cunhadas não tiveram sintomas. O meu quadro foi moderado. O da minha sogra, grave. Ela passou alguns dias sem apetite, mas teve um agravamento repentino, com falta de ar”, relatou a jornalista. Na certidão de óbito de Sebastiana, a causa da morte foi registrada como Síndrome Respiratória Aguda Grave (Srag). A família recebeu a informação de que o óbito, ocorrido no dia 25 de abril, seria investigado para saber se a condição foi causada pelo novo coronavírus, mas, até agora, o laudo não foi informado aos parentes de Sebastiana. Aline recebeu o diagnóstico da doença após pagar pelo exame.
Na casa da autônoma Edilma Antunes, 32 anos, ela; o marido, Douglas Alves, 34, e a mãe, Zilda Maria, 59, tiveram Covid-19. Os três conseguiram se recuperar da doença. “O intervalo entre o oitavo e o décimo dia foi o pior. Nesses dias, só consegui dormir fazendo uso de bombinha”, disse Edilma, que foi diagnosticada em consulta no hospital da Hapvida no Derby. “É impressionante como, ao completar 14 dias, nos casos de quem não teve agravamento, como foi conosco, os sintomas se vão”, afirmou.
Para ser considerado curado da Covid-19, de acordo com o infectologista Demetrius Montenegro, é preciso completar o ciclo de 14 dias da doença mais três dias sem sintomas. Quando o paciente não tem complicações e não apresenta os sintomas nesse período, é considerada cura clínica. Caso o paciente precise ir para a UTI e tenha complicações, mesmo completando 14 dias, só será considerado recuperado quando todas as complicações forem resolvidas.