Raquel Lima
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Publicação: 10/12/2014 03:00
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Peter Jackson tinha apenas um ou dois filmes realmente comentados no currículo aos 40 anos: o primeiro longa, Náusea total, um trash exibido no Festival de Cannes de 1987, e Almas gêmeas, um thriller de 1994, com uma Kate Winslet pós-adolescente como protagonista. Tudo mudou em 2001. O ano transformou a história do cineasta, roteirista e produtor com o lançamento da trilogia O senhor dos anéis, adaptação de livros do poeta e linguista britânico J.R.R. Tolkien. A estreia de A sociedade do anel também fincou bandeira na indústria do entretenimento ao desenhar um molde cobiçado por muitas produções do porvir.
Quase 14 anos depois, Jackson não só lançou três O senhor dos anéis - As duas torres (2002) e O retorno do rei (2003) -, como também adaptou uma prequência para a saga, intitulada de O hobbit, cuja terceira e última parte, A batalha dos cinco exércitos, estreia hoje, às 21h. O ato de criar cinco filmes de parte do compêndio de Tolkien rendeu ao neozelandês US$ 5 bilhões de bilheteria e 230 indicações a prêmios ao redor do mundo - O senhor dos anéis ostenta 162 troféus ou estatuetas, sendo 17 Oscar, incluindo o de melhor filme, em 2004.
Nem tudo são louros para o cinesta com título de Sir, da realeza britânica, e que acabou de ganhar estrela na Calçada da Fama em Hollywood. Cineastas neozelandeses, por exemplo, reclamam que os filmes que rodou no país eclipsam produções mais autorais e, em se tratando de O hobbit, ainda resta o mimimi dos fãs. O livro que Tolkien escreveu para os filhos John, Michael e Christopher tem cerca de 300 páginas, roteirizadas por Jackson em 474 minutos, mais as versões extendidas. As novas cores dadas a cenas e personagens na empreitada foram rejeitadas pelos puristas.
Independentemente das licenças poéticas, e de como foram recebidas, o fato é que ninguém parece amar tanto a Terra Média, continente fictício onde se passa O hobbit, O senhor dos anéis, O Silmarillion e Os filhos de Húrin, quanto Jackson. Foi dele a obssessão que moveu equipes a criar tecnologias e cenários nababescos, tudo com completa atenção aos detalhes. Sua fascinação não é o bastante para os herdeiros de Tolkien, que pretendem fechar o baú com os direitos dos 15 títulos que J.R.R publicou em vida e das obras impressas após seu falecimento, em 1973. Essa, então, deve ser a última viagem cinematográfica às terras do mestre. “Estradas sempre em frente vão/ Sob copas, sobre pedras a passar”, nas palavras de Bilbo. A não ser que a família mude de ideia ou que Jackson pense em outro jeito de modernizar o passado.
Após duas trilogias, Peter Jackson deixa marca no cinema de entretenimento
Na memória - Cinco importantes contribuições da Terra Média
Câmeras, ação
Todo cineasta que se preze tem um jeito particular de gravar cenas específicas. Não é diferente com o cinema de entretenimento, exceto, talvez pelo orçamento. Peter Jackson é o cara que comprou câmeras especiais e resolveu gravar seus filmes em 48 quadros por segundo (em inglês, FPS). Duplicar o padrão de frames confere mais realismo a sequências de ação. James Cameron anunicou que a sequência de Avatar será gravada na mesma velocidade.
Mexe, mexe
Mesmo que Andy Serkis tenha aparecido apenas por alguns minutos em O retorno do rei, suas expressões faciais e corporais são protagonistas na obra de Jackson. O ator é intérprete de Gollum e principal protagonista da técnica de motion tracking technology ou motion capture (captura de movimentos), tecnologia adaptada com maestria por Jackson para a Sétima Arte. A técnica foi usada, depois de O senhor dos anéis (2001), em longas como Piratas do Caribe: O baú da morte (2006) e Beowulf (2007).
Micro em macro
J.R.R. Tolkien foi um linguista brilhante e tinha um séquito de leitores fervorosos, mas não era bestseller quando Peter Jackson levou sua obra aos cinemas. O completo comprometimento com o texto do inglês na adaptação de O senhor dos anéis aumentou o interesse da indústria por clássicos e ajudou Tolkien a vender. Segundo a Forbes, só em 2009, Tolkien faturou R$ 50 milhões.
Tudo grande
Computação gráfica aliada aos mais clássicos efeitos práticos também marca a obra de Jackson. Tanto que a maioria dos grandes cenários vistos em O senhor dos anéis e O hobbit foi, de fato, construído. A cidade de Edoras foi erguida e demolida como se nunca tivesse lá estado. A Nova Zelândia virou um gigante estúdio e passou a ser locação cobiçada de filmes, como O último samurai (2003), King Kong (2005) e X-Men origens: Wolverine (2009).
Sem celebridades
Filmes com grande orçamento costumam ter o apoio de atores de peso na bilheteria. A celebridade de A sociedade do anel era Elijah Wood, que, até então, tinha Flipper (1996) como um dos destaques da carreira. Nomões como Cate Blanchett e Christopher Lee só aparecem como coadjuvantes. Jackson confirmou ser possível rodar produções caras sem celebridades.
A arte da guerra
O hobbit: A batalha dos cinco exércitos é, dentre os longas da nova trilogia de Peter Jackson, o que mais se parece com os três filmes da saga anterior, O senhor dos anéis. O neozelandês lembra ao mundo, nos 144 minutos do título que estreia hoje, o que sabe fazer de melhor: a arte da guerra. Interespécies, para ser ainda mais épica. Orcs, anões, elfos, humanos e animais se digladiam por honra, amizade, sobrevivência, ganância ou instinto - dependendo do personagem. A batalha dos cinco exércitos é tão nostálgico quanto eletrizante. Os cenários grandiosos só aparecem quando estão em processo de destruição. As cenas de luta voltam ao destaque: atenção à sequência com Saruman (Christopher Lee, de 92 anos). O ritmo acelerado não tira o foco dos atores, como prova Martin Freeman (Bilbo). Jackson ainda não se livrou dos clichês, mas se despede (ou diz até breve) com um O hobbit melhor do que quando começou. Nada mais justo.
Serviço
No cinema
Pré-estreia hoje, às 21h. Antes, a Rede Cinemark promove maratona com os dois filmes anteriores: Uma jornada inesperada, às 14h10, e A desolação de Smaug, às 17h40.
Nas livrarias
O hobbit, de J.R.R. Tolkien
(5ª edição, 328 páginas)
Editora: Martins Fontes
Preço: R$ 39,80
Na TV
O hobbit: uma jornada inesperada (2012), no Netflix
O hobbit: A desolação de Smaug (2013), sexta-feira (12), às 21h, no Telecine Premium. Reprise no domingo(14), às 16h20