Júlio Cavani
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Publicação: 25/02/2016 09:00
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Filme é inspirado em livro homônimo e releitura da obra da escritora Jane Austen |
Uma ideia tão extravagante, naturalmente, não poderia ser levada muito a sério. Orgulho e preconceito e zumbis é uma combinação entre duas formas de paródia e pode ser classificado como uma comédia romântica de terror (algo já testado em Meu namorado é um zumbi). Os elementos clássicos estão presentes, só que de forma cômica. Os monstros são nojentos, mas servem mais para fazer rir do que para assustar, além de indiretamente impulsionarem casos de amor.
A essência dos filmes de zumbis é respeitada. Há a crítica sobre o egoísmo do comportamento humano e recursos consagrados, como um personagem que questiona o contra-ataque ao propor experimentos com as criaturas (O dia dos mortos, de George Romero, de 1985, é pioneiro nesse aspecto).
Ao mesmo tempo, a graciosidade crítica dos romances de Jane Austen também é respeitada, na medida do possível. Orgulho e preconceito e zumbis preserva os jogos de interesses matrimoniais aristocráticos que serão questionados pelas paixões sinceras. Os personagens e lugares são praticamente os mesmos. A diferença está no contexto monstruoso.
Entre as liberdades poéticas adotadas, a que fica mais exagerada e deslocada é a escolha das artes marciais como principal forma de combate aos zumbis. É verdade que transformar os personagens em mestres do karatê e do kung fu amplia o tom de humor, mas faz a inverossimilhança das situações passar do ponto.
Lily James interpreta a protagonista Elizabeth Bennet. A coragem da personagem, nesta nova versão, é realçada pelas habilidades de combate (e não apenas pela postura desafiadora dos costumes da época). A escolha é interessante porque a atriz acabou de interpretar Cinderela e já está associada à condição de princesa. A diferença é que ela deixou de ser aquela menina passiva e inocente e agora sabe lutar, matar, decepar, decapitar e explodir cabeças apodrecidas.