Dinossauro mais antigo do Nordeste encontrado em PE Pesquisadores da UFPE estudam fóssil achado no Sertão; espécie pode ter vivido há mais de 200 milhões anos

Publicação: 04/08/2022 06:00

Pesquisadores da Universidade Federal de Pernambuco encontraram o fóssil do dinossauro mais antigo já descoberto na região Nordeste do Brasil. A vértebra foi descoberta ainda em 2019, e os pesquisadores achavam que era o fóssil de crocodilo. Somente agora foi possível identificar que se trata do osso de um Dilofossauro. O fóssil foi encontrado próximo ao município de Ibimirim, no Sertão de Pernambuco, em uma região de rochas conhecidas como Formação Aliança. Essa formação data do período Jurássico, auge da era dos dinossauros.

A Formação Aliança já tinha sido definida anteriormente por outros pesquisadores como do período Jurássico, mas, até então, nenhum fóssil de dinossauro tinha sido encontrado no local. Este foi o primeiro. “É uma alegria encontrarmos esse fóssil que reforça a idade da Formação Aliança, passando a abranger do Jurássico Superior (que vai de 163,5 a 145 milhões de anos) para o Jurássico Médio (de 174,1 a 163,5 milhões de anos, em valores arredondados)”, disse o professor Gelson Fambrini, que, além da coorientação, fez a descrição da idade do fóssil.

De acordo com o professor Édison Oliveira, ainda é necessário que mais escavações sejam feitas para que encontrem mais partes do mesmo dinossauro ou de outros organismos jurássicos no mesmo estrato rochoso e, assim, possam confirmar que a vértebra seja mesmo de um dilofossauro. Entretanto, foram realizadas medições e comparações entre ela e uma de um dilofossauro que foi encontrado nos Estados Unidos, e a conclusão é que são muito similares. A pesquisa de campo continua.

O resultado foi publicado na revista científica Journal of South American Earth Sciences. Os pesquisadores ainda não usaram datação radiométrica na rocha onde a vértebra foi encontrada, por ser um processo muito caro, mas a expectativa é que, com essa importante descoberta, novos financiamentos sejam obtidos.

Se for confirmada a hipótese, a vértebra pode ser identificada como pertencente ao grupo de dinossauros primitivos e raros, os neoterópodes basais. Até hoje só foram encontrados esses fósseis nos Estados Unidos, Antártica e África do Sul.

De acordo com Oliveira, uma outra hipótese a ser avaliada na dependência de novas coletas de outros fósseis é que a Formação Aliança poderia ser ainda mais antiga, chegando até o Jurássico Inferior (201,3 a 174,1 milhões de anos).

A Formação Aliança surgiu um pouco antes da separação do Brasil e da África, quando gerou uma depressão nessa região (local rebaixado em comparação ao seu entorno), que vai do sul da Bahia até o sul do Ceará, e nesse lugar culminou em um grande lago que tinha fauna continental endêmica (pertencente apenas àquele local) e animais terrestres que eram atraídos pra lá para beberem água. Nesse lago, foram se depositando várias rochas ao longo dos anos, em que se originou a Formação Aliança.

Esse é o primeiro dinossauro encontrado na Formação Aliança, mas já é o terceiro do estado de Pernambuco. O primeiro de Pernambuco foi encontrado em Araripina, por volta de 1960, e era do Cretáceo; o segundo foi encontrado em 2021, na Formação Sergi, em Petrolândia, era no final do Jurássico Superior.

BÍPEDES
Os dilofossauros eram bípedes, carnívoros, de tamanho médio e faziam parte da família dos terópodes, grupo que deu origem às aves. Dilofossauro quer dizer “lagarto de duas cristas” e pode-se ver uma representação dele no filme de aventura e ficção científica estadunidense “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros” (Jurassic Park, filme de 1993), dirigido por Steven Spielberg, como uma espécie pequena (do tamanho de uma pessoa) que abre um tipo de barbatana retrátil em volta do pescoço e solta veneno. Uma reportagem da revista National Geographic mostra que não era bem assim.

De acordo com o paleontólogo do Parque Nacional da Floresta Petrificada no Arizona, nos EUA, Adam Marsh, publicada no periódico Journal of Paleontology, nem o veneno nem a barbatana retrátil no pescoço que aparecem no filme têm base em evidências fósseis. Esses mecanismos poddiam ser usados para chamar a atençã pra atrair parceiros sexuais ou intimidar rivais. (Da Agência UFPE)